O início do escoamento da safra recorde trouxe de volta a fila na estrada que leva ao Porto de Paranaguá. No fim da tarde de ontem, o congestionamento atingia mais de 15 quilômetros, segundo informações da Ecovia, concessionária que administra o trecho da BR-277 que liga Curitiba ao litoral.
Vários fatores teriam contribuído para o congestionamento, entre elas a demora na verificação da soja que chega ao porto. A Empresa Paranaense de Classificação de Produtos (Claspar), que executa esse serviço, informa que o movimento foi acima do esperado para a época e que o problema deve ser resolvido dentro de dois a três dias. "Estamos nos ajustando à demanda e à falta de informações dos produtos. Muitas cargas estão chegando ao porto sem cadastro", afirma César Elias Simão, gerente da Claspar em Paranaguá.
Às 17 horas de ontem o motorista Luiz Carlos de Souza Vieira Lopes, 33 anos, que trazia um carregamento de seja de Sorriso (MT) sofria com a fila e com o calor. "Estamos sob um sol de 40°C, sem conseguir comprar uma água gelada e sem ter uma atitude do porto para diminuir essa fila. Tem entrado muito mais caminhão do que tem saído. É preciso acelerar isso", reclamou.
A assessoria de imprensa da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) alega que a fila é um episódio pontual, provocado pelo ajuste normal de início da safra. A Appa informa que uma ordem de serviço, do dia 1º de fevereiro, estabeleceu que apenas caminhões carregados com soja, milho e farelo poderiam entrar no pátio de triagem. Apesar disso, operadores estariam desrespeitando essa norma. Outra hipótese seria a antecipação do envio de cargas para o porto em função do feriado de carnaval, na próxima semana.
Segundo a Appa, o número de caminhões que chegam para descarregar no porto diariamente passou de 300 para 800 desde a semana passada e deve chegar a 2 mil nos meses de pico de embarque da safra (março e abril).
A previsão é de um aumento de 20% a 25% nos embarques do complexo soja. No ano passado foram embarcadas 4,76 milhões de toneladas de soja 14,29% mais do que em 2008 e 4,75 milhões de toneladas de farelo, queda de 2,37% na mesma base de comparação.
Passado
Há pelo menos dois anos os caminhoneiros não viam uma fila desse porte em Paranaguá. No passado, os congestionamentos eram um problema crônico no porto e não raro chegavam até Curitiba, o que levou a direção do porto a estabelecer, a partir de 2004, a nominação prévia de navios e local para estocagem, a fim de evitar as filas. "Agora teremos uma boa safra e uma fila no início da safra é preocupante. Quanto mais tempo o caminhoneiro esperar maior o prejuízo", afirma o diretor do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Setcepar), Laudio Luiz Soder.
No fim da tarde, chegou a circular, em Paranaguá, rumores sobre problemas em um terminal de descarga da Cargill, o que teria forçado a realocação de cargas em outros terminais e tornado lenta a operação de embarque. No entanto, a Cargill, por meio de sua assessoria de imprensa, informou ontem que a operação estava normal. A Appa também não detectou nenhuma alteração no funcionamento dos terminais.
"Estou aqui há três horas, não andei mais que seis quilômetros e não sei se vou conseguir entrar no pátio antes de anoitecer", lamentava o caminhoneiro Rosemar dos Santos, 33 anos, que havia chegado na fila às 13h30 de ontem. "Dessa vez não sei qual é o motivo da fila. Mas, desde que o governo do estado começou a briga contra os trangênicos, nós é que sofremos", diz.