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Estagnação da economia sufoca expansão da “nova classe média”

Loja de eltroeletrônicos em Curitiba: crédito foi a chave para o consumo da nova classe média. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Loja de eltroeletrônicos em Curitiba: crédito foi a chave para o consumo da nova classe média. (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

A expansão da “nova classe média” está ameaçada. Os trabalhadores que subiram de vida com o aquecimento do mercado formal, a valorização do salário mínimo e as transferências de renda agora se veem encurralados pelo avanço do desemprego, da inflação e das taxas de juros. Para economistas, é grande a chance de que a classe média encolha neste ano, com muita gente retornando a camadas mais pobres.

“Com a crise e, ainda mais, com as políticas severas de ajuste fiscal, este processo [de ascensão social] tende a ser abortado da pior forma possível, estagnando um movimento de inclusão ainda prematuro”, avalia a economista Vivian Garrido Moreira, que em seu doutorado na USP defendeu uma tese sobre distribuição de renda e crescimento econômico.

A avaliação de Vivian e de outros economistas é que as pessoas que ingressaram na classe C nos últimos tempos ainda não haviam firmado os pés nesse estrato social e, por isso, são mais vulneráveis aos tremores da economia.

“O desemprego está aumentando, o que significa que os melhores postos de trabalho serão disputados ferrenhamente. Quem tem baixa qualificação vai concorrer com profissionais mais qualificados. Muita gente será levada a aceitar salários mais baixos”, diz Waldir Quadros, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Segundo o IBGE, a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas chegou a 6,2% em março, a mais alta em quase quatro anos. Afetado pela inflação e a disputa por vagas, o rendimento real dos trabalhadores caiu 3% em relação a março de 2014, no maior recuo em mais de uma década.

Pesquisa feita em fevereiro pelo Instituto Data Popular revelou alguns dos maiores temores da classe C: 55% dos entrevistados acreditam que o cenário para o emprego piorou e 84% acham que os salários não terão aumento ou subirão abaixo da inflação.

Ciclo interrompido

Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), Quadros, da Unicamp, constatou que o ciclo de melhorias que ocorria desde 2004 já foi interrompido, dois anos atrás. Entre 2012 e 2013 quase 3,4 milhões de pessoas teriam deixado classes