Quanto mais caro o petróleo, mais petróleo existe. Popular no setor de energia, essa expressão sintetiza a idéia de que, enquanto as cotações estiverem subindo, as petroleiras continuarão estimuladas a encontrar petróleo nos lugares mais remotos e insuspeitos. Por isso, se os preços do combustível não tivessem se multiplicado por cinco desde 2002, a Petrobrás dificilmente teria causado tanto alarde na última quinta-feira, quando anunciou a descoberta da maior jazida do país.

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Além de jogar para segundo plano a crise do gás natural – que manteve a petroleira na defensiva por duas semanas –, a confirmação de petróleo em uma porção ultraprofunda do subsolo marinho ocorre justamente quando analistas de todo o mundo se questionam se o patamar de quase US$ 100 por barril pode causar uma terceira crise global de energia em menos de 40 anos.

A Petrobrás investiu mais de US$ 1 bilhão desde 2005 para achar óleo na área batizada provisoriamente de Tupi. "Se o preço estivesse mais baixo, em US$ 30 por barril, qualquer empresa teria sido muito mais cautelosa para perfurar esses poços. Como o custo de produção é altíssimo, o campo poderia não compensar o investimento", diz Helder Queiroz, professor do grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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O diretor do Centro de Estudos do Petróleo (Cepetro) da Unicamp, Saul Suslick, avalia que a cotação do barril terá de permanecer em um alto patamar para que a produção no campo seja viável. "Agora começa um longo período de aprendizado e muitos gastos, em que a estatal terá que definir toda a infra-estrutura necessária. Acho que será preciso ‘meia Petrobrás’ em investimentos." Na semana passada, após a maior alta das ações em sete anos, o valor de mercado da companhia superou US$ 222 bilhões (quase R$ 390 milhões).

Suslick lembra que o "primeiro óleo" de Tupi pode levar oito anos para aparecer, embora a petroleira tenha anunciado um projeto-piloto para 2011. "A exploração de petróleo tem três características perenes: é incerta, ingrata e cara. Então, até lá, a Petrobrás pode descobrir que a reserva é até maior. Ou menor."

Como a demanda mundial segue aquecida, a indústria gasta cada vez mais para descobrir novas jazidas: foram US$ 238 bilhões no ano passado, quase o dobro de 2003, segundo o livro "A história do petróleo", da jornalista norte-americana Sonia Shah. Em compensação, nenhuma indústria oferece uma recompensa tão alta. "Não é à toa que, entre as dez maiores companhias do mundo, quatro são petroleiras", diz Queiroz, da UFRJ.

Paraná

Campos semelhantes a Tupi se espalham por 800 quilômetros, entre o litoral do Espírito Santo e o de Santa Catarina. Para o geólogo Sidnei Rostirolla, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o litoral paranaense – que já tem uma pequena produção de petróleo, no campo Coral – tem potencial para exploração. "Vários blocos interessantes, dessa camada pré-sal, haviam sido incluídos no próximo leilão da ANP [Agência Nacional do Petróleo]." Suslick, do Cepetro, não descarta essa hipótese, mas acredita que ela demorará a ser testada. "É possível que haja petróleo no Paraná, mas acredito que a Petrobrás primeiro vai esgotar as opções nas proximidades de Tupi."

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