O Brasil começa a dar os primeiros passos para inserir o sol em sua matriz energética. A implantação de dois "estádios solares" e a criação da primeira usina de geração fotovoltaica relevante no país, até o fim deste ano, devem funcionar como "incubadores" para atrair investimentos e incentivar a formação de uma indústria relacionada à energia verde.A ideia é usar a Copa de 2014 como vitrine para a energia solar, instalando painéis geradores na cobertura dos estádios do Mineirão, em Belo Horizonte, e Pituaçú, em Salvador este último, no entanto, não faz parte do calendário do Mundial. A outra iniciativa parte da Eletrosul, subsidiária da Eletrobras, que pretende instalar painéis em sua sede, em Florianópolis, com capacidade de 1 megawatt (MW), criando assim a primeira usina em larga escala do gênero no país.
As iniciativas foram apresentadas ontem na embaixada brasileira em Berlim, na Alemanha, despertando o interesse de empresários e investidores do setor. Parte dos recursos será financiado a fundo perdido pelo banco de investimentos alemão KfW, equivalente ao BNDES no Brasil.
Os projetos, que do ponto de vista da geração são modestos somados, terão capacidade de 2,4 MW , devem consumir R$ 40 milhões em investimentos, produzindo energia o suficiente para alimentar apenas 1,3 mil residências. Isso deixa claro algo que nem mesmo os defensores mais ferrenhos desse tipo de tecnologia tentam esconder: apesar de limpa, a energia solar é cara se comparada a outras fontes disponíveis.
"Mas não estamos falando de apenas um megawatt, estamos tratando do futuro desse tipo de geração no país e a possibilidade de levá-la, a partir do Brasil, para todo o continente", defende Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal, entidade que defende o desenvolvimento de energias alternativas.
Para tornar a geração solar economicamente viável, os especialistas apontam a necessidade de o governo brasileiro agir como indutor, realizando leilões exclusivos para a compra dessa energia, em um processo semelhante ao que possibilitou a introdução da fonte eólica no país, há alguns anos. Especula-se que até o fim do ano o Ministério de Minas e Energia anuncie tal medida.
"A partir do leilão, cria-se um mercado e a possibilidade de desenvolver uma indústria no país", defende o presidente da Eletrosul, Eurides Mescolotto. Segundo ele, a energia solar não é uma necessidade urgente, já que cerca de 80% da eletricidade do país vem das hidrelétricas, fonte limpa e renovável. "Mas pode ser um complemento a esse modelo. No Brasil temos a principal matéria prima o ano todo. Podemos ser o maior produtor mundial de energia solar", afirma.
O chefe para a América Latina do Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha (BMZ), Harald Klien, entende que o Brasil assumiu um protagonismo global, principalmente em questões relacionadas ao clima, e que a opção pela energia solar reforça essa posição. "A Alemanha voltou seus esforços de cooperação para o Brasil neste novo papel. Temos metas de cooperação bastante ambiciosas para o futuro, capaz de dar um grande impulso para o setor elétrico. Compete a nós, representantes dos dois governos, envolver o setor privado", ressalta.
O encarregado de negócios (embaixador-interino) da embaixada brasileira em Berlim, Roberto Colin, diz que a energia sempre foi um item importante na pauta das relações bilaterais. "Os alemães olham para o Brasil com interesse e eles têm muito a nos oferecer nessa área. A energia solar ainda parece algo distante para nós, mas é necessário começar."
O repórter viajou a convite da Eletrosul