Números
360 milhões é o valor que o banco britânico Barclays terá de restituir por manipulações das duas taxas de juros interbancárias mais importantes da Europa, o Libor (do Reino Unido) e o Euribor (dos países da zona do euro). O valor equivale a mais de R$ 900 milhões.
Entenda
Libor e Euribor influenciam até os juros do cartão de crédito
O Euribor e o Libor, no epicentro do escândalo financeiro que afeta o banco britânico Barclays, são taxas interbancárias pelas quais uma entidade empresta ou toma emprestado de outra. Seus valores servem como referência para outras taxas, e repercutem tanto nos cartões de crédito quanto nos créditos a particulares e empresas.
O mercado interbancário permite aos bancos emprestar dinheiro entre si ou pedi-lo emprestado quando os montantes de seus depósitos são superiores ou inferiores à demanda de crédito de seus clientes. É um mercado sem regulamentação, que opera com base na confiança mútua, ao qual os bancos recorrem diariamente para equilibrar suas contas. A circulação de liquidez neste mercado é essencial para o bom funcionamento do sistema bancário e financeiro. O equivalente no Brasil é o CDI (sigla para Certificado de Depósito Interbancário).
As taxas interbancárias mais conhecidas e usadas são o Libor (London interbank offered rate) e o Euribor (Euro interbank offered rate). O vencimento destes empréstimos oscila entre poucos dias até 12 meses e as taxas são fixadas uma vez ao dia, às 6 horas de Brasília (no caso do Euribor) e às 7 horas (Libor), a partir de um painel de bancos.
O mercado interbancário cria na realidade uma grande interdependência entre os bancos e a quebra de um deles, hipótese praticamente descartada até o caso do Lehman Brothers (que faliu em 2008), pode arrastar todo o setor.
O escândalo das manipulações do Libor o índice que fixa as taxas de juros dos empréstimos interbancários em Londres custou ontem o cargo do diretor-executivo do banco britânico Barclays, Bob Diamond, convertido em símbolo dos excessos do mundo das finanças. "A pressão exterior sobre o Barclays alcançou um nível que colocava em perigo a empresa e isso nós não poderíamos permitir", disse o diretor para explicar sua demissão surpresa. "Estou muito decepcionado porque os acontecimentos da semana passada dão uma imagem do Barclays e de seus empregados que não poderia estar mais distante da realidade", afirmou Diamond.
Na quarta-feira passada, o Barclays anunciou que terá que pagar ao todo 290 milhões de libras (360 milhões de euros, ou R$ 905 milhões) por manipular o Libor e seu equivalente europeu, o Euribor. As taxas de juros interbancários definem o preço através do qual os bancos emprestam dinheiro mutuamente, mas também, de maneira indireta, o preço dos créditos aos particulares e as empresas. O presidente do conselho de administração do Barclays, Marcus Agius, anunciou na segunda-feira sua demissão para tentar acalmar a opinião pública e os políticos britânicos. Agius continuará sendo presidente até que se encontre um novo diretor. O governo britânico aprovou a mudança. "É a decisão correta para o Barclays e para o país", disse o ministro de Finanças, George Osborne, em declarações à rádio BBC. "Espero que seja o primeiro passo por uma cultura de responsabilidade no setor bancário britânico", completou.
Bob Diamond, que terá hoje que comparecer ao parlamento britânico para dar explicações, estava sob muita pressão e o líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, pediu sua demissão. Desde sua entrada no Barclays em 1996, Diamond se converteu no responsável pelas atividades do banco de investimento, posto que ocupava quando ocorreram as manipulações das taxas de juros.
A saída de Diamond, no entanto, não encerra o escândalo. Continuam abertas em vários países investigações por tentativa de manipulação do Libor e do Euribor. Outros bancos, como o Royal Bank of Scotland (RBS), também estão envolvidos no caso. Além das sanções regulamentares, as autoridades britânicas também poderiam aplicar sanções penais contra os banqueiros. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou na segunda-feira o lançamento de uma comissão de investigação parlamentar sobre o caso. "Essa história terá claramente outras repercussões em todo o setor, mas Diamond já é uma vítima significativa e deixa aberto o problema da sucessão na cabeça do banco", disse Mike McCudden, diretor da área de derivativos do Interactive Investor.
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