As empresas do Paraná fecharam 49,8 mil postos de trabalho no mês passado, como resultado de 61,5 mil contratações e 111,3 mil demissões. Em todo o Brasil, apenas São Paulo e Minas Gerais eliminaram mais vagas no período. Classificado de "pequena desaceleração" pelo governo estadual, o saldo negativo foi o maior para meses de dezembro da série histórica iniciada em 1992 até então, o pior desempenho havia sido o de dezembro de 1998, quando 36,9 mil postos foram fechados.
O baque também impediu o Paraná de bater seu recorde anual de geração de empregos, perspectiva alardeada pelo governo durante boa parte do ano passado. Ainda não há dados oficiais sobre janeiro, mas já há relatos de demissões em segmentos como a agroindústria, no interior do estado, e o bancário, na capital.
O resultado do mês passado dá continuidade ao forte movimento de desaceleração iniciado em outubro, logo após o estouro da crise internacional. Naquele mês, o estado criou 6 mil vagas, com queda de 54% em relação a outubro de 2007. Em novembro, foram fechados 172 postos, revertendo o dado positivo de igual período do ano anterior.
"Historicamente, o mês de dezembro costuma ter saldo negativo, porque são encerrados contratos temporários de trabalho, além de ser época de entressafra na agricultura", diz o economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PR). "Mas, desta vez, outros setores, que normalmente não apresentam saldo tão negativo, também tiveram quedas acentuadas."
Até novembro, a geração de empregos no estado era a maior da história, mas a extinção de quase 50 mil vagas em dezembro "rebaixou" o ano de 2008 ao posto de terceiro melhor resultado da série. De janeiro a dezembro, houve 1,25 milhão de contratações e 1,139 milhão de demissões, com saldo positivo de 110,9 mil vagas abaixo das 122,4 mil criadas em 2007 e das 122,6 mil de 2004.
A indústria foi o setor que mais fechou vagas no Paraná em dezembro, com saldo negativo de 25,4 mil postos no mesmo mês de 2007, o déficit havia sido de 17 mil vagas. O setor de serviços encerrou 9,9 mil postos de trabalho, mais que o dobro das vagas fechadas em igual período de 2007 (4,9 mil). O setor agropecuário aparece na sequência (queda de 6,8 mil empregos). Apenas o setor de serviços industriais de utilidade pública, do qual fazem parte empresas como a Copel, registrou saldo positivo de 57 vagas.
Interpretação
Representantes do governo estadual minimizaram o recorde negativo de dezembro, concentrando suas avaliações nos resultados acumulados de 2008. "Tivemos um crescimento incrível no início do ano e uma pequena desaceleração em novembro e dezembro com a entressafra agrícola, férias escolares e período de chuvas. Ainda assim, o Paraná fechou 2008 com um excelente número de empregos formais", disse o secretário do Trabalho, Nelson Garcia, à Agência Estadual de Notícias.
Para o diretor-geral da Secretaria do Trabalho, Fernando Peppes, os dados de dezembro foram muito afetados por um setor específico a indústria. "Isso mostra que o emprego no Paraná deixou de ser concentrado na agricultura e passou a ser muito importante também na indústria da transformação. Por isso, a queda foi expressiva", disse Peppes, acrescentando que o avanço no número de empregados no estado, de 5,7%, superou o aumento médio nacional. Peppes também não demonstrou preocupação em relação ao ano de 2009. "Na segunda semana do ano, havia cerca de 8 mil vagas abertas nas 245 agências do trabalhador do estado, 3 mil a mais que na semana anterior."
Para Sandro Silva, do Dieese-PR, a forte retração do último trimestre, quando o Paraná fechou 44 mil vagas, foi um resultado atípico. "Não acredito que haja queda nos empregos neste ano, pois a perspectiva é de um crescimento menor da economia, e não de uma queda. Por isso, o emprego deve crescer novamente em 2009, embora abaixo de 2008. O problema é que o número de vagas pode crescer menos que o necessário para absorver os jovens que estão ingressando no mercado. Daí a possibilidade de que o desemprego aumente."
Interior
O fim de uma parceria com a Sadia fez o abatedouro de frangos da Globoaves, de Cascavel (Oeste), demitir 450 trabalhadores e fechar um turno de produção. O contrato de parceria, encerrado neste mês, não foi renovado. Mas, segundo a assessoria da Globoaves, o desenvolvimento de uma nova linha de produtos fez com que a empresa recontratasse 250 pessoas entre as demitidas. Também há rumores de que a Sadia teria dispensado cerca de cem pessoas de sua unidade de Toledo, também no Oeste, além de trabalhadores da unidade administrativa de Curitiba. Segundo a assessoria da Sadia, nenhum diretor estava disponível para confirmar ou não os cortes.