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Plano Real 20 anos

Futuro do Plano Real depende de ajustes

Lucas Dezordi, economista: “governo precisa cortar gastos” | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Lucas Dezordi, economista: “governo precisa cortar gastos” (Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo)

O Brasil venceu a batalha da hiperinflação, mas o crescimento ainda não decolou como deveria. Na última década, conseguiu avanços importantes, como o aumento da renda e do consumo e a inclusão de uma massa de 35 milhões de brasileiros na chamada nova classe C. Passou sem grandes traumas por uma crise financeira internacional (a bolha imobiliária de 2008), expandiu o mercado de crédito e bateu recorde de geração de empregos.

Mas ainda patina para conseguir índices de crescimento mais robustos, sofre com problemas estruturais, como a elevada carga tributária, baixa produtividade, infraestrutura deficiente e elevados gastos públicos. Ou seja, ainda há um longo caminho para que o Brasil atinja um novo patamar de desenvolvimento econômico e social. Neste ano, a previsão de crescimento da economia é de um avanço de 1,24% no Produto Interno Bruto (PIB).

Depois de passar pela dor do nascimento e pelas incertezas da adolescência, o modelo de estabilização econômica brasileiro caminha para a maioridade com o desafio de elaborar uma estratégia de longo prazo. Para a maioria dos economistas, a receita é a mesma. "Se comprometer com um superávit fiscal maior, entre 3% e 3,5% do PIB, uma inflação menor nos próximos anos e fazer as reformas, em especial a tributária", diz Lucas Dezordi, coordenador do curso de economia da Universidade Positivo (UP).

Para Alexandre Porsse, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), se não fosse o Plano Real, o Brasil provavelmente não teria ampliado o nível de distribuição de renda dos últimos anos, mas há uma preocupação crescente com a falta de produtividade e a inflação, que insiste em ficar próxima do teto da meta, de 6,5%.

"É preciso pensar, por exemplo, sobre a inflação dos serviços, que foi influenciada pelo aumento da demanda e a falta de mão de obra qualificada nos últimos anos. Além disso, o país está entrando em uma transição demográfica e a questão da mão de obra será central também para a inflação nos próximos anos", acrescenta.

Economistas divergem sobre inflação "ideal"

A alta incômoda dos índices de preços nos últimos anos reabriu a discussão entre os economistas sobre qual seria, hoje, 20 anos depois, a inflação "ideal" para o país. O economista Edmar Bacha, um dos criadores do Plano Real, defende que o Brasil precisa perseguir um índice anual ainda mais baixo – algo como 3% nos próximos 20 anos. Somente assim estariam garantidas as bases para um desenvolvimento mais sustentável no longo prazo.

Mas a tese de Bacha não é consenso mesmo entre aqueles que defendem um controle atento e efetivo da inflação. Hoje ela ronda os 6%. O Banco Central estabeleceu como objetivo uma inflação de 4,5% por ano, com tolerância de dois pontos porcentuais para mais e para menos. "O que se viu, nos últimos anos, foi que o governo passou a mirar não ultrapassar o teto e não o centro da meta", diz Otto Nogami, professor de economia do Insper.

Para Alexandre Porsse, professor da UFPR, para o Brasil ter uma inflação de primeiro mundo terá que ter fundamentos de primeiro mundo. "Uma carga tributária de primeiro mundo, por exemplo. Hoje parte do déficit em transações correntes que o Brasil registra está sendo provocado pelas compras de brasileiros no exterior, onde encowntram uma carga tributária menor", acrescenta.

A inflação também está intimamente relacionada às expectativas do mercado e à condução das contas públicas, na avaliação de Lucas Dezordi, da Universidade Positivo. "Há uma relação entre o superávit fiscal e as expectativas sobre a economia e a inflação. Ou seja, se o governo cortar gastos provavelmente teremos uma inflação menor também", diz ele.

Na corrente contrária está um grupo de economistas que defende que o regime de metas como está estruturado hoje não reflete mais a realidade. Para Fabio Tadeu Araújo, da PUCPR, como o governo não consegue cumprir o centro da meta, de 4,5%, talvez o problema seja mesmo a meta. "Uma inflação acima de 6% não é o fim do mundo", diz.

Pressão

Outro fator de pressão inflacionária é que a economia brasileira ainda é bastante indexada e a correção, muitas vezes, se dá de maneira não formal. Os preços administrados também são fonte de pressão constante.

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