Copos, sabonete líquido e até remédios. De tão diversificada, a lista de material escolar de algumas instituições de Curitiba confunde pais de alunos, que têm pedido orientações sobre o assunto ao Procon-PR. As dúvidas surgiram principalmente depois da Lei Federal 12.886, de novembro, que impede que escolas solicitem itens de uso coletivo, em geral de higiene e limpeza.
Entre dez escolas particulares da capital que tiveram listas de material pesquisadas pela Gazeta do Povo, pelo menos quatro pedem itens de uso coletivo Pichon, Ceduca, Construtivo e Alto Padrão. Outras cinco Rosário, Bagozzi, Bom Jesus, Opet e Marista têm itens polêmicos, mas justificados com uso em aula ou individual. A lista da Positivo não apresentou discrepâncias.
Uma das listas mais extensas é a da Construtivo. A escola pede lenços, álcool, band aid, antisséptico, sabonete líquido e copos descartáveis para berçário e maternal. A supervisão argumentou que a lista foi feita em outubro (antes da lei) e pode ser negociada. Os copos seriam usados em aula os bebês os esmagariam para desenvolver a audição.
O Ceduca lista 18 itens que informa ser de uso coletivo para o pré. Via assessoria de imprensa, a escola alegou que a lista foi feita em outubro e que a situação evita aumento nas mensalidades. Afirmou ainda que pais podem pedir reembolso no fim do ano. A lei, porém, define que materiais coletivos devem ser previstos nas mensalidades.
Na lista da Pichon para jardim e maternal, pais são orientados a entregar colheres, pratos e copos descartáveis; rolo para embalar alimentos; e pacote de pano de limpeza para cozinha com marca específica. A escola informa que os itens de higiene são para uso individual e que os de limpeza são escolha dos pais, que preferem itens descartáveis. Também afirmou que a lista foi feita antes da lei e que não usa o recurso para lucrar. A Alto Padrão pede caixas de lenço de papel e potes de lenços umedecidos para uma turma infantil para "uso coletivo". A Gazeta tentou conversar por telefone e por e-mail com a coordenadora da escola ontem e na segunda-feira, mas a resposta foi de que ela estaria em reunião.
Questionamentos
Segundo a coordenadora do Procon-PR, Claudia Silvano, o ideal é que pais questionem as escolas, o que nem sempre ocorre. "Muitos pais temem retaliação, acham que os filhos serão tratados de forma diferente", diz. Mas apenas uma conversa elucida como sabonetes e lenços serão usados só pelo aluno ou em atividades pedagógicas, por exemplo. Escolas também não podem indicar marcas ou locais de compra.
Confira a situação das dez escolas de Curitiba que tiveram listas de material pesquisadas pela Gazeta e seus argumentos sobre os produtos solicitados:
Alto Padrão
A escola solicita para turmas infantis caixas de lenço de papel e lenços umedecidos, afirmando que são para "uso coletivo". Outros pedidos incluem brinquedos, como fantoche de mão, balde de areia com pá, livro e brinquedo educativo.
Procurado pela Gazeta, o colégio não se pronunciou até o horário de fechamento da edição de quarta-feira (5/2).
Bagozzi
O colégio pede para alunos da 1ª série: ábaco, alfabeto emborrachado, livro de literatura, flauta doce e dicionário de português. Afirma que são devolvidos no fim de cada ano.
Bom Jesus
A escola pede caneta retroprojetor, lenço de papel e um "pacote de guardanapo grande para forrar a mesa para o lanche" para a 1ª série. No caso do maternal, são pedidos lenços umedecidos, papel toalha e pano de limpeza (tipo Perfex). Afirma que os itens são para uso individual do aluno.
Também são pedidos livro (são 22 opções); jogo de alfabeto e pedagógico; e um gibi. A escola não deu detalhes sobre o uso.
Ceduca
A escola coloca em listas cerca de 18 itens que afirma ser "material de uso coletivo", como sacos de palito de madeira, de canudos, papel sulfite, bloco criativo de papel não reciclável e grampos de roupa. O colégio afirma que, por ser uma instituição sem fins lucrativos, a medida foi tomada para que as despesas de material de consumo do aluno em sala não interfiram no orçamento da anuidade escolar de cada aluno. Pais que contribuem com o valor da mensalidade e praticam um desconto de até R$ 600 na anuidade sobre o valor bruto podem solicitar reembolso. A escola garante que fará mudanças na lista em 2015.
Construtivo
A creche (berçário e maternal) pede copos descartáveis para uso coletivo. Segundo a supervisão, os itens são usados em atividades pedagógicas. Também são pedidos itens de higiene que são listados como "para uso coletivo", como lenço descartável, litros de álcool 70, sabonete líquido, antisséptico, band aid e sabonete líquido. O colégio afirma que os itens são pedidos pelos pais, que preferem garantir que os alunos não voltarão para a casa sujos em qualquer eventualidade. A supervisão afirma que a lista foi feita em outubro e não é obrigatória. A instituição pretende revê-la em 2015.
São pedidos ainda fantoche, livro de histórias, jogo pedagógico, instrumento musical, DVD de filme ou desenho e revista em quadrinho. A escola garante que os devolve ao fim do ano para os pais que quiserem.
A escola pede ainda remédio Tylenol, que garante não ser obrigatório.
Marista
Para alunos do Jardim 3, pede lenço umedecido (pote e refis) e caixas de lenço de papel. O colégio garante que o uso é individual e afirma não pedir itens como papel higiênico, guardanapo, copos descartáveis e outros.
Também é pedido um pacote de bexigas, tamanho 10. Segundo o colégio, as bexigas serão usadas individualmente, em várias atividades que são propostas durante o ano letivo como, por exemplo, nas aulas de movimento, de desenvolvimento da coordenação motora, jogos corporais e simbólicos.
O colégio também pede livro de literatura usado; brinquedo usado; jogo de quebra-cabeça ou encaixe; fantasia infantil usada; instrumento musical; e Lego ou 10 potes ou encaixe de madeira ou estrelinha. O Marista afirma que os devolve no fim do ano.
Opet
Para alunos da 1ª série o colégio pede: copos plásticos (tipo requeijão); e lenço de papel. Segundo a direção, o primeiro item é usado em aula -- cada sala tem um "sucatário" para atividades de reciclagem. Já os lenços são etiquetados e usados individualmente pelo aluno.
O colégio também pede uma caneta de retroprojetor que, afirma a direção, será usada em uma atividade diferente, em que os alunos farão desenhos em folhas de transparência.
Também são pedidos jogo pedagógico, livro e dois gibis. Que, conforme a direção, são devidamente devolvidos ao fim do ano.
Pichon
O colégio pede colheres, pratos e copos descartáveis, além de guardanapo, rolo de embalagem para alimentos e pano de limpeza para cozinha (especifica a marca Perfex). O colégio explica que os descartáveis são usados à tarde, quando os alunos comem frutas. Alega que a preferência por descartáveis é dos pais. Sobre o pano de limpeza, afirmam que são usados para secar pincéis, limpar roupas e os próprios alunos e outras eventualidades, como aplicar gelo em caso de topadas, por exemplo.
Outros itens são de higiene, como lenços de papel, sabonete líquido e pomada (especifica a Hirudoid). O colégio explica que o lencinho é para uso do aluno e fica guardado na caixinha organizadora enviada pela família, assim como o sabonete e a pomada. A escola pede ainda antitérmico, que segundo a instituição é usado em caso de febre, é opcional e usado com receita.
Outro material da lista é uma caneta para retroprojetor. Segundo a escola, é usada para colocar o nome no material do próprio aluno, uma vez que retroprojetores não são mais usados. A Pichon pede ainda brinquedo e livros de história, que garante devolver no fim do ano.
Positivo
Lista para educação infantil não apresenta indícios de irregularidade.
Rosário
A escola coloca em listas pedidos de "materiais para biblioteca da sala". Alguns deles: livro, gibi novo e jogo pedagógico, todos para a 1ª série. Segundo a escola, os itens são devolvidos no final do ano letivo.
Outro item da lista é a flauta doce, identificada por dois tipos: Yamaha YRS24b ou YRS302bll. A escola afirma que a marca é uma indicação que não precisa ser cumprida.