Uma parceria recente entre a empresa brasileira Sunlution e a francesa Ciel & Terre International promete encher os reservatórios das nossas hidrelétricas de painéis solares. Dona da tecnologia para usinas fotovoltaicas flutuantes, a fabricante francesa está se instalando no Brasil para atender a esse mercado por meio da criação de uma joint venture com a empresa brasileira. Os flutuadores – sobre os quais são acoplados os painéis solares – serão produzidos em Camaçari, na Bahia. Somado, o investimento na fábrica e para capital de giro soma R$ 35 milhões.
Geração híbrida
Tendência mundial, a geração híbrida de energia se dá por meio de duas fontes produtoras que utilizam a mesma infraestrutura para produzir eletricidade – neste caso, a hídrica e a solar. Ao aproveitar subestações e linhas de transmissão que estão ociosas, as usinas solares flutuantes têm reduzido o seu custo de instalação do sistema, o que tende a baratear a conta de energia do consumidor final, além de aumentar a segurança energética. Com a complementação solar, também é possível reduzir a dependência das termelétricas em períodos de estiagem, com impacto positivo sobre o custo da energia.
Líder de um mercado em expansão na Europa e na Ásia, sobretudo no Reino Unido e no Japão, a empresa francesa desembarca no país com o objetivo de fornecer flutuadores para as áreas de saneamento básico, agricultura irrigada e reservatórios de hidrelétricas. Neste caso, as usinas solares flutuantes usam parte da infraestrutura hidráulica ociosa de subestações e linhas de transmissão para gerar e escoar a energia.
Segundo Orestes Gonçalves, sócio-diretor da Sunlution, responsável pelo desenvolvimento do produto aqui, trata-se de um sistema com ganhos para ambos os lados. “Muitas usinas estão com capacidade ociosa e poderíamos aproveitar para produzir energia solar com um custo de instalação do sistema bastante reduzido.” Em contrapartida, estudos mostram que os flutuadores ajudam a reduzir em até 70% o nível de evaporação da água. “Na agricultura, isso permite que o agricultor eleve em até 25% o volume de água disponível para a produção agrícola”, destaca.
A água também contribui decisivamente para aumentar a produtividade das placas solares. O painel funciona por meio da radiação solar e não do calor, ou seja, a umidade ajuda a reduzir a temperatura das placas, aumentando a sua eficiência.
Embora não fabrique os painéis solares, a Ciel e Terre Brasil vai vender a solução completa. Os flutuadores vão sair da fábrica já com os painéis instalados e a montagem e ancoragem das usinas será feita no local. A construção de novas fábricas em outras regiões do país está no radar da empresas.
Resistência
As usinas solares flutuantes são ancoradas nos lagos e reservatórios onde são instaladas. A tecnologia resiste a ventos de até 210 km por hora e ondas de até 1,5 metro, requisitos exigidos por mercados no exterior que acabam agregando valor ao produto aqui também.
Pioneiras
Com a instalação da fábrica na Bahia, a união do potencial hídrico ao solar para a geração híbrida de energia promete ganhar fôlego no Brasil. Lagos de duas hidrelétricas brasileiras já começaram a receber os painéis flutuantes.
Com 2 mil km² de extensão, o reservatório da hidrelétrica de Balbina, no município de Presidente Figueiredo, no Amazonas, foi o primeiro a gerar uma pequena porção de energia solar a partir da nova tecnologia. Até 2017, a usina solar flutuante terá 20 mil placas fotovoltaicas e vai suprir o consumo de 9,5 mil famílias, consolidando um investimento de R$ 55 milhões no projeto. “Foi o primeiro projeto dentro de um lago de uma hidrelétrica no mundo”, destaca Gonçalves.
Outra hidrelétrica a receber as placas solares flutuantes foi a de Sobradinho, na Bahia. Em ambas, os painéis solares terão capacidade para gerar 5 megawatts (MW) de energia quando totalmente concluída a instalação.
Os flutuadores podem cobrir integralmente a superfície de lagos artificiais, como açudes ou reservatórios de água potável. No caso das hidrelétricas, contudo, a cobertura é limitada à otimização da infraestrutura ociosa, que, em geral, não passa de 10%. “O lago da usina de Sobradinho tem 4,2 mil km². Cobri-lo com painéis flutuantes seria o mesmo que ter potencial para gerar metade da demanda do país”, detalha Gonçalves.
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