Mesmo adotando medidas restritivas e fechando brechas para especulação, o Brasil continua sendo uma das poucas economias do mundo com crescimento e taxas de juros atraentes, o que limita o arsenal da equipe econômica para segurar o câmbio. Dados do Banco Central (BC) mostram que, somente em janeiro, ingressaram no país US$ 5,4 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED), alta de 86% frente ao mesmo mês de 2011, quando entraram US$ 2,9 bilhões. Ou seja, o ingresso do que é considerado "capital bom" está contribuindo fortemente para derreter o câmbio.
Já o fluxo cambial na conta financeira (onde são registradas as entradas de dólares para operações em Bolsa e renda fixa) caiu em relação ao ano passado, mas continua positivo em US$ 10,3 bilhões até fevereiro. Por esses motivos, o governo sabe que dificilmente conseguirá segurar a forte entrada de dólares no país em 2012.
Ainda assim, a equipe econômica age em duas frentes. Segundo os técnicos, a ideia é que o BC continue reduzindo as taxas de juros para diminuir os ganhos de arbitragem dos investidores estrangeiros. Ou seja, os ganhos que a atual taxa de juros garante nas aplicações no mercado financeiro. Além disso, o governo continuará a fazer ajustes na legislação, de forma a fechar brechas para a entrada de capital especulativo.
No cardápio da equipe econômica estão novas elevações do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), inclusive para operações com derivativos e compras de dólar, combinando uma ação do BC com o Fundo Soberano (operado pelo Tesouro). No limite, há medidas mais radicais, como a imposição de uma quarentena para o capital estrangeiro que ingressar no país. Mas esta, por enquanto, é considerada pesada demais.
"Não há essa necessidade. O quadro cambial tende a se ajustar", disse um técnico, lembrando que também é preciso dar mais competitividade à indústria nacional.
As restrições ao pagamento antecipado de exportações se deveram ao fato de o governo ter concluído que esses empréstimos acobertavam operações especulativas. Somente este ano, ingressaram no país por meio dessa modalidade US$ 7,8 bilhões, contra US$ 4,4 bilhões no mesmo período de 2011. Na sexta-feira, uma fonte da área avaliou que essa medida teve mais impacto sobre o câmbio que a mudança nas regras do IOF. "Foi uma brecha importante fechada pelo BC."
A equipe econômica considerou positivo o efeito das medidas cambiais anunciadas esta semana. Segundo técnicos, embora o dólar tenha mantido sua trajetória de queda, mostrou-se ao mercado que o governo está disposto a agir.
O dólar fraco, porém, ajuda a segurar a inflação, lembram especialistas, pois influencia o preço de eletrônicos, artigos de informática e carros.
"Mas não dá para contar apenas com o dólar na hora de pensar em conter a inflação", disse o economista Fábio Romão, da LCA Consultores.
Para o vice-presidente-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores (AEB), Fábio Faria, as medidas não trarão grandes benefícios ao setor. Mas, se os exportadores se queixam, os consumidores aproveitam para viajar. A EF Cursos no Exterior registrou alta de 18% a 20% nas vendas de intercâmbio em fevereiro, contra 12% no mesmo mês de 2011.
E os importados se multiplicam. Fernando Nigri, sócio-diretor da I9Marca, conta que está trazendo bicicletas Flying Pigeon.
"Só de IPI pago 35%. Com a desvalorização do dólar, consigo chegar ao consumidor final e manter uma boa margem."
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