| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Na Pormade, funcionário que tem futuro é aquele que desobedece – desde que com boas intenções. O estímulo à indisciplina está explícito no terceiro item da lista de dez valores da empresa: “Desobedecer para fazer o melhor”.

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Tudo bem se não der certo. O quarto “mandamento” prega que “inovar é errar, sem perder as esperanças”. E o quinto diz que “erros são tesouros, quando bem evidenciados, mostrados e discutidos”. “Quando você confia nas pessoas que trabalham contigo, você elimina a burocracia. Ganha agilidade. E ganha resultado”, diz Cláudio Zini, presidente da empresa desde 1985.

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Esse espírito transformou a Pormade em uma das melhores empresas para trabalhar no país, conforme atestam diferentes levantamentos realizados nos últimos 15 anos. E fez dela referência em inovação, feito notável para uma fabricante de portas, produto aparentemente tão trivial.

Neste ano, a companhia de União da Vitória (Sul do estado) foi novamente um dos destaques do Prêmio Bem Feito no Paraná, com o terceiro lugar na categoria Pequenas e Médias Empresas. A premiação é uma iniciativa da Gazeta do Povo com apoio técnico do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).

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“Quando incentivamos a desobediência, estamos encorajando as pessoas a pensar diferente, sugerir inovações e melhorias, para que a empresa evolua. Não é porque a gente faz há dez anos de um jeito que precisamos passar os próximos dez fazendo do mesmo jeito”, explica o gerente de Recursos Humanos, Rafael Jaworski. “Quando nasceu, em 1939, a empresa fazia camas de mola. Se não tivesse evoluído, teria falido há muito tempo, como tantas outras.”

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Um dos marcos históricos da Pormade foi o momento em que ela deixou de fabricar janelas, na virada do século, para se concentrar em portas. Mais precisamente, um kit chamado “porta pronta”, que já vem com batentes, guarnições, fechadura, dobradiça e borracha amortecedora, e pode ser instalado em 15 minutos.

Mas um bom produto não basta. Ele precisa ter “serviço agregado”, diz Zini. “Quando uma construtora pede um orçamento, vamos à obra, levantamos os problemas e sugerimos a solução, que muitas vezes nem era o que o cliente queria, porque o cliente não sabe o que pode querer”, conta. “Depois, quem faz a instalação são técnicos indicados por nós. Porque a porta pronta só fica pronta para valer quando está instalada, abrindo e fechando.”

Ferramentas para inovar

Para que funcione, o estímulo à inovação exige método. “Muitos empresários reclamam que as pessoas não ajudam. Mas é preciso criar ferramentas. Não podemos supor que o operador vai largar a máquina na área de produção para fazer uma sugestão ao presidente”, diz Jaworski, do RH.

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A Pormade dividiu seus funcionários – hoje são 560 – em 29 “grupos de melhoramentos” que se reúnem uma vez por semana. Nesses encontros, as sugestões de mudança são discutidas e aprimoradas. A cada trimestre, os empregados elegem os quatro melhores projetos. Os grupos escolhidos são elogiados em frente aos colegas, em confraternização na própria fábrica, e depois em frente à família, num jantar com a direção da empresa.

Investir na educação do trabalhador dá retorno

A liberdade para sugerir e testar melhorias sem medo de fracassar torna o ambiente de trabalho mais agradável, mas não é a única razão para o sucesso da Pormade. Boa parte dele se deve ao investimento em educação.

Funcionários e seus familiares podem cursar ensino fundamental e médio dentro da empresa, que também ajuda a bancar cursos de graduação e pós. E a Universidade Corporativa Pormade faz treinamentos para desenvolver aptidões de que a companhia necessita, da produção à área de vendas.

“Muita gente diz que o investimento em educação se perde quando o funcionário deixa a empresa. Pois experimente investir em ignorância para ver se funciona”, diz Cláudio Zini, presidente da empresa.

“Quando o tigre está solto, a gente corre mais”, diz presidente

Cerca de 80% do faturamento da Pormade, que deve chegar a R$ 110 milhões neste ano, vem da venda para construtoras. Muito embora a fabricante de portas esteja entre os últimos fornecedores a serem afetados pelo fim do “boom” da construção civil, seus impactos já aparecem no balanço, que fechará 2016 com prejuízo.

Mas o presidente, Cláudio Zini, não parece particularmente abalado. “Adoro épocas de crise, e não podemos desperdiçá-las. O tigre está solto, e quando ele está solto a gente corre mais”, explica. Para contornar a recessão, a Pormade voltou a dar mais atenção ao consumidor final. Lançou um site de vendas de portas prontas em setembro e quer showrooms em 20 grandes cidades do país até dezembro de 2017, chegando a 50 no fim de 2018.