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Escalada do dólar anima exportadores

Evandro Durli, proprietário da Durli Couros | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Evandro Durli, proprietário da Durli Couros (Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo)

Os painéis de madeira que a Berneck embarcou nesta semana foram encomendados por clientes estrangeiros há três meses, quando o dólar valia pouco mais de R$ 2. A empresa paranaense receberá pela carga, em moeda americana, o mesmo valor combinado na data do pedido. Mas, ao trocar os dólares por reais, vai apurar uma receita 20% maior que a prevista, porque o câmbio agora passa dos R$ 2,40. "É uma vantagem significativa", diz Daniel Kokote, gerente de comércio exterior da companhia.

O exemplo da Berneck ilustra o ganho que a escalada do dólar proporciona às exportadoras brasileiras, que agora têm a chance de recompor a margem de lucro perdida nos últimos tempos, ou parte dela – o câmbio passou três anos abaixo de R$ 2, e ligeiramente acima disso entre junho de 2012 e maio deste ano. "Para quem exporta, a alta do dólar ameniza o ‘custo Brasil’, de logística, energia, funcionários", explica Evandro Durli, proprietário da Durli Couros. A empresa vende ao exterior cerca de 80% da produção.

Com a vantagem cambial, o exportador também pode, nas próximas negociações, baixar preços e deixar seu produto mais competitivo. A expectativa do governo, de alguns economistas e de muitos empresários é que esse resgate da competitividade dê novo impulso às exportações brasileiras, em especial dos ramos mais sofisticados da indústria, os mais sensíveis ao câmbio. No Paraná, a fatia dos manufaturados nos embarques totais, que chegou à casa dos 60% em meados da década passada, fechou o primeiro semestre deste ano em 37%. E os produtos mais básicos, antes minoria, respondem hoje por mais da metade das receitas.

Mas passar do ganho momentâneo – gerado pelo lucro maior em contratos já fechados – a um avanço mais consistente não será simples. Apesar de certa recuperação econômica nos países desenvolvidos, a demanda externa ainda não chega a empolgar. Além disso, os negócios de comércio exterior são de longo prazo, o que significa que um crescimento mais expressivo nas exportações deve levar meses. A própria negociação de contratos pode ficar em banho-maria em meio à forte oscilação do dólar, com vendedores e compradores na defensiva enquanto a moeda não se acomoda.

O diretor de pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Suzuki, acredita que no Paraná as exportações do agronegócio devem ser as primeiras a refletir a mudança no câmbio. "As vendas devem melhorar neste segundo semestre. O estado ainda tem parte da supersafra de soja estocada, e essa valorização do dólar deve animar os produtores a vendê-la", diz. Para ele, a reação do setor industrial virá mais tarde: "A indústria perdeu contratos lá fora quando o real estava muito valorizado, então ainda é preciso haver uma reaproximação. A perspectiva de recuperação desse setor fica mais para 2014".

Impacto negativo

Para quem importa insumos, alta não é tão vantajosa

Empresas exportadoras que usam matérias-primas produzidas no Brasil, como as indústrias de madeira e couros, saem ganhando com a valorização do dólar. Mas o avanço brusco da moeda não é tão vantajoso para quem depende de insumos e componentes importados. É o caso do setor agrícola, que importa fertilizantes, e de parte da indústria.

"O longo período de real valorizado fez com que muitas empresas passassem a importar insumos. Eles agora ficam bem mais caros, pressionando os custos de produção", diz Roberto Zürcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). "O avanço do câmbio não é necessariamente negativo. O problema é que veio de uma pancada só. Uma valorização mais gradual seria mais fácil de absorver."

Os exportadores conseguem compensar parte desse impacto, pois se beneficiam do dólar mais alto no momento da venda ao exterior. Mais grave é a situação de indústrias voltadas ao mercado interno, como a de informática – os balanços da Positivo costumam trazer prejuízos quando a moeda americana sobe muito.

Jorge Grande, diretor comercial da fabricante de papel cartão Ibema, conta que a alta do dólar tem duplo impacto na atividade da empresa. "O movimento é positivo para 30% da nossa produção, que é exportada. Mas afeta 40% de nossos custos, porque a celulose é cotada em dólar. O resultado final é praticamente zero a zero", diz.

Embora importe material de embalagem e esteja pagando pelo maquinário importado em 2012, a Vapza vê com otimismo a valorização do câmbio. "Hoje exportamos menos de 5% da produção, mas nossa meta é chegar a 20% em alguns anos, e essa taxa de câmbio deve ajudar. Nossa ideia é fazer da exportação um hedge (proteção) natural para nossos compromissos em moeda estrangeira", explica Luiz Fernando Mion, gerente de comércio exterior da empresa, que produz alimentos embalados a vácuo.

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