O anúncio de renúncia do primeiro-ministro italiano, Mario Monti, gerou temores de ampliação e contágio da crise nesta segunda-feira (10) sobre a frágil economia espanhola, fazendo ressurgir os temores de que o país, imerso em recessão, precise de um resgate financeiro.
"Hoje nós estamos vendo o caso da Itália e, quando surgem dúvidas com relação à estabilidade política de um país tão próximo, isso nos afeta imediatamente", admitiu o ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos, a rádio pública RNE.
Após o anúncio de Monti, feito no sábado (8), a pressão nos mercados aumentou sobre a Espanha, quarta maior economia da zona do euro.
Na manhã desta segunda-feira, o país teve de pagar 5,616% pela emissão de títulos da dívida com vencimento a dez anos. Ao mesmo tempo, a taxa de risco - diferença entre os juros cobrados pela emissão de títulos a dez anos da Espanha e da Alemanha, de referência, subiu a 430 pontos, contra 412 de sexta-feira (7).
"Tudo o que é considerado surpresa ou que gera incertezas sobre os mercados tem implicações para a taxa de risco espanhola, porque nossa situação é extremamente frágil", disse à AFP Javier Castillo, analista da Natixis.
Após chegar a mais de 600 pontos, a taxa de risco espanhola havia relaxado com o anúncio em agosto do Banco Central Europeu (BCE) de um programa de compra de dívida dos países mais fracos, incluindo Espanha e Itália.
Para intervir, o BCE exige que os Estados façam um pedido formal de assistência para a zona do euro, o que ainda não foi feito pela Espanha.
"O governo tem de escolher a melhor decisão no melhor momento possível", disse De Guindos nesta segunda-feira.
O jornal de centro-esquerda El País, no entanto, pediu ao governo de Mariano Rajoy para que solicitasse o resgate sem demora.
"Adiar o pedido de intervenção do BCE é o mesmo que condenar a economia a uma recessão prolongada, com maior crescimento do desemprego", dizia um editorial de primeira página intitulado "Resgate" .
Para José Carlos Diez, analista do Intermoney, apesar da pressão, a Espanha deve esperar. "O melhor é ver o que acontece nas eleições italianas, usar o colchão de liquidez que tem o Tesouro, que é grande, e então pedir o resgate juntamente com a Itália, o que daria mais força para a negociação", disse.
Novamente em recessão desde o final de 2011, apenas dois anos depois de sair da crise, a economia espanhola - com um desemprego de 25% - não deve, de acordo com as previsões do governo Rajoy, começar a se recuperar até 2014.
O governo espera que o PIB caia 0,5% em 2013, depois de cair drasticamente este ano, especialmente nos últimos meses. "O quarto trimestre vai ser o mais difícil, será o mais complexo", disse De Guindos.
No terceiro trimestre de 2012, o PIB da Espanha caiu 0,3% com relação ao anterior, que por sua vez havia recuado em 0,4%.
"Ainda assim, acreditamos que o crescimento será menos pior do que o esperado este ano, em torno de -1,4%, -1,3%", afirmou o ministro, sendo que o governo projetava até o momento queda de 1,5% do PIB até 2012.