O atoleiro econômico em que está o Brasil, com um escândalo de corrupção que não para de crescer e a mais longa e profunda recessão em pelo menos um século está produzindo uma era sem precedentes de reestruturações de dívidas corporativas no país.
A farra de empréstimos na qual as empresas brasileiras embarcaram durante a expansão econômica do país, no início desta década, transformou-se em fonte de preocupação em um momento em que milhares de manifestantes tomam as ruas e o Congresso se inclina em favor do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Os emissores internacionais do país tinham US$ 293 bilhões em títulos em circulação no fim de dezembro, contra US$ 90 bilhões no fim de 2002, segundo o Banco de Compensações Internacionais. O acesso ao capital evaporou, obrigando empresas como a construtora OAS e a trader de commodities Ceagro Agrícola a reestruturarem. A operadora de telefonia celular Oi contratou a PJT Partners para avaliar o que fazer com sua dívida. As dívidas da Gol e da Usiminas são negociadas com desconto equivalente a metade de seu valor nominal ou mais e os investidores especulam qual empresa será a próxima.
Escritórios de advocacia como Dias Carneiro Advogados estão contratando para fazer frente à demanda por serviços de assessoria — e ainda não contam com o suficiente para atender a todos. Os clientes estão competindo por atenção para garantir que terão prioridade, disse Renato Franco, sócio da consultoria de reestruturações Íntegra Associados.
“Antigamente, ter muitos clientes era um sinal de competência. Agora é um fator negativo porque os clientes querem ter certeza de que você dará atenção total a eles”, disse Franco.
A dívida brasileira agora responde por 45% do índice de US$ 137 bilhões do Bank of America para bonds distressed de mercados emergentes, contra menos de 10% um ano atrás. Os yields médios das dívidas corporativas brasileiras caíram em relação ao pico do mês passado, de quase 12%, mas ainda estão muito acima de 10%, segundo o JPMorgan.
A recessão econômica está aumentando muito a procura por escritórios especializados em ajudar empresas endividadas. O escritório Dias Carneiro expandiu seu departamento de reestruturações e insolvências em 40% nos últimos 12 meses, para 52 pessoas. E a prática continua crescendo, disse Joel Luis Thomaz Bastos, sócio da empresa com sede em São Paulo.
“A gente percebeu um aumento exponencial no número de consultas a partir de dezembro”, disse ele. “A economia está muito parada e, para retomar o crescimento, se a gente falar de três anos a gente esta sendo otimista.”
O número de pedidos de recuperação judicial das empresas mais do que triplicou, para 155 em fevereiro em relação há um ano, segundo dados da empresa de verificação de crédito Serasa Experian.
A potencial reestruturação da Oi é uma das que são acompanhadas mais de perto por causa de sua dimensão e complexidade. A operadora de linha fixa e telefonia celular contratou a PJT Partners para ajudá-la com sua dívida de US$ 15 bilhões. O negócio da operadora não é sustentável no longo prazo se a empresa continuar sujeita às regras que exigem que concentre seus investimentos no mercado de linhas fixas de telefonia, que está em queda, disse Pedro Bianchi, especialista em reestruturação de dívidas e sócio do escritório Felsberg Advogados.
Em um comunicado enviado na quarta-feira, a Oi disse que está avaliando todas as opções para melhorar sua liquidez e o perfil de sua dívida.
Em dezembro, a construtora OAS conseguiu aprovação para seu plano de reestruturação, concordando em vender sua participação na operadora de aeroportos Invepar para ajudar a pagar os credores. O Ministério Público Federal acusou executivos da OAS e de outras construtoras de pagarem propinas em troca de contratos com a Petrobras. Em novembro de 2014, a polícia prendeu alguns dos executivos mais poderosos do setor.
A Ceagro, trader de commodities brasileira que não honrou um pagamento de juros no ano passado, estava negociando com bancos um pedido de recuperação judicial, reportou a Bloomberg News no fim do mês passado. A empresa com sede em Campinas enfrentou problemas quando caíram os preços do milho e da soja que negocia, ao mesmo tempo em que a desvalorização do real tornava mais cara a importação de fertilizantes e pesticidas para abastecer os produtores.