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Enquanto as grandes economias mundiais usam o corte das taxas básicas de juros como instrumento para aquecer a economia em tempos de crise, o Brasil optou por manter a Selic no mesmo patamar de 13,75% na noite desta quarta-feira (10). Segundo analistas, uma redução da taxa teria pouco efeito para o consumidor.

O professor de Finanças da escola de negócios Ibmec-SP, Carlos Fagundes, explica que é o risco de crédito, maior em períodos de incerteza – em que as empresas têm lucros menores e os trabalhadores estão mais sujeitos ao desemprego –, que define o rumo das taxas de juro ao consumidor.

Ou seja: em momentos como o atual, a tendência dos juros ao consumidor é para cima, com influência limitada da taxa básica de juros. "É um procedimento perverso, (decorrente da) redução da atividade econômica", explica o economista.

Juros em alta

O Procon divulgou na quarta-feira uma pesquisa mostrando que a taxa média para o empréstimo pessoal ficou em 6,25% no início de dezembro, o maior valor desde março de 1999. Para o cheque especial, a taxa ficou em 9,24%, a maior desde junho de 2003.

Esses números evidenciam, segundo o economista Miguel Daoud, da consultoria Global Financial Advisor, um velho problema da economia brasileira: muita gente em busca de crédito e baixa poupança interna.

"Nós não atingimos ainda 20% do PIB (Produto Interno Bruto) em investimentos. O custo do dinheiro representa a lei de oferta e procura e as deficiências estruturais do país, como a má distribuição de renda", explica Daoud.

Ele lembra que, além do risco econômico, existem outros fatores que contribuem para a cobrança de altas taxas de juro do consumidor: os impostos que incidem sobre os empréstimos e o recolhimento de depósitos compulsórios.

Desta forma, diz o economista, a redução da taxa ao consumidor no país estaria mais ligada a decisões do governo federal do que do Banco Central. "Reduzir a taxa de juros dos ‘pobres mortais’ teria de passar por medidas da parte do governo, como a redução da carga tributária e dos compulsórios", ressalta.

Corte da Selic

Segundo Fagundes, do Ibmec, um corte de 0,25 ou 0,5 ponto percentual na Selic, considerado o custo atual do dinheiro, teria um efeito pequeno na vida do consumidor. Entretanto, ajudaria o governo a diminuir seus passivos.

"O efeito mais relevante é nas contas do governo. O governo é liquidamente devedor e boa parte da vida está atrelada à taxa do interbancário. O efeito é relevante para as contas públicas", diz o economista.

O analista da Global Financial Advisor diz que a redução da Selic, em um momento de pressão sobre os juros como o atual, também tem uma função de mudar o humor, a expectativa, dar um norte para o mercado.

Ele lembra, porém, que uma redução da taxa poderia pressionar ainda mais a cotação do dólar, uma vez que pode espantar o estrangeiro que investe no Brasil por conta das altas taxas de juro. Na primeira semana de dezembro, a conta financeira teve déficit de US$ 1 bilhão, segundo dados do BC.

Fagundes, porém, diz acreditar que a redução de juros em outros países anula a fuga de investidores do país, uma vez que a diferença da taxa brasileira em relação às demais continuaria alta mesmo com um corte de 0,5 ponto percentual.

Ele ressalta, aliás, que os juros podem cair no curto prazo: "Não é improvável exista uma manifestação, mesmo que simbólica, de uma pequena redução (no curto prazo). Não é uma impossibilidade prática."

Inversão do quadro

Embora adiantassem que o BC não iria reduzir as taxas de juros ontem, analistas ouvidos no início desta semana pelo G1 disseram que o quadro citado pelo Banco Central para justificar a alta dos juros no primeiro semestre - inflação em alta, consumo e produção em alta - já se dissipou. E os números de instituições importantes já refletem esta tendência.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram uma redução acima do esperado do movimento industrial, de 1,7%, no mês de outubro. Da mesma forma, o número de empregos no setor caiu 0,2% em outubro, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Enquanto isso, a inflação segue perdendo força: o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ficou em 0,38% em novembro, ante 0,98% no mês anterior.

Segundo a FGV, a tendência de queda nos preços continuou no início de dezembro. Na primeira prévia do mês, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede os preços em São Paulo, caiu para 0,28% nas quatro semanas encerradas no dia 5, ante 0,39% do período imediatamente anterior.

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