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Economia

Entre a eficiência e a”exuberância irracional”

Fama (à esquerda) e Hansen: análise sobre preços de ativos premiada com o Nobel; Robert Shiller: mercados podem ser irracionais | Jim Young/ Reuters; Michelle Mcloughlin/ Reuters
Fama (à esquerda) e Hansen: análise sobre preços de ativos premiada com o Nobel; Robert Shiller: mercados podem ser irracionais (Foto: Jim Young/ Reuters; Michelle Mcloughlin/ Reuters)

Os mercados são eficientes? A resposta depende do economista, e mesmo vencedores do Nobel podem discordar radicalmente, conforme ilustra o prêmio deste ano, anunciado ontem.

Os três nortet-americanos agraciados com o Nobel de Economia de 2013 foram reconhecidos por desenvolver métodos para prever o comportamento dos preços de ativos – imóveis, ações e títulos públicos, por exemplo. O curioso é que dois deles têm visões opostas sobre o funcionamento dos mercados.

Tido como o pai da teoria do mercado eficiente, o professor da Universidade de Chicago Eugene Fama, 74 anos, defende desde a década de 1960 que os preços são reflexos precisos das informações disponíveis. Em contraste, os trabalhos de Robert Shiller, 67, da Universidade de Yale, partem da premissa de que os mercados não são racionais.

O terceiro premiado é Lars Peter Hansen, 60, da Universidade de Chicago. Um aparente meio-termo entre Shiller e Fama, ele desenvolveu um método estatístico para testar as teorias sobre a racionalidade dos preços dos ativos.

Ao justificar sua escolha, a Academia Sueca afirmou que as descobertas dos três mostraram que os mercados são movidos por um misto de avaliações racionais e comportamento humano. "Não existe forma de prever o preço de ações e títulos para os próximos poucos dias ou semanas. Mas é quase possível prever o curso desses preços em períodos longos, como nos próximos três a cinco anos. Esses achados, que parecem surpreendentes e contraditórios, foram feitos e analisados pelos premiados deste ano", afirmou o comitê.

Bolhas

Shiller ficou conhecido por seus alertas sobre a bolha das empresas de tecnologia – em 2000, apontou no livro Exuberância irracional a supervalorização dos preços das ações – e do mercado imobiliário norte-americano. Por sua vez, Fama continuou a defender, mesmo após o estouro da crise financeira de 2008, que os preços se comportaram de forma racional.

"É um prêmio contraditório. A teoria do Shiller me parece mais adequada para explicar o que aconteceu com os mercados globais nos últimos anos", avalia Luciano D’Agostini, doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR. Em agosto, em visita ao Brasil, Shiller apontou sinais de formação de uma bolha no mercado imobiliário nacional, hipótese defendida há alguns anos por D’Agostini.

Em seu blog no Financial Times, o economista Tim Harford defendeu o prêmio a Fama. Se mais investidores tivessem levado a sério a teoria do mercado eficiente, diz Harford, teriam suspeitado dos títulos subprime, que ao mesmo tempo em que ofereciam retorno elevado eram classificados de "muito seguros". Para Harford, Fama demonstra que "não existem pechinchas evidentes, nem projeções fáceis, nem truques que permitam enriquecimento rápido".

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