| Foto: Edson Alves/Gazeta do Povo

O ex-deputado estadual Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, em entrevistaexclusiva para a Gazeta do Povo, contou como conseguiu o dinheiro para fazero depósito de R$ 10,8 milhões para indenizar os clientes do ConsórcioNacional Garibaldi. Ele voltou a negar que tenha sido o sócio de fato doconsórcio, fazendo várias acusações ao Banco Central. Leia abaixo osprincipais trechos da entrevista.

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O senhor sempre disse que não tinha nada a ver com o Consórcio Nacional Garibaldi. Então, por que o senhor fez o depósito milionário?

Tony Garcia - Primeiro, nós como já falamos em outras oportunidades, quero deixar claro: em nenhum momento da minha vida eu fui dono do Consórcio Nacional Garibaldi. Participava das empresas que eram coligadas, trabalhavam com ele. A empresa que fazia o seguro dos prestamistas (consorciados), a corretora era minha, as empresas que faziam entrega de bens era de familiares que eu também estava à frente, isso nós fizemos. Mas nunca estive na administração do Consórcio Nacional Garibaldi. Pelo contrário, eu nem morava no Paraná naquela época quando tinha o consórcio em que a sede era aqui em Curitiba.

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O que se deu foi na época foi uma movimentação política em 1994. Um determinado candidato (não vou citar mais o nome porque já faleceu) procurou integrantes do Ministério Público, do Banco Central, na época, que inviabilizaram o consórcio em relação ao reajuste de saldo de taxa e o levaram a liquidação. No entanto, nem a comissão de inquérito, do Banco Central, que fez o levantamento de tudo, nem a própria falência, não tem uma só linha que cite o meu nome.

O que houve é que três funcionários do Banco Central intimidaram ex-funcionários do Garibaldi, que na época eram proprietários de consórcio menores, para me envolver com o Garibaldi. Se isto não ocorresse eles não receberiam autorização tocar seus negócios. Eu só estou tendo agora a oportunidade de levar isto a juízo.

Em relação ao Consórcio Garibaldi, digo a mesma coisa: eu fiz um acordo de colaboração com a justiça. Fiz um acordo de colaboração e estou cumprindo, estou fazendo o que o juiz arbitrou. O meu acordo era poder ter entrado dentro falência , com os quesitos que apresentamos de se fazer uma perícia profunda para saber onde está o dinheiro do consórcio que tinha lá dentro. O consórcio era plenamente líquido com o reajuste de saldo de caixa, tinha dinheiro, tinha tudo.

O Consórcio Garibaldi tinha dinheiro em caixa? Quanto? Qual era o crédito que ele teria a receber dos consorciados?

Ele teria cerca de R$ 4 milhões em caixa, imóveis e mais de R$ 7 milhões e meio de créditos bons a receber, de parcelas de gente contemplada (clientes que receberam os bens).

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E qual era a dívida do Garibaldi?

Ele devia R$ 11 milhões. Mas o consórcio era líquido, todavia, o processo de liquidação foi totalmente atabalhoado, político, desastroso, do Banco Central. Eles queriam fazer política, e que hoje está aprovado nos autos, inclusive que pessoas foram obrigadas a me envolver, colocando o meu nome nisto. São processos que eu não posso apontar o pivo disto tudo, porque a pessoa já está morta, uma pessoa política que já morreu, e isso tudo foi apresentado por um grupo de comunicação para fazer política contra mim. Uma mentira repetida várias vezes se torna uma verdade, que eu continuo afirmando, como eu sempre afirmei, e vou afirmar até o resto da minha vida: estou pagando por uma coisa que não fiz, mas que foi arbitrada pelo juiz, eu tenho direito de falar, de saber onde está, cadê esse dinheiro, onde foi, quem pegou esse dinheiro, quem roubou o dinheiro do Consórcio Garibaldi. Não sei quem foi, não sei se foi o Banco Central, não sei se foram os interventores, não sei quem foi. Alguém desviou esse dinheiro, e eu só queria saber disso: que nome foi dado pelo juiz, queria saber quem desviou tudo isso.

Eu cumpri a minha parte com a justiça, estou seguindo a orientação dos meus advogados. Primeiro, eu deposito, encerro o que eu combinei, o que foi arbitrado, embora eu discorde muito disso, vou discordar para o resto da minha vida, mas está lá. A minha parte com a justiça está liquidada. Daqui para frente, eu vou tentar descobrir realmente quem é que roubou o Consórcio Garibaldi.

