O líder da esquerda radical grega Syriza, Alexis Tsipras, afirmou nesta sexta-feira (1º) que quer "anular" o memorando que fixa o programa de austeridade da Grécia em troca de apoio da UE e do FMI, ao apresentar seu programa para as eleições legislativas de 17 de junho.
"O memorando pode ser aplicado ou anulado (...) e nós o anularemos", disse Tsipras que, segundo pesquisas, pode obter a vitória nestas eleições cruciais para o futuro da Grécia na zona do euro.
A proposta alternativa do Syriza pretende garantir um "saneamento orçamentário socialmente justo" e uma "participação igualitária da Grécia na zona do euro", acrescentou, em coletiva de imprensa.
Tsipras também afirmou que quer "renegociar" um acordo com a União Europeia (UE) e com o FMI para manter a Grécia sob assistência financeira, apesar de sua intenção de anular o memorando.
Os credores do país - UE e Fundo Monetário Internacional (FMI) - reiteraram nos últimos dias suas advertências para uma rejeição de Atenas em assumir seus compromissos de rigor orçamentário, definidos pelo governo anterior conservador-socialista, e ameaçaram cortar fundos do país e de uma saída deste da zona do euro.
Aos 37 anos, o chefe da esquerda radical que se tornou uma as principais figuras da política grega rejeitou este "pseudo dilema" que, segundo ele, se apresenta aos gregos sobre seu lugar na zona do euro.
Em troca, considera que a política de rigor aplicada é o "piloto automático que conduz à catástrofe" do país, e pode fazê-lo retornar ao dracma, a antiga moeda nacional.
O chefe de Syriza afirmou que seu partido, em caso de vitória, "buscará renegociar a dívida para reduzi-la drasticamente" ou tentará "obter uma moratória da dívida e um congelamento dos pagamentos até a estabilização ou a recuperação da economia".
Ovacionado por uma multidão que bradava que "chegou a hora da esquerda", Tsipras defendeu essencialmente "impostos sobre a riqueza e as altas rendas", assim como uma luta contra o desperdício e contra a corrupção para conseguir os recursos necessários para o governo.
Ele prometeu aos gregos, exaustos de tantos sacrifícios, um "congelamento imediato das reduções de gastos sociais, de salários e aposentadorias" já impostos, assim como a "anulação das dívidas das famílias e empresas endividadas".
Em uma lógica de esquerda, o Syriza pretende impor um "controle público" sobre o sistema bancário grego, assim como o "congelamento das privatizações previstas", em um total de 19,5 bilhões de euros, em particular da Eletricidade da Grécia.
O Syriza quadruplicou seu resultado de 2009 e se impôs como segunda força política do país, tendo como bandeira a rejeição da austeridade, nas eleições de 6 de maio, que não permitiram a formação de um governo.
O partido conservador Nova Democracia (ND) e o Syriza têm intenções de voto muito próximas nas últimas pesquisas, com publicação autorizada na Grécia antes das legislativas de 17 de junho, mas nenhum parecia ter possibilidades de alcançar a maioria absoluta.
Três destas pesquisas publicadas nesta sexta-feira colocavam a ND em primeiro lugar, mas com pouca diferença, enquanto a quarta mostrava uma vantagem de 6% para Syriza, o partido que registra o maior crescimento em uma semana.
De qualquer forma, o vencedor se veria, sem dúvida, obrigado a estabelecer alianças governamentais para poder aspirar a uma maioria absoluta no Parlamento, de 300 cadeiras.
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