Na manhã da última quarta-feira, o IBGE divulgou números nada alvissareiros sobre a inflação, que começou o ano ainda mais forte do que se esperava. Horas depois, à noite, a presidente Dilma Rousseff anunciou em cadeia de rádio e tevê que a redução na conta de luz não apenas seria mais forte que a anunciada em setembro, mas também ocorreria mais cedo, no dia seguinte ao pronunciamento.
O objetivo maior do desconto adicional parece ter sido o de reverter semanas de noticiário desfavorável na área de energia. Mas a medida também reforçou a impressão de que o Planalto está mais preocupado com o ritmo da inflação. E o "pacote elétrico" terá, de fato, papel importante no controle de preços.
Pelas contas de Lucas Dezordi, economista-chefe da Inva Capital e coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo, a redução da tarifa vai "tirar" cerca de 0,6 ponto porcentual do IPCA de 2013, que, assim, deve terminar o ano em torno de 5,42% quase um ponto acima do centro da meta (4,5%), mas ainda abaixo do teto (6,5%).
Em setembro, quando o governo anunciou o desconto pela primeira vez, grande parte do mercado esperava um impacto favorável de 0,5 ponto, mas esse benefício vinha sendo "corroído" pelo uso intenso de termelétricas.
Que impacto a queda da tarifa deve ter sobre a inflação?
Deve tirar em torno de 0,6 ponto porcentual do IPCA no acumulado do ano. Cerca de 75% do IPCA é formado por preços livres, que seguem a dinâmica de oferta e demanda. Os 25% restantes são os preços administrados plano de saúde, gás, combustíveis, energia, transporte urbano, etc. Com a redução da tarifa de eletricidade, os administrados vão subir bem menos. Sem o desconto, projetávamos alta de 6,23% nos preços livres e de 5,46% nos administrados, o que faria o IPCA fechar o ano em 6,04%. Com queda na energia, os administrados devem subir 3%. Assim, o IPCA cheio tende a terminar o ano em torno de 5,42%.
Em setembro, o governo anunciou um desconto de 16% para a energia elétrica residencial. Mas chegou a 18%, exigindo mais subsídios do Tesouro. Isso reflete uma preocupação maior com a inflação?
Sem dúvida. Na minha percepção, o governo já tinha identificado, em setembro ou outubro, uma pressão sobre os preços livres, que vinha principalmente da alta dos alimentos. Mas ele achou que essa pressão seria temporária, e na verdade ela tende a ser mais persistente, ainda mais se economia estiver retomando o crescimento. Os últimos números são bem preocupantes. Eu projetava que o IPCA fecharia 2012 em 5,71%, mas, com a forte alta de dezembro, terminou em 5,84%. Depois do que vimos no IPCA-15 de janeiro, o IPCA cheio deste mês pode chegar a 0,81%, o que levaria a inflação acumulada em 12 meses a 6,10%. É uma pancada.
O governo se descuidou?
Acho que ele estava subestimando um pouco a inflação. Se eu fosse o Banco Central, a Selic [taxa básica de juros] estaria em 8%, e não em 7,25%. Eu subiria o juro.
O Banco Central ainda persegue a meta de inflação de 4,5%?
Para mim, ele abandonou os 4,5%, e tem buscado 5,5%. O que eu acho um erro. No longo prazo, permitir que a inflação persista nesse nível é perder competitividade externa, perder eficiência. Uma inflação nesse nível reflete uma economia guiada pelo excesso de demanda. Economias com crescimento sustentável e inflação baixa são mais direcionadas pela dinâmica da oferta. São baseadas em inovação, educação, produtividade, eficiência, boas instituições, respeito aos contratos. O que vemos no Brasil hoje é exatamente o contrário inflação alta e crescimento baixo.
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