O valor do acordo feito com a Justiça, de R$ 10 milhões, foi questionado porque o rombo do consórcio seria de R$ 40 milhões na época. Se surgirem outros credores, o senhor tem certo receio de que a conta possa aumentar, aparecendo outras ações judiciais?

Eu gostaria que aumentasse para R$ 500 milhões de reais para ir atrás do verdadeiro culpado que é o Banco Central, que já está condenado. Ele está condenado a pagar esta conta. Eu estou pagando por uma coisa que eu não fiz. O Banco Central não pagou nem um tostão. Ele, como instituição, recorre, usa de todos os artifícios judiciais para protelar a sua condenação, já em segunda instância. Ele fugiu de tudo, inclusive recorreu do meu acordo. Aí, como começamos a fazer os questionamentos, e o acordo não estava podendo ser cumprido, O Banco Central criminosamente se retirou, deixando transitar em julgado, depois de ver que tinha dado um tiro errado.

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Isto porque ele queria arranjar alguém para assumir a sua culpa. O Banco Central queria alguém como bucha de canhão, e, como bucha de canhão, não vou servir para mais ninguém na vida. Especialmente para o Banco Central. Não tenho medo da conta, pelo contrário, o dinheiro está depositado lá, estou cumprindo a minha obrigação. Agora nenhuma pessoa vai tentar se habilitar, vai tentar fazer um joginho de advogados, que vai tentar botar a mão nesse dinheiro (depósito de R$ 10,8 milhões). Isso vai ser feito conforme o acordo: a parte que o juiz arbitrou, embora eu nunca tenha reconhecido a culpa, foi um arbitramento. Este é o teto máximo que se poderia discutir. Daí para frente é só para baixo, o que não foi vai se devolvido para minha pessoa.

O senhor pretende cobrar esse valores do Banco Central para esse 10 milhoes e 50 mil que o senhor depositou em juízo?

Lógico. Isso e muito mais, eu vou cobrar por perdas e danos, por tudo, dano moral, não só para mim mas à família, à empresa da família que foi colocada criminosamente no caso, baseado em política e em depoimento sob suborno de funcionários do Banco Central. A Justiça Federal tem depoimento disso aí.

Não sei se foi aberto um inquérito para esclarecer que pessoas foram coagidas para colocar o meu nome. Esses erros e equívocos começaram com o Banco Central. Pretendo não só cobrar isso, como cobrar perda e danos e todo o resto que eles me prejudicaram durante esse tempo todo.

O senhor tem decisão uma decisão favorável do Superior Tribunal de Justiça(STJ) que considera ilícitas as provas que o levaram para a prisão? Se tudo aquilo pode ser considerado nulo (as suspeitas de importação irregular de veículos, porte de armas e atrapalhar o trabalho da justiça no caso Garibaldi), por que o senhor cumpriu o acordo judicial e indenizou os consorciados? O consórcio não é seu? Certo? Então, por que o senhor cumpriu acordo?

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Eu já te falei numa outra entrevista aqui para você, eu te falei uma coisa: o cidadão Antonio Celso Garcia jamais estaria passando por isso aqui, jamais teria sido preso, jamais teria sido acusado. O cidadão Antonio Celso Garcia não existe em nenhum documento do Banco Central, em nenhum documento da justiça que prove alguma autoria de qualquer coisa. Pelo contrário, o cidadão Antonio Celso Garcia não existe nesse processo, como em vários casos de consórcios que quebraram no Brasil, 400 e poucos consórcios quebraram lobby das montadoras da época, quebraram os consórcios do Brasil, dos independentes. O que acontece, eu jamais teria sido citado.

Agora o cidadão Tony Garcia, aí sim, esse é o político. O cidadão Antonio Celso Garcia é uma coisa, o político Tony Garcia é outra. Aí, com os adversários todo tempo martelando a mesma coisa, dizendo várias vezes uma mentira para se tornar verdade, criou essa coisa que eu era isso, que eu era o dono. Tantas outras coisas foram ditas quando eu fui preso: um delegado federal disse que eu fazia tráfico de armas, todavia, um diagnóstico bem feito pela Polícia Federal desconsidera isto e outras bobagens que falaram na época, de fazer remarcação de chassi de automóvel.

Eles me acusaram de remarcar de veículos trazidos para cá que era um ato normal, só se foi descobrir depois da prisão depois de fazerem um monte de acusações que tive com Imposto de Renda, com tudo. Então, o cidadão Antonio Celso Garcia não está protegido pelos serviços políticos de Tony Garcia, que, embora não cumpra a função de político há mais de 6 anos, sempre cumpriu o seu dever, foi presidente de CPI, relator de CPI, recebeu honra ao mérito do Ministério Público pelas conclusões dos trabalhos, mas agora não tem direito a nada.

O que acontece: eu tenho família, eu tenho uma vida para tocar para frente. Vou ficar brigando com coisas lá trás?Não. Esse dinheiro é uma coisa agora que poderia ressurgir, reparar uma coisa imediata em questão de cumprimento, resgatar a minha credibilidade perante a justiça e perante a opinião pública. Eu faço o quê? Mesmo não sendo dono, não tendo a individualização do dano, nenhuma responsabilidade minha no papel conferida, eu faço pagamento agora, já fiz. E esse dinheiro vou buscar do Banco Central ou do responsável por isto. Vou inverter os papéis agora, eu não vou ser mais réu de nenhuma ação. Pelo contrário, serei autor, eu vou atrás de quem mentiu.

Como é que o senhor conseguiu os R$ 10,8 milhões para fazer o depósito judicial?

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Houve a transação de um imóvel da família. Tinha um acordo que ela me adiantaria esse dinheiro para fazer o pagamento, e eu teria um prazo bem maior do que a justiça tinha me dado para poder pagar o valor. E tem mais, eu trabalhando para frente, com a cabeça despreocupada, com a obrigação, aí sim, como cidadão, cumprida com a justiça, terei o tempo necessário para pagar esta dívida. Eu posse ser o que for, eu não sou bobo, não estou morto, sei ganhar dinheiro, vou ganhar como sempre ganhei na minha vida, honestamente.

O senhor pode dar detalhes sobre a transação do imóvel?

Vou apenas me reservar ao direito de não expor o grupo que comprou. Foi uma venda de imóvel, num valor alto, que já tinha um contrato [de locação] com a empresa. Ela já havia demonstrado interesse em comprar há muito tempo. A compra e o depósito foram feitos na segunda-feira dia 21 (julho), às 13 horas. A quantia vai ficar à disposição do juízo. E o que determinou esse valor (10,8 milhões) vai ficar à disposição da justiça, só que muito bem vigiado e cuidado por nós também. Queremos saber quem realmente tem o direito de receber, não vamos ninguém botar a mão no dinheiro do cidadão, pelo contrário, nós vamos estar de olho nisso, tudo como autor.

Mais alguma informação?

Quero deixar claro: não só cumprimos o que determinou a justiça, vamos encerrar um ciclo. Cumprimos, adiantando o que teríamos um ano e meio para se fazer, fazendo a quitação disso aí para tocar a vida para frente.

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O senhor já cumpriu a outra condenação, de prestação de serviços comunitários?

Não porque estava pendente de recurso, estamos esperando o processo voltar. Mas vou cumprir com a maior boa vontade, inclusive para atender as instituições carentes, o que já faço há muito tempo. Vai ser um prazer para mim, eu já atendi, já estou fazendo e vou cumprir a parte. Estou cumprindo a minha parte. Estou pagando pelo cidadão Antonio Celso Garcia, estou pagando pelo político Antonio Celso Garcia, mas o que determinou a justiça eu estou cumprindo, e a partir do momento que sou cumpridor, estou resgatando a minha credibilidade e minha vida para frente poder trabalhar com minha consciência tranqüila pelo menos na esfera pública tudo isso diminuiria de uma vez por todas.

O senhor pretende voltar para a política?

Quem sabe, um político nunca pode falar que não. Eu não sei, hoje, pelo que eu vejo de política, o que esta acontecendo com os políticos, eu não gostaria de voltar. Eu acho que arranjaria uma encrenca muito grande com a minha família, que não estaria de acordo. Meus filhos estão maiores hoje, e a decisão deles pesa. Enfim, acho que a 3 anos pela frente, e eu não posso falar que não. A principio eu não gostaria de participar.

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