A crise econômica freou o ritmo de investimentos das companhias em redes inteligentes de distribuição de energia, mas não tirou o ânimo da Landis+Gyr, especialista em sistemas de medição para o setor. A multinacional de origem suíça, controlada pela japonesa Toshiba, mantém a expectativa de crescer de 10% a 15% ao ano no Brasil ao longo dos próximos cinco anos de olho na retomada do crescimento.
Para crescer dois dígitos, a Landis+Gyr, com faturamento global de US$ 1,56 bilhão, reforça seu objetivo de oferecer a solução completa em “smart grids”. Isso inclui vender não apenas medidores inteligentes, mas entregar um pacote completo com software, instalação, operação e manutenção de todo o sistema.
Nesse contexto, a fábrica brasileira da multinacional, na Cidade Industrial de Curitiba, tem um papel crucial na expansão das atividades da empresa. Com 300 funcionários e capacidade para produzir 3,5 mil medidores por dia, é dali que estão saindo equipamentos e soluções para projetos dessa natureza em todo o Brasil e América do Sul, com projetos piloto na Argentina, Bolívia e Colômbia.
Por enquanto, o maior em andamento é o da distribuidora carioca Light. Fechado em setembro de 2014, o contrato de R$ 750 milhões prevê o fornecimento de 1,1 milhão de medidores eletrônicos, além de toda a rede de comunicação inteligente, até 2019. Até agora, foram entregues 350 mil pontos.
Além deste, a empresa também mantém projetos em desenvolvimento com as companhias de energia do Rio de Janeiro (Ampla), Ceará (Coelce) e Pará (Celpa), o mais recente com previsão de instalação e integração de medidores em 25 mil clientes da distribuidora paraense.
O fato de o Brasil estar engatinhando nesta área, comparando ao que existe na Europa e nos Estados Unidos em aplicação de medição inteligente, indica o tamanho do potencial existente aqui, afirma Marcelo Machado, CEO da empresa para a América do Sul. Hoje, o Brasil responde por 10% do faturamento global da empresa. Na regional “Américas”, a operação brasileira só está atrás dos Estados Unidos, que soma 65% do faturamento total do grupo em função dos investimentos massivos em redes inteligentes.
Hoje, a maioria das distribuidoras brasileiras possui apenas projetos experimentais em redes inteligentes, mas essa já é uma tendência em outros países. “O futuro tem medição inteligente integrada de água, gás, energia, iluminação pública, dispositivos de controle de tráfego. A viabilidade de um sistema como esse aumenta à medida que você incorpora outras soluções”, diz Machado.
Contrapartida tarifária
É um mercado que vai acabar se consolidando naturalmente porque contribui para a busca por eficiência das distribuidoras de energia, acredita o CEO da Landis+Gyr. Ao ter dispositivos que se comunicam com a central da distribuidora, fornecendo informações do consumo e da rede em tempo real, o sistema traz ganhos operacionais e de eficiência para as empresas, que conseguem gerenciar e combater as perdas de energia, recuperando receita.
Outro aspecto, segundo ele, é a possibilidade de automação das redes de distribuição. Além de obter informações desses dispositivos, é possível acioná-los e interagir com eles remotamente. Nesse sistema, o cliente residencial também consegue acompanhar, em tempo real, a evolução do consumo e do gasto com energia, sem surpresas na tarifa.
Mas, para que essa tendência se concretize por aqui, as regras para aplicação desse tipo de tecnologia precisam avançar no país. “Hoje a tecnologia está na frente das questões regulatórias”, diz o CEO da Landis+Gyr. Não há, por exemplo, um processo de reconhecimento tarifário dos investimentos feitos em redes inteligentes e, principalmente, dos benefícios disso para o sistema elétrico.