Oportunidades
Atividade dá chances ao primeiro emprego e ao trabalho em casa
Oportunidades não faltam na cadeia produtiva de Terra Roxa. Com oferta de trabalho de sobra, quem procura o primeiro emprego ou quer se tornar um empreendedor individual tem vez na cidade.
A costureira Maria Nilsa Paes Foglietti, 42 anos, trabalha em casa, um sítio de cinco alqueires. Da janela, ela vê o verde da natureza enquanto costura peças para a empresa Chik Chik. Ela era agricultora e atua na costura há 12 anos. Hoje tem quatro máquinas, produz 500 peças ao mês e chega a recusar encomendas. "Na lavoura não tem dinheiro todo mês. Aqui sei quanto vou ganhar", diz. O trabalho em casa possibilita que Maria dê atenção ao marido e ao filho de nove anos e faça o próprio horário.
Jonata Dias de Souza, 20 anos, também foi favorecido pela moda bebê. Aos 16 anos, ele começou a trabalhar com uma máquina de pregar botão. Agora, faz acabamento de costura. Na cidade, homens trabalhando na costura é rotina e não causa nem um pouco de estranheza. "Vale a pena. A cidade tem bastante fábrica e ajuda o pessoal", afirma.
Quem faz
Quando começou: 2004
Em que área atua: roupas para bebês
Onde fica: Oeste do Paraná
Quanto fatura: R$ 10 milhões mensais
Quem participa: 30 empresas
Quantos funcionários: 2.800 diretos
Posição no mercado: líder do segmento no país
Por que é bem feito: porque une a população da cidade em um projeto de empreendedorismo que deu e continua dando certo
Da terra vermelha brotam muito mais que soja e milho. Dos sítios do município de Terra Roxa, Oeste paranaense, surgem tendências da moda bebê para o país inteiro. A cidade colonizada por imigrantes italianos concentra na área rural parte das confecções especializadas em roupas para os pequeninos, de zero a três anos.
SLIDESHOW: Veja fotos sobre o polo de confecção de moda infantil
Não é por acaso que Terra Roxa tem o título de capital da moda bebê. A confecção infantil é responsável por 30% da economia do município e faz da cidade líder do segmento no mercado brasileiro. A primeira empresa, Paraíso Moda Bebê, surgiu em 1992.
Hoje, 30 das 113 empresas existentes na cidade estão inseridas no Arranjo Produtivo Local (APL), criado em 2004 para oferecer subsídios e aperfeiçoamento aos empresários. O APL gera cerca de 2,8 mil postos de trabalho diretos e emprega pelo menos um terço da População Economicamente Ativa (PEA) do município.
O empresário Eugênio Rossato, gestor do APL, diz que a tecnologia trazida a partir da implantação do arranjo produtivo possibilitou um amadurecimento dos empresários e profissionalizou as confecções. O APL reúne as principais empresas da cidade e faz investimentos em inovação por meio de pesquisas e matéria-prima, sempre em sintonia com as tendências de moda mundial. "Um adulto tem sua moda e o bebê também tem a sua", resume. A produção do APL, cerca de 500 mil peças ao mês, é vendida para todo país. O faturamento mensal é de R$ 10 milhões.
Gestor do Projeto Setorial de Vestuário de Terra Roxa pelo Sebrae, Alan Alex Debus diz que as 30 empresas do APL têm marca própria, o que é um diferencial. "O APL de Terra Roxa é um dos mais ativos do setor de vestuário e com mais impacto na economia local", diz.
Tranformação
A cadeia da confecção infantil mudou os rumos da cidade de 17 mil habitantes e a vida de muitos paranaenses. Maria do Carmo, 42 anos, é um exemplo. Até os 38 anos, ela trabalhava nos Campos Gerais, onde plantava eucalipto. Hoje, o cenário é o mesmo, um sítio, mas agora ela não lida diretamente com a terra. Maria atua no setor de corte de roupas e também dirige o ônibus que transporta funcionários da empresa Baby Doces Momentos, confecção localizada em um sítio de cinco alqueires que produz cerca de 20 mil peças ao mês. "Agora me sinto melhor. Antes trabalhava no sol com uma bomba de 20 litros nas costas para pulverizar e plantar", conta.
Um dos empresários do segmento e também prefeito do município, Ivan Reis (PP) diz que o APL representa a transformação da figura do volante e boia-fria para um trabalhador de carteira assinada e que tem garantia de renda familiar. "Hoje só não trabalha quem não quer. Há falta de mão de obra qualificada", afirma. Por isso, muitos empresários têm investido em unidades em cidades próximas, como Guaíra, Palotina, Francisco Alves (todas no Paraná) e Iguatemi, no Mato Grosso do Sul.
Determinação de empresária deu nova vida à cidade
Quem imaginava que um lugar tão distante, conhecido pela produção agrícola, seria polo nacional de produção de roupas para crianças? A ideia nem passava pela cabeça da empresária Celma Rossato, 46 anos.
Mas foi do esforço dela que tudo surgiu. Na década de 1980, a atividade mais comum aos moradores da cidade era o trabalho de boia-fria. Foi da necessidade de fazer roupinhas para o seu primeiro filho, em 1985, que outro caminho apareceu e Celma começou a costurar.
Os modelos criativos chamaram atenção e ela passou a bordar para vender. No início, sem dinheiro para comprar matéria-prima, Celma começou a fazer panos de prato, com tecidos usados em sacos de açúcar, e vendia de porta em porta. Um dia, uma cliente pediu para que ela bordasse as primeiras peças de roupa para bebê. Eram cinco caixas de fralda. Acabou criando 20 modelos.
Encantada, a cliente presenteou Celma com uma caixa de fraldas. Ela cortou as peças em quatro partes e fez 20 fraldas de boca, todos vendidos em uma loja de artesanato em Palotina, cidade vizinha. O sucesso incentivou Celma a fazer calças, babadores, casaquinhos e o negócio criou forma. O apoio do marido, Eugênio Rossato, atual gestor do Arranjo Produtivo Local (APL), também pesou. Ele vendeu as férias na cooperativa onde trabalhava para comprar uma máquina e depois pediu demissão para ajudar a esposa.
Grávida do terceiro filho, em 1991 Celma foi a São Paulo e levou o mostruário. Uma lojista se encantou com o produto e a estimulou a abrir uma empresa. "A partir daí foi como se as asas se abrissem", conta. Os produtos começaram a ganhar as vitrines paulistanas e Celma foi procurada por inúmeros representantes de venda.
Em 1992, ela fundou a empresa na qual está à frente hoje, a Paraíso Moda Bebê. Cinco anos depois, alguns funcionários começaram a sair do emprego e abriram o próprio negócio o que fez surgir o polo de moda bebê na cidade. "A moda bebê começou com um simples gesto: de amor. Amor pela criança que iria nascer sem roupa", diz Celma.