Nada de carvão ou gás natural. Em pouco mais de duas décadas, os painéis solares poderão ser a principal fonte de energia no mundo. No ritmo atual de crescimento, a fatia de energia fotovoltaica na capacidade de geração mundial deve saltar dos atuais 4% para cerca de 30% em 2040. Até lá, 15% de toda a energia consumida no mundo virá do sol.
A necessidade de reduzir emissões combinada à queda no preço da tecnologia é apontada como fator determinante para a expansão não apenas da energia solar, mas também da eólica. Mesmo em países sem qualquer tipo de subsídio, o custo da energia eólica onshore deve cair mais 41%, enquanto o preço da energia solar será reduzido em 60% nos próximos 25 anos, segundo previsão da Bloomberg New Energy Finance (BNEF). Juntas, essas fontes serão responsáveis por 64% da nova capacidade de geração mundial até 2040, capitaneando a maior parte dos investimentos.
Mais do que uma previsão, o estudo aponta uma tendência, afirma Lilian Alves, líder da BNEF na América Latina. “A principal mensagem dele é que sairemos de um modelo apoiado nos fósseis para um modelo apoiado em renováveis como solar, eólica e baterias. O maior exemplo dessa tendência foi o ano de 2015, que registrou recorde de instalação de fontes renováveis, apesar do preço baixo do petróleo”.
O avanço das fontes renováveis é um caminho sem volta. De acordo com o relatório do BNEF, nem mesmo a queda do preço do carvão e do gás natural será suficiente para barrar a expansão das fontes alternativas. Dos US$ 11 trilhões em investimentos previstos em energia para os próximos 25 anos, apenas US$ 3,2 milhões serão gastos em combustíveis fósseis. Surpreendentes US$ 7,8 trilhões serão aplicados em energia renovável. Em 2040, mais de 10% da capacidade de geração global será de geração solar distribuída, embora em alguns países esta quota será significativamente maior.
Metade dos recursos investidos virá da Ásia. Só a China deve capitanear US$ 2,8 trilhões em novos investimentos, com 73% da nova capacidade provenientes de fontes renováveis. Mas nos próximos cinco ano ainda veremos a China acrescentando quase 190 GW de usinas de carvão. O país asiático deve atingir seus picos de nova capacidade de carvão em 2020, e de geração de energia por meio de carvão em 2025.
A partir daí, as fontes renováveis devem ser predominantes, não apenas na China, mas em vários outros países. Segundo a BNEF, o ano de 2027 ficará marcado como o ponto de inflexão no cenário energético, quando a energia eólica e solar começam a ficar mais baratas do que o carvão e o gás natural.
Renováveis e fósseis disputam espaço
O boom global de fontes renováveis é um grande passo em direção a uma matriz mais limpa, contudo, não será suficiente para tirar de cena os combustíveis fósseis. De acordo com o estudo do BNEF, eles manterão uma participação de 44% na geração em 2040 – em comparação com dois terços em 2015. Cerca de 963 GW de nova capacidade a carvão ainda serão adicionados até 2040 quase que exclusivamente em países em desenvolvimento, com políticas de mudanças climáticas fracas ou ainda por implementar. Enquanto a geração de energia com carvão despenca na Europa, China e Estados Unidos até 2025, o consumo global do combustível fóssil cresce cerca de 7% em mercados emergentes como a Índia e países da África e Sudeste Asiático, sobretudo em função da queda do preço. O gás natural, por exemplo, deverá ser o combustível de transição da matriz nos Estados Unidos.