No fim do ano passado o grupo suíço Straumann pagou meio bilhão de reais por 49% de uma empresa curitibana. Até então desconhecida fora do ramo odontológico, a Neodent empresa líder na América Latina no setor de implantes dentários e componentes, com 45% do mercado nacional ganhou as páginas das principais publicações econômicas do mundo.
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Fundada há 20 anos pelo cirurgião-dentista Geninho Thomé, a Neodent faturou R$ 240 milhões no ano passado e fabricou quase 1 milhão de implantes dentários (peças de titânio, parecidas com parafusos, que são fixadas no osso e recobertas com um material que imita o dente). Tudo feito na fábrica da empresa, na Cidade Industrial de Curitiba.
De acordo com Geninho Thomé, a Neodent surgiu da necessidade de atender os clientes, principalmente aqueles com menor poder aquisitivo. "Os importados eram caros e os nacionais não eram bons", lembra. Os primeiros implantes foram criados com ajuda de um ferramenteiro de Ponta Grossa. "Eu era professor e usava os implantes nas aulas", recorda Geninho, que fez mestrado e doutorado em Implantodontia no exterior, e até hoje continua trabalhando como cirurgião-dentista. O empresário também nunca parou de estudar e lecionar. "Trabalhar e estudar é uma necessidade minha e da empresa, que sempre tem o material constantemente aprimorado e testado", explica.
No Brasil, nas últimas duas décadas, o volume mensal de implantes dentários saltou de 10 mil para 200 mil. Hoje, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e Laboratórios (Abimo), 2,5 milhões de brasileiros usam implantes dentários, e o número deve aumentar para 5 milhões até 2020. Com 13 filiais e 15 pontos de distribuição em diferentes estados brasileiros, é neste mercado que a Neodent mantém seu principal foco.
Com Straumann, Neodent cobiça mais exportações
Dono de uma centena de patentes, crescimento muito acima da média e certificação da União Europeia e da Food And Drug Administration (FDA), órgão que regula alimentos, medicamentos e equipamentos médicos nos Estados Unidos, Geninho Thomé sentiu que era a hora de expandir. A Neodent compensa o câmbio com hedge natural: a matéria-prima, que é importada (titânio e zircônia), ficou relativamente mais cara nos últimos meses. No entanto, no exterior, os produtos estão muito mais competitivos.
Invadindo aos poucos os mercados americano, africano, europeu e asiático, a parceria com a Straumann, maior fabricante de próteses do mundo, não poderia vir em hora melhor. Enquanto a Neodent trabalha com o consumidor médio de implantes e instrumentos, a Straumann pretende conquistar o cliente chamado "premium" no país e restante da América Latina. A aquisição, em contrapartida, pode permitir à empresa brasileira entrar com mais força nos mercados emergentes. A meta é levar os produtos à Índia, China, Portugal e México. "Nesta parceria, eu destacaria a troca de tecnologia", diz. Segundo o presidente da empresa, a Straumann é o grupo que mais investe em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos do ramo no mundo.
Atualmente, menos de 10% do que é produzido na Neodent é exportado. Mas a meta é dobrar o volume nos próximos anos e transformar a empresa em uma das cinco maiores do mundo até 2016. "O plano é ampliar a liderança no Brasil, conquistando 50% do mercado até o fim de 2013 e crescer lá fora", diz Geninho.