Para sair do atoleiro
Confira algumas dicas dos especialistas em finanças pessoais Raphael Cordeiro e Pedro Guilherme Ribeiro Piccoli para quem está com problemas financeiros:
- Registre todos os gastos efetuados pela família e confronte-os com a receita média mensal. Faça um inventário das suas dívidas. Veja para quem deve, quanto deve, qual a maior dívida e qual é corrigida pelos juros mais altos. Priorize o pagamento das dívidas maiores e mais caras, como cartão de crédito e cheque especial.
- O ideal é tentar negociar um desconto sobre o valor do débito e pagar à vista. Se não puder, verifique se o valor da parcela da renegociação caberá no orçamento. Especialistas também recomendam negociar um abatimento dos juros da dívida.
- Se você costuma comprar mais do que ganha, é preciso mudar seu padrão de consumo, o que, para muitos especialistas, é a etapa mais difícil, porque implica uma mudança de hábito. Exige disciplina e reavaliação de prioridades. O ideal é que o comprometimento com pagamento de dívidas não supere os 30% a 40% da renda familiar mensal.
- Se mesmo com a renegociação, as dívidas não baixaram a esse limite, talvez seja o caso de adotar medidas mais drásticas como a devolução do bem financiado, como o caso do automóvel. Elimine gastos supérfluos, como cinema, jantares fora de casa e compra de bens de consumo.
- Uma forma de evitar problemas é manter uma reserva financeira para eventuais imprevistos, como perda de emprego e gastos extras. Recomenda-se que se tenha uma economia equivalente de quatro a seis meses de gastos mensais, que é o tempo médio de recolocação no mercado.
Recuperação
"Quero voltar a comprar"
O operador de máquinas Valdecir Pinheiro, 39 anos, ficou desempregado e sem dinheiro para pagar um empréstimo, contratado em 2007. Com os juros, a dívida virou uma bola de neve. Hoje, com emprego novo, ele quer regularizar a situação. Pinheiro vai usar parte do 13º salário para tentar negociar com o banco a dívida de R$ 3,5 mil.
"É chato porque a gente fica sem crédito, olha as vitrines e não pode comprar. Tenho até vergonha de entrar em loja. Hoje só posso comprar à vista não posso comprar um carro, porque eles não aprovam o cadastro", diz. Segundo ele, a ideia é usar o dinheiro extra do 13º para pagar uma parte dos débitos, que incluem, ainda, uma conta de R$ 180 em uma loja. "Talvez a gente pegue até o 13º da minha esposa. Vamos tentar negociar. O importante é sair dessa situação e poder voltar a comprar", diz. (CR)
Com o aumento da inadimplência e a proximidade do Natal, comércio e bancos abriram a temporada de negociações com clientes endividados. O objetivo é fazer com que o comprador aproveite o dinheiro extra do 13.º salário e da restituição do Imposto de Renda para recuperar crédito e voltar a comprar no fim do ano.
O nível de inadimplência do consumidor brasileiro subiu bastante nos últimos meses: de janeiro a agosto, o calote aumentou 23,4% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Serasa Experian.
Segundo Fernando Sasso, economista-chefe da Confederação Nacional dos Dirigentes lojistas (CNDL), o cenário de maior restrição do crédito, alta dos juros e inflação em alta fez com que aumentasse o número de pessoas com dificuldade para pagar suas contas. "Agora é um bom momento porque o comércio deseja que esse cliente volte a comprar; e o comprador, por outro lado, tem um ganho extra e até mesmo o aumento da renda, fruto dos grandes dissídios salariais", diz.
Pesquisas da entidade indicam que o brasileiro deve em média entre R$ 250 e R$ 500 no comércio, e ainda é grande o número daqueles que ficam inadimplentes porque perderam o emprego ou "emprestaram o nome" para amigos ou parentes.
Segundo a CNDL, metade dos consumidores que regularizam sua situação volta a comprar nas lojas depois de quitar a dívida. A Serasa Experian estima que cerca de 4 milhões de brasileiros renegociem dívidas entre setembro e o fim do ano, 33% mais que no ano passado. Pelo terceiro ano consecutivo, a entidade vai colocar em prática uma campanha de incentivo à renegociação de débitos.
Descontrole
De acordo com Vander Nagata, superintendente da Serasa, vem crescendo a inadimplência provocada pelo descontrole financeiro. "As pessoas das classes C e D, que passaram a experimentar o consumo nos últimos anos, ainda estão aprendendo a lidar com o crédito. Nesse processo é natural que ocorram alguns tropeços", afirma.
De acordo com o Banco Central, as famílias estão gastando 21% do que ganham com dividas. É um porcentual mais baixo do que em países desenvolvidos, onde as médias variam de 25% a 30%, mas mesmo assim há uma preocupação com a maior lentidão de recuperação do crédito.
Os números do BC também revelam que modalidades de crédito mais caras como cheque especial e cartão de crédito têm crescido, o que indica que o consumidor está recorrendo a esse tipo de dinheiro para fechar as contas no fim do mês. Por enquanto, a inadimplência não é encarada como um problema grave, mas pode vir a sê-lo em um cenário de desaceleração, com aumento de desemprego e redução da renda. "A inadimplência precisa ser monitorada. Já acendeu a luz amarela", afirma Raphael Cordeiro, especialista em finanças pessoais.
Desconto e mutirão para estimular o pagamento
Por dia, passam cerca de 1,2 mil pessoas pelo serviço de recuperação de crédito da Associação Comercial do Paraná (ACP), que mantém, há cinco anos, um programa de renegociação de dívidas. A maioria vai apenas consultar a situação dos débitos.
Segundo Simone de Cassia Masucci, supervisora de serviços da ACP, o projeto funciona principalmente com pequenos lojistas e reúne 2 mil empresas. "O consumidor não precisa ir até a loja; pode negociar direto na ACP. O cliente pode pagar à vista, com desconto, ou parcelar em três vezes com juros", explica. Em média, são realizadas 80 negociações por dia.
As pesquisas da ACP mostram que "emprestar o nome", gastar além do que se ganha e a perda do emprego predominam entre as causas da inadimplência. Simone observa ainda que é expressivo o número de reincidentes aqueles que quitam uma dívida e voltam a atrasar contas na sequência.
De olho no aumento da inadimplência, a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) vai promover neste ano, em seis capitais (Curitiba não está incluída), a campanha "Eu quero meu consumidor de volta", projeto que já existe há três anos em Belo Horizonte e que reúne, em um mesmo espaço, representantes de lojas, bancos e financeiras, e os clientes que querem renegociar. Fernando Sasso, economista da CNDL, diz que dos 25 mil participantes na edição do ano passado em Belo Horizonte, 13,5 mil quitaram seus débitos os consumidores conseguiram descontos de até 55% na dívida.
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Interatividade:
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