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Fonte alternativa

Cidade do País de Gales aposta em energia das marés para fugir da decadência

 | ALEX ATACK/NYT

Das águas salobras e marrons da baía é fácil ver as imagens do passado de Swansea. As torres dos altos-fornos aparecem ao leste na periclitante fábrica de aço de Port Talbot onde os trabalhadores se preocupam com o futuro de seus empregos. O porto de Swansea, que já esteve entre os mais movimentados da Grã-Bretanha, agora lida apenas com tráfego comercial modesto. Em um lamaçal próximo, pescadores locais catam moluscos ao longo da costa do sul do País de Gales, apenas uma lembrança do antes agitado mercado de peixes.

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Um vislumbre do futuro da cidade pode estar sob a superfície da água. Uma empresa local quer construir, ao longo da costa do País de Gales, uma série de imensas represas que vão abrigar dezenas de turbinas de energia hidroelétrica, que aproveitarão as marés da região. Apesar de a tecnologia ainda não ter sido testada, seus proponentes dizem que o projeto poderia gerar grandes quantidades de energia livre de emissões de gases do efeito estufa.

Como outros centros industriais um dia poderosos, Swansea está tentando descobrir um novo motor de crescimento econômico. Se tudo andar como planejado, o projeto poderia rejuvenescer uma economia em queda, criando empregos, atraindo turistas por causa de seu design distinto e incentivando uma renovação urbana.

“Realmente precisamos que algo diferente aconteça. As coisas não podem continuar como estão”, afirma Ashley Jones, cuja família vem catando mariscos na região há seis gerações.

Uma vez chamada de “cooperpolis” por causa de seu papel central no comércio global de cobre, que alcançou seu ápice nos anos 1860, Swansea e a área que a circunda também foram importantes na mineração de carvão e na produção de aço. Mas décadas de competição internacional, mais recentemente com a China, tornaram a situação da cidade difícil.

O projeto da barragem, administrado pela empresa Tidal Lagoon Power, pode oferecer algum alívio.

A empresa está pressionando para realizar um projeto de 1,3 bilhões de libras (US$ 1,6 bilhões) que pretende construir um muro circular de dez quilômetros ao longo da costa, fechando uma parte da Baía de Swansea. A área foi escolhida por causa de suas águas calmas e rasas, assim como pelo enorme fluxo de marés que podem ser uma armadilha para os incautos, mas que têm um imenso potencial para gerar força elétrica. Em certas ocasiões, portões embutidos nos muros se fechariam, deixando as marés se acumularem e depois se abririam para permitir que a água represada passasse pelas turbinas gigantes.

Embora a solar e a eólica sejam formas mais estabelecidas de energia renovável, a de marés, de certa forma, possui um grande potencial.

As fontes de sol e de vento aumentam e diminuem em termos de geração de energia por causa das mudanças do clima e das condições de iluminação, gerando dificuldades para a rede, que precisa equilibrar a oferta e a demanda. As marés, ao contrário, são mais consistentes e criam uma fonte de eletricidade mais confiável.

Testes

O projeto de Swansea, que planeja alimentar 155 mil residências, é o primeiro de uma série de programas de energia verde – no valor total de 40 bilhões de libras – que a empresa está promovendo em todo o país.

Se o projeto for bem sucedido, a Tidal Lagoon Power espera poder reproduzi-lo em vários lugares. Outro sistema de energia de marés proposto, para a capital do País de Gales, Cardiff, seria comparável em capacidade a uma usina nuclear, fornecendo eletricidade suficiente para 1,4 milhões de casas, ou todo o país de Gales.

Na melhor das hipóteses, os benefícios se estenderão além da geração de energia.

Um caminho ao longo do muro destina-se a atrair entusiastas do esporte e promover o turismo. Há também um plano para uma renovação urbana, focado no centro de visitantes em formato de ostra e em exibições de arte local na barreira costeira, incluindo um grande dragão – o símbolo do País de Gales.

Milhares de empregos seriam criados, tanto direta quanto indiretamente.

O projeto representa a chance de deter “40 anos de declínio”, afirma o executivo chefe da empresa, Mark Shorrock.

Esse é o argumento que aqueles que apoiam o plano de Swansea têm usado para convencer os poderosos. Por causa de seu tamanho, o projeto precisa da aprovação do governo britânico em Londres e provavelmente da primeira ministra Theresa May. Nas próximas semanas, um ex-ministro deve publicar um relatório sobre a viabilidade da tecnologia na Grã-Bretanha.

Por enquanto, Shorrock e seus colegas estão esperançosos.

Theresa May já disse que quer resolver as dificuldades econômicas, e seu governo identificou projetos de infraestrutura de larga escala como tendo o potencial de compensar os efeitos negativos da votação da Grã-Bretanha em junho para deixar a União Europeia.

Até agora, o plano parece ter conseguido apoio local, principalmente por causa da promessa de postos de trabalho.

Empregos

O projeto de Swansea criaria 2.200 empregos diretos, com a empresa prometendo que pelo menos metade de seus gastos permaneceriam no País de Gales e 65% no Reino Unido. Indústrias dependentes, como a fabricação de aço e fazendas de criação de peixes, também se beneficiariam.

Enquanto o projeto espera a aprovação, a Tidal Lagoon Power está reunindo investidores – como o fundo de infraestrutura InfraRed Capital Partners, com base em Londres, que quer colocar nele mais de 100 milhões de libras – e fornecedores, que vão de pequenas empresas locais a gigantes como a General Electric.

A General Electric, que gastou 3,5 anos desenvolvendo suas propostas para a lagoa de Swansea, vê o projeto como um caso-teste para uma nova tecnologia promissora e que pode ser exportada para todo o mundo.

“É uma oportunidade significativa para criar uma indústria capaz de abrir um mercado global”, afirma Mark Elborne, chefe da General Eletric no Reino Unido.

Essa é a esperança. A realidade é mais complexa.

Como acontece com a maior parte das novas tecnologias de energia renovável, o plano de Swansea requer um valor garantido pela eletricidade. Na verdade, esse é um subsídio que o governo promete pagar pela força gerada. O número, em teoria, iria diminuir à medida que o projeto se tornasse mais economicamente viável.

A Tidal Lagoon Power está mirando em um valor garantido de cerca de 90 libras por megawatt/hora. Embora comparável com o que o governo aprovou para a nova central nuclear de Hinkley Point (por si um assunto conturbado), e menor do que o que autoridades concordaram para alguns projetos marítimos de energia eólica, é quase o dobro do preço atual da energia.

O legado do declínio da base industrial da região também complica as coisas, porque cria um desajuste nos empregos.

Há falta de trabalhadores com habilidades cruciais, e os empreendedores locais dizem que encontrar soldadores, fabricantes de metal e outros funcionários necessários para construir a lagoa de Swansea será difícil. A Tidal Lagoon Power está trabalhando com institutos locais e com o governo do País de Gales para garantir a disponibilidade de treinamento apropriado.

“Temos uma grande escassez de pessoas com essas habilidades”, afirma David Kieft, que administra uma companhia de contratação de eletricidade com sede em Swansea.

Para os moradores de Swansea, no entanto, há poucas opções.

Saboreando uma cerveja noturna em um iate clube da cidade, Nick Revell se lembrou de uma série de negócios que fecharam as portas recentemente. Revell, que emprega várias centenas de soldadores e outros trabalhadores do setor metalúrgico em sua empresa de aço, vê problemas à frente se o plano for vetado.

“A não ser que algo assim aconteça, veremos muitos outros negócios fechando”, diz ele.

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