Ensinar que é possível ter uma boa ideia e, a partir de uma orientação adequada e alguns contatos, levá-la em frente, ainda que com pouco dinheiro. Se a iniciativa puder ajudar uma comunidade inteira a sair da periferia da economia tradicional, então, melhor ainda. Esse é o objetivo do trabalho da Aliança Empreendedora, grupo que trabalha desde 2005 no fomento ao empreendedorismo para pessoas das classes C, D e E. "Nós acreditamos que métodos simples são eficazes para levar em frente uma boa ideia. Não é preciso ter uma grande fortuna à disposição ou uma infraestrutura elaborada. Nossa intenção é mostrar que, com uma rede de contatos e uma boa ideia, é possível empreender", conta Lina Maria Useche Kempf, uma das fundadoras da Aliança, que ocupa, atualmente o cargo de diretora da organização.
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A iniciativa da Aliança Empreendedora partiu de um grupo de amigos que, juntos, cursavam Administração de Empresas na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atuando em um projeto de extensão da universidade, o grupo percebeu que teoria e prática estavam desconectadas. "O que a gente via na faculdade, não era o que os microempreendedores tinham à disposição", conta Lina.
Abrir portas
Dessa forma, nasceu a ideia da Aliança Empreendedora, que tem a missão de atuar como uma ferramenta. "Nosso trabalho é levar acessos, construir pontes e abrir portas para essas pessoas que estão afastadas do ciclo tradicional da economia, mas que querem e têm potencial para empreender. Para isso, temos de quebrar paradigmas e mostrar que é possível abrir uma empresa com pouco dinheiro. Com R$ 1 mil", exemplifica.
Para que os recursos se multipliquem, a metodologia da Aliança Empreendedora se baseia em quatro pilares: o empreendedor precisa saber quem ele é, o que sabe, o que tem e quem conhece. "Nós simplificamos a linguagem empresarial e adaptamos todo o conhecimento para um formato mais prático, que o empreendedor entenda e de fato incorpore no seu dia a dia", diz Lina. "A cada projeto que atendemos, vamos a fundo para conhecer a realidade que estamos lidando, e adaptamos a nossa metodologia de trabalho para casa situação", complementa a diretora.
Além de traduzir o conhecimento empresarial para seu público, a Aliança atua como formadora de laços entre quem pode ajudar e quem precisa de ajuda. "Temos uma rede de apoio e fazemos conexões entre as pessoas. Isso é essencial", conta.
A 7 quilômetros de qualquer lugar
O distrito de Jardim São João Batista fica no meio do caminho entre Almirante Tamandaré e Rio Branco do Sul, na região metropolitana de Curitiba, e tem cerca de sete mil habitantes.
A 7 quilômetros de uma ou de outra cidade, os moradores do bairro precisavam se deslocar (e pagar passagem de ônibus) para atividades corriqueiras. Pagar uma conta, comprar créditos para o celular, acessar a internet e até mesmo para tomar um sorvete.
Vendo tudo o que faltava no bairro onde mora, o microempreendedor Edson da Maia, de 25 anos, decidiu que algo precisava ser feito para que as "faltas" fossem sanadas. A coincidência foi que Edson entrou em um ônibus onde estava colado um cartaz que chamava jovens empreendedores para umas das primeiras ações da Aliança.
A programação do evento incluía palestras sobre planejamento empresarial e, na ocasião, 10 projetos seriam escolhidos para apoio e acesso a microcrédito. Edson foi u escolhido. "Já tinha vontade de abrir um negócio. Com a ajuda da Aliança Empreendedora, vi como podia arriscar mais, sem errar", conta.
O empreendedor de Almirante Tamandaré conseguiu crédito de R$ 1.400, juntou esse valor com o dinheiro do acerto quando saiu do emprego de almoxarife e resolveu abrir uma loja que já ofereceu roupas e locação de filme, mas agora está focada em serviços de lan house e papelaria. Ele oferece sinal de internet a rádio e já tem 300 clientes. Edson hoje é um empresário formalizado e emprega a mãe e o irmão na loja. Além disso, ele replicou a iniciativa: ajudou quatro vizinhos (três vendedores ambulantes e um latoeiro) a conseguir a formalização dos seus negócios.