Estados Unidos e China avançaram, nesta segunda, nas negociações comerciais que poderiam resultar em uma reunião de cúpula entre os presidentes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping, no final deste mês.
A China esperava que se Xi viajasse aos EUA para assinar um acordo de fase um como parte de uma visita de estado, mas está disposta a viabilizá-la, mesmo a assinatura não ocorrer. O primeiro ministro chinês, Li Keqiang, se reuniu nesta segunda com uma delegação americana, que inclui o assessor de segurança nacional Robert O’Brien e o secretário de Comércio, Wilbur Ross, em uma cúpula regional em Bangkok.
Antes de reunir-se com Li, Ross disse em um fórum comercial que os Estados Unidos tinha “avançado bastante” na “fase um” de um acordo comercial com a China. Nenhuma decisão final foi tomada, disse um funcionário chinês que pediu para não ser identificado.
Em uma entrevista à Bloomberg no domingo, Ross expressou otimismo porque os Estados Unidos concluiriam um acordo com a China este mês, antes de discutir fases adicionais. Ele também disse que as licenças chegariam "muito em breve" para as empresas americanas poderem vender componentes para a companhia chinesa Huawei.
Acordo “particularmente complicado”
Ross qualificou o acordo da fase um de "particularmente complicado" e disse que os EUA estava "certificando-se de que cada lado tenha um entendimento muito correto, claro e detalhado do que foi acordado”. Iowa, Alasca, Havaí e localizações na China são lugares possíveis para Trump e o presidente Xi Jinping assinem o acordo após o cancelamento da cúpula de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico deste mês no Chile.
Ross e o conselheiro de segurança nacional Robert O'Brien estão liderando uma delegação americana em reuniões organizadas pela Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), com 10 membros, na Tailândia. Ross disse, na segunda-feira ,que o governo Trump permanece "totalmente comprometido" com a região do Indo-Pacífico, apesar da ausência de Trump ao evento.
Os líderes asiáticos devem anunciar separadamente um avanço em outro pacto comercial, a Parceria Econômica Global Abrangente (RCEP, na sigla em inglês), apoiada pela China, ao final das reuniões. Permanece incerto se o pacto incluiria a Índia.
Ross na entrevista subestimou a importância do RCEP, que pretende reduzir tarifas em uma área que representa cerca de um terço da economia global, e defendeu os o compromisso dos EUA na Ásia, depois que Trump não ir às reuniões da Asean pelo segundo ano consecutivo.
Questões controversas permanecem e os termos ainda não são conhecidos, mas o RCEP preencheria pelo menos parcialmente uma lacuna comercial deixada pela saída de Trump de 2017 da Parceria Transpacífica. O Sudeste da Ásia tem, coletivamente, a quinta maior economia do mundo e tem lutado para superar as consequências econômicas das tensões comerciais EUA-China.
Conversas “construtivas”
Os principais negociadores norte-americanos e chineses falaram ao telefone na sexta-feira e descreveram as negociações como "construtivas", pois buscam diminuir as tensões em uma guerra comercial que provocou turbulências no crescimento global. No sábado após a ligação, a mídia estatal chinesa reiterou as principais demandas do país, incluindo a remoção de todas as tarifas punitivas.
O acordo levaria a China a aumentar as importações de produtos agrícolas dos EUA, manter sua moeda estável e abrir mercados de serviços financeiros para empresas americanas. Em troca, Pequim quer que os EUA acabem com os novos impostos de importação que entrarão em vigor em 15 de dezembro em mercadorias como smartphones.
Ross não se comprometeu a decidir se o governo Trump suspenderá o aumento das tarifas em dezembro. Ele também disse que as fases posteriores do acordo dependerão de questões envolvendo legislação por parte da China e um mecanismo de execução.
Questionado sobre uma possível reunião entre Xi e Trump, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang, repetiu que os dois estão "em contato por vários meios" em um briefing regular em Pequim na segunda-feira.
Dúvidas chinesas
As autoridades chinesas têm dúvidas sobre chegar a um acordo comercial de longo prazo, mesmo quando os dois lados se aproximam do acordo da primeira fase, informou a Bloomberg na semana passada.
A China afirmou há meses que um acordo final deve incluir a remoção de todas as tarifas punitivas e se recusou a realizar reformas em áreas como empresas estatais que poderiam comprometer o controle do Partido Comunista sobre o poder.
Trump colocou dezenas de empresas chinesas na "lista de entidades" do Departamento de Comércio, dificultando sua capacidade de comprar software e componentes americanos. A medida teve como alvo a Huawei em maio por razões de segurança nacional e, no mês passado, adicionou mais 28 empresas, incluindo a gigante de inteligência artificial SenseTime, Megvii Technology e Hangzhou Hikvision Digital Technology.
As entidades da lista são proibidas de fazer negócios com empresas americanas sem a concessão de uma licença governamental, embora alguns tenham mantido relações com empresas proibidas por meio de subsidiárias internacionais. O governo da China sinalizou que vai reagir à lista. As empresas negaram irregularidades.
A lista está prejudicando as empresas americanas que fazem negócios com a China e, principalmente, com a Huawei. Trump disse em junho, depois de se encontrar com Xi no Japão, que "facilmente" concordou em permitir que as empresas americanas continuassem determinadas exportações para a Huawei, e semanas depois Trump disse que acelerou o processo de aprovação de licenças.
Ainda assim, nenhuma licença foi concedida até o momento. O presidente, ainda neste mês, deu sinal verde à aprovação de licenças em uma reunião com consultores, segundo pessoas familiarizadas com o assunto, mas um anúncio ainda não foi feito.
Ross disse no domingo que as licenças "serão entregues muito em breve", observando que o governo recebeu 260 pedidos.