Pelo segundo ano consecutivo, as mensalidades escolares de Curitiba vão subir acima da inflação projetada para 2012, segundo estimativa do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR). Nos últimos 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de Curitiba e região metropolitana que mede a inflação oficial no período acumulou alta de 5,22%, mas algumas escolas já anunciaram reajustes que variam de 6 a 9,5% para o próximo ano. A média deve ficar em 8%, segundo projeções do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
De acordo com o presidente do Sindepe-PR, Ademar Batista Pereira, a maior pressão sobre o custos das escolas particulares vem dos gastos com a folha de pagamento de funcionários, sobretudo professores. Plano de cargos e salários, bonificações atreladas a metas e investimento em capacitação que até pouco tempo não faziam parte da realidade das escolas particulares , entraram no planejamento dessas instituições e vêm pressionando custos e mensalidades. Tudo isso para evitar a rotatividade e manter o quadro de professores, que são bastante disputados em alguns períodos do ano, garantem os gestores das escolas.
Para o Sindicato dos Professores no Estado do Paraná (Sinpropar) o salário dos professores não cresceu na mesma proporção do valor das matrículas e não justifica a pressão alegada pelas escolas. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), encomendado pelo Sinpropar, de 2007 a 2011 o reajuste médio das matrículas foi de 42,42%, enquanto o salário dos professores do ensino médio e fundamental cresceu 32,54%. "Em 2011, as mensalidades subiram cerca de acima de 9%, mas os salários tiveram apenas a correção da inflação, que foi de 6,36%", explica o economista Cid Cordeiro, do Dieese.
Embora o cálculo do reajuste das mensalidades não leve em conta apenas as despesas com folha de pagamento, o custo médio das escolas com esse item aproxima-se de 70%, segundo estimativa do próprio Dieese. A data-base da categoria é em março, mas os sindicatos ainda não chegaram a um acordo. As escolas estão oferecendo 7% de reajuste, que equivale ao mesmo porcentual já aceito pelos auxiliares. Já os professores querem aumento de 10%. "Os auxiliares só fecharam em 7% porque receberam aumento de 15% no piso salarial", esclarece Sérgio Gonçalves Lima, presidente do Sinpropar.
Gasto necessário
Mesmo com 80% do orçamento comprometido pelos gastos com salários, o diretor do Colégio Erasto Gaertner, Henrique Wall, justifica que "a qualidade do ensino depende da qualificação desses profissionais". A escola ainda aguarda uma sinalização do Sinepe-PR para fechar o valor exato do reajuste, que deve variar entre 6 e 9%.
No Colégio Marista Santa Maria, no bairro São Lourenço, o reajuste foi definido em 9%. De acordo com o diretor geral, Flávio Antônio Sandi, a folha de pagamento corresponde a 51% do orçamento. O aumento das mensalidades contempla também os investimentos em tecnologia, a alta do preço dos alimentos e os custos com a recente implementação do plano de cargos e salários para professores, que ainda não foram totalmente absorvidos pela instituição.
Escolas apostam em plano de cargos e salários para manter equipe
Há cinco anos, planos de cargos e salários e bonificações eram mecanismos usados apenas pelas grandes empresas para premiar seus funcionários pelo bom desempenho. Agora, a tendência se expandiu e chegou também às escolas particulares, que aderiram à ideia para preservar seu quadro de professores diante da demanda do mercado. Para a diretora pedagógica da Escola Atuação, Esther Cristina Pereira, existem períodos do ano em que é possível perceber uma "verdadeira dança das cadeiras". "A rede pública é o destino de boa parte dos professores que nos deixam. Eles vão em busca de estabilidade, mas costumo dizer que a estabilidade quem faz é o próprio professor", afirma Esther. Para se precaver da falta de profissionais e valorizar o corpo docente, a escola implantou participação nos lucros para os professores. O valor varia de acordo com o número de matrículas feitas no início e pode chegar a um salário e meio, pago sempre no mês de outubro. A escola também custeia viagens para os professores com mais de cinco anos de escola. Na última viagem, um grupo de professores da escola passou 11 dias na Itália. A professora Alesandra Lamb foi uma das felizardas. Há sete anos lecionando para o quinto ano do ensino fundamental na Escola Atuação, ela destaca a relação construída na escola e o bom ambiente de trabalho. "Aqui falamos e somos ouvidos", afirma Alesandra, que trabalha dois períodos e recebe R$ 1.100 para cada um.
Metas
"É natural que os melhores professores sejam disputados no mercado, mas isso tem um custo", ressalta o gerente de marketing do Colégio Erasto Gaertner, Gerson Gantzel. Mesmo com perfil diferente das grandes escolas da capital, o colégio, localizado no bairro Boqueirão, também apostou em prêmios e comissões atrelados a metas de aprovação nos vestibulares e boas notas no ENEM para premiar seus professores. Os valores variam de acordo com a qualificação e desempenho dos profissionais, mas podem levar a um incremento entre 3 e 30% no salário.