Gelli, da Tátil: num mundo midiático, semelhanças são muitas vezes inevitáveis| Foto: Divulgação

A criação publicitária e de design é cercada de referências e inspirações, vindas de filmes, obras de arte, do próprio cotidiano ou mesmo de outras peças e anúncios. Um processo natural para quem cria, mas que esbarra, muitas vezes, em uma linha tênue que separa a inspiração do plágio. "A diferença é uma questão de bom senso", resume o publicitário Marcos Pamplona, diretor de criação e fundador da Lemon School, escola de criação.

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As acusações contra quem passou para o "lado de lá" dessa linha não chegam a ser raras no mercado – principalmente em tempos de internet, que dá acesso fácil ao que se cria no mundo todo. Na virada do ano, a discussão no mercado – e, principalmente, na internet – foi a do lançamento da marca da Olim-píada do Rio de Janeiro, em 2016. A agência Tátil, criadora da peça, foi acusada de plagiar a marca da ONG americana Telluride Foundation – que por sua vez teria sido inspirada na pintura A Dança, do pintor francês Matisse (veja as duas peças abaixo). A polêmica ainda incluía a logomarca do carnaval de 2004 em Salvador, considerada cópia da ideia da fundação americana.

A própria agência se defendeu explicando que pessoas se abraçando representam um símbolo universal, presente no inconsciente coletivo, e disse que a marca passou por uma sabatina do Comitê Olímpico Internacional (COI). A agência ainda publicou em seu site um vídeo com todo o processo criativo. Pela internet, dezenas de designers de todo o país saíram em defesa dos criadores, apontando critérios técnicos de diferença entre elas.

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Preocupação

"A dimensão da originalidade para nós é quase uma obsessão", diz o diretor de criação da Tátil, Fred Gelli. Alvo das críticas, Gelli ressalta ainda que, quando se trata de marcas importantes, as questões de propriedade intelectual são bastante rigorosas. "É claro que em um universo absolutamente 'overdoseado' de imagens e símbolos multimidiáticos, as semelhanças são muitas vezes inevitáveis. O que não significa que houve intenção de cópia, ou mesmo inspiração direta, mas sim, exploração dos mesmos territórios expressivos." Segundo o diretor, a inspiração para as criações na agência vem de ambientes, pessoas e costumes que tangenciam o território da marca que está sendo criada.

Internet

Pamplona também diz que é natural que as agências tenham referências, mas que há um cuidado grande para não repetir ideias. "Quando você cria alguma coisa, vai procurar saber se algo parecido foi feito. Se foi, vai procurar outra ideia", diz. "Não há meio termo. Plágio é feio e pronto." Para ele, a cópia de ideias tem hoje cada vez menos espaço no mercado. Isso porque, navegando na internet, é possível saber o que se cria no mundo todo. "A maioria dos profissionais tem uma grande preocupação com isso. Até porque, hoje em dia, é muito fácil denunciar. Você cria um slogan e vai no Google checar."

O diretor de criação da agência Tif, Thiago Biazetto, concorda que essa "troca" com o próprio mercado publicitário é importante, mas alerta que ela não pode ser a única referência. "A publicidade não pode se alimentar só da publicidade. Se não, as ideias vão mesmo se repetir. Acompanhar o que acontece no mercado é parte do nosso negócio. Mas, é preciso mesclar cultura geral", diz ele. "Em vez de comprar dez anuários, o melhor é levar dez criativos para passear no museu", brinca.

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