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Setor elétrico

De 2011 a 2015, Brasil desperdiçou energia suficiente para um ano de consumo

 | Brunno Covello/Gazeta do Povo/Arquivo
(Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo/Arquivo)

Em pouco mais de um ano, o fantasma do racionamento deu lugar ao excesso de oferta de energia elétrica. Nos dois casos, contudo, o Brasil desperdiçou muito do que foi gerado. Nos últimos quatro anos, o país “jogou fora” eletricidade suficiente para suprir sua demanda durante um ano inteiro, considerando a média de consumo nacional.

De 2011 a 2015, 462,2 mil gigawatts/hora (GWh) foram perdidos no caminho entre as unidades produtoras e os usuários, ou nos próprios pontos de consumo, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A soma equivale à média consumida a cada ano no país.

Um levantamento recente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) indica que, somente a redução do desperdício no Brasil garantiria economia de até 27% na fatura energética de residências e indústrias até 2030.

“Somos um país que não valoriza a racionalização dos insumos. Jogamos fora alimentos, água e também dinheiro, com os altos tributos que pagamos. O gasto com a energia, infelizmente, é mais um dos desperdícios”, defende Alexandre Moana, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação e Energia (Abesco).

Cálculos da entidade sugerem que a perda de energia no país produza prejuízos econômicos na ordem de R$ 12,6 bilhões ao ano. Segundo a Abesco, ainda, o maior potencial de economia está nas casas dos brasileiros. “Uma redução de 15% no uso da eletricidade poderia acontecer com a adoção de medidas simples, como desligar as luzes ou reduzir o uso do chuveiro elétrico e do ar-condicionado, por exemplo”, diz Moana. O porcentual é maior que nos setores industrial e comercial, com possibilidades de redução de, respectivamente, 6,2% e 10% e 11%.

Para especialistas do setor, são diversos os fatores responsáveis pelo índice, mas, entre os principais, estão a distância entre as usinas produtoras e o usuário, falhas técnicas nas redes de transmissão, equipamentos obsoletos e os furtos de energia. “Os problemas na etapa de distribuição são chamados técnicos. As perdas comerciais, por outro lado, são motivadas por furtos e fraudes, erros nos processos de faturamento da tarifa elétrica ou falta de hábitos para economizar”, resume Jamil Haddad, coordenador do Centro de Excelência em Eficiência Energética. O desperdício nas unidades consumidoras – sejam indústrias, comércios, setores públicos, área rural ou residências – também engrossam o desperdício.

Segundo Pietro Erber, diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética, investimentos nas redes de distribuição podem mitigar as perdas comerciais ao controlar roubos de eletricidade e garantir mais inteligência ao uso do insumo. “Com as smart grids, as concessionárias e os usuários têm mais informações sobre o consumo, em cada momento e, com isso, passam a gerir com mais eficiência a carga elétrica”, diz.

A geração distribuída, defende ele, é outro caminho para a redução de perdas no trânsito energético. “O que é produzido em uma unidade consumidora é utilizado por ela mesma. Apenas o excedente é compartilhado com a rede, que devolve a porção como crédito na próxima fatura”, reforça. Para o diretor, o crescente abandono de equipamentos obsoletos ou mal regulados por consumidores e, principalmente, pela indústria, já incentivado por programas governamentais, também contribuem com a redução do problema.

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