Castigadas pelo aumento do preço da energia nos últimos três anos, as pequenas e médias empresas estão abandonando as concessionárias e migrando em massa para o mercado livre de energia.
De janeiro de 2015 para cá, o número de consumidores saltou 81%, considerando as migrações já agendadas para o segundo semestre, que devem resultar em mais de 3.220 consumidores até o fim deste ano – hoje são 2.262. Atualmente, o mercado livre recebe, em média, 100 novos clientes por mês. Nesse ritmo, o número de empresas que negociam a própria energia deve dobrar até o final de 2017, avalia Rafael Carneiro, head de Energia da XP.
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Desde que foi criado há 18 anos, esta é a segunda grande onda de migração de consumidores comerciais e industriais para este ambiente de negócios. A primeira ocorreu após o racionamento de 2001, puxada, principalmente, pelas empresas eletrointensivas.
Desta vez, o movimento é liderado por pequenas e médias empresas em fuga das altas tarifas do mercado cativo. “A elevação dos custos do mercado regulado combinada ao momento econômico desfavorável está forçando as empresas a buscarem o mercado livre, que hoje é um mercado sólido e muito atrativo”, afirma Carneiro.
Em pouco mais de um ano, o preço da energia negociada no mercado livre caiu, em média, 80% para cerca de R$ 80 o MW no curto prazo, impactado pela queda no consumo de eletricidade, recuperação do nível dos reservatórios e entrada em operação de novos empreendimentos de geração que elevaram a oferta. Atualmente, o consumidor pode ter, em média, de 25% a 30% de economia na conta de energia em relação às tarifas cobradas no mercado regulado.
Liberdade de escolha
Em alguns países, até os consumidores residenciais têm a opção de escolher de quem vão comprar a energia que consomem. É o caso da Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Austrália e Coreia do Sul. Nos Estados Unidos, em 22 estados os consumidores são livres para escolher seu fornecedor de energia. No Texas, por exemplo, o consumidor pode acessar no site uma lista de geradoras e comercializadoras de energia aptas a atender a sua residência. Além de preço, tempo do contrato e ciclo de pagamento, o consumidor pode escolher o porcentual de fontes renováveis que vai consumir. Também pode trocar de fornecedor se assim preferir. Nestes casos, as distribuidoras atuam apenas no gerenciamento da rede de distribuição.
A queda no preço da energia é o principal motivo da migração em massa das empresas, mas não é o único. O consumidor livre deixa de pagar as tarifas de energia fixadas pelo governo e passa a negociar contratos de fornecimento diretamente com geradores ou comercializadoras, com preço, prazo e índices de reajuste previamente combinados, explica Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc. “Isso dá previsibilidade de custo ao consumidor, que já sabe quanto vai pagar pela energia durante a vigência do contrato, sem surpresas no final do mês”.
Busca por fonte renováveis é a que mais cresce
Com uma boa gestão da conta, quem vai para o mercado livre dificilmente volta para o cativo. Hoje, o ambiente de contratação livre concentra 25% de todo o consumo de energia do país, mas tem potencial para 48%, segundo a Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel). O maior índice de crescimento é o de consumidores especiais – com demanda entre 500 kW e 3.000 kW – que contratam eletricidade gerada por fontes renováveis de energia , como eólica, solar, biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). A participação desse grupo deve passar dos atuais 3% para 16%.
Já os consumidores livres eletrointensivos, que hoje respondem por 22% do mercado, crescem em um ritmo menor, mas podem elevar sua participação a 29% até o final deste ano. De acordo com a Abraceel, apenas 15 mil das 330 mil indústrias brasileiras com potencial estão no mercado livre. Em relação ao consumo, o impacto dessa onda de migração tende a ser menor, já que 60% desses clientes consomem até 500 kW.
Rede Deville projeta economia de R$ 1,8 milhão com migração
Em busca de economia, a rede de Hotéis Deville engrossou o movimento de migração de empresas para o mercado livre de energia. Após nove meses do início do processo, oito dos nove hotéis da rede passaram, desde o início de julho, a ter sua demanda energética suprida pelo mercado spot, por meio de um contrato de quatro anos e meio com a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL Energia). A última unidade – a de Curitiba – está em fase final de migração.
Entre a elaboração e execução do projeto, além de custos com materiais e mão de obra, a rede investiu em torno de R$ 300 mil para levar seus hotéis para o mercado livre, mas estima que a mudança permitirá uma redução de custo anual estimada em R$ 1,8 milhão, considerando a vigência da bandeira verde. “Em um cenário de bandeira vermelha, a economia pode chegar a R$ 2,5 milhões”, detalha o gerente de Manutenção e Patrimônio da Rede Deville, Alan Nogueira dos Santos. Em termos porcentuais, a economia chega a 37%.
Além de consumir apenas energia de fontes renováveis, a ida para o mercado livre permitiu que empresa aposentasse os geradores a diesel, que eram usados três horas por dia, todos os dias, no horário de pico. Segundo maior custo da rede, atrás apenas das despesas com a folha de pagamento dos funcionários, a energia consome cerca de 5% da receita total da empresa, custo que agora deve recuar. “Comprar energia no mercado cativo custaria quase o dobro do que pagamos agora por cada megawatt-hora. É uma conta que o investidor precisa olhar”, diz Santos.
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