Um litoral pequeno como o paranaense 98 quilômetros de extensão , com poucas ilhas, não é o ambiente ideal para a formação dos recifes naturais. Essas estruturas costumam estar associadas às regiões de costão rochoso, ou seja, à costa ou a ilhas. Por aqui, 80% do fundo marinho são formados por sedimento arenoso. E por que precisamos dos recifes? É neles que a vida marinha se desenvolve, já que são fontes de alimentação e são usados para refúgio e reprodução.
É por tudo isso que a Associação MarBrasil lançou, em 2006, o Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) a partir de um acordo com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Paraná (Seti) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR). O Rebimar foi o primeiro programa a receber o licenciamento do Ibama para o lançamento de recifes artificiais na costa brasileira.
Pesquisadores da UFPR, com o apoio financeiro do governo federal, haviam realizado um experimento entre 1997 e 2003. Naquele período, mais de 1,5 mil recifes artificiais de diversos tipos foram instalados nas imediações das Ilhas de Currais. A ação causou aumento da produtividade biológica e pesqueira à medida que limitou a ação dos barcos que fazem a pesca de arrasto.
Vida nova
A coordenadora de Biodiversidade da MarBrasil, Janaína de Araújo Bumbeer, explica que aproximadamente duas horas depois de lançados os recifes, aparecem os primeiros peixes. Para criar uma fauna mais permanente no local são necessários cerca de três meses. Já o tempo para formar uma comunidade grande e rica, completa Janaína, varia de 10 a 20 anos. Atualmente, 3,5 mil estruturas estão espalhadas em dez pontos do litoral paranaense, desde o balneário de Atami até Praia de Leste, a uma distância aproximada de 1.200 metros um do outro e a uma profundidade média de 14 metros. Todos estão em Pontal do Paraná. Essa linha ocupada pelos recifes artificiais está localizada há duas milhas e meia da costa.
Esses dez pontos contam com 120 blocos de concreto em cada um deles. Em novembro do ano passado a MarBrasil retomou os lançamentos dos recifes artificiais, "engordando" as estruturas já instaladas. A Gazeta do Povo acompanhou o último lançamento realizado nessa etapa. Quatro pilhas com 34 blocos de concreto foram levadas para o ponto de lançamento a bordo de uma balsa adaptada para esse trabalho, com quatro plataformas basculantes. Essas pilhas, com cerca de 1 metro de altura, são lançadas no mar assim que a balsa chega ao ponto sinalizado com boia, que indica a localização do recife artificial. Desta vez, mais de 16 toneladas de concreto desceram ao fundo do mar com a missão de fomentar a vida marinha.
Pescadores foram da desconfiança à parceria
Como toda novidade vem carregada de interrogações, alguns dos pescadores do litoral paranaense reagiram com desconfiança ao projeto do lançamento de recifes artificiais. O maior receio era que a novidade limitasse a atividade pesqueira, fonte de renda das comunidades. Mas houve quem apostasse suas iscas no Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha, o Rebimar. Um deles é Pedro da Silveira Alves, de 63 anos, 40 dedicados à pesca.
Sempre disposto a uma boa conversa, ele conta que apostou na ideia desde o início e colaborou com a equipe da Associação MarBrasil. Foram os pescadores que auxiliaram os técnicos na definição dos pontos para o lançamento dos recifes artificiais. O "Barba", como é conhecido no balneário de Ipanema, em Pontal do Paraná, lembra que o maior medo dos pescadores era perder área de pesca, já que ela não poderia ser praticada na linha em que são instalados os recifes. Mas essa área representa apenas 0,4% do espaço total liberado para a atividade.
São os pescadores que podem dizer se o lançamento dos recifes artificiais está cumprindo uma de suas missões, que é a recuperação dos recursos pesqueiros. Daniel Favoreto, 15 anos de mar, lembra que nesse período caiu de até 200 quilos por dia para cerca de 40 quilos diários o resultado da pesca. Por isso ele defende as ações que possam auxiliar na construção de uma nova realidade.Os pescadores sabem que os resultados serão alcançados a longo prazo, mas já começam a vislumbrar mudanças. Barba garante que espécies que antes não eram encontradas ou estavam em pequenas quantidades, como peixe-porco e robalo, agora são mais comuns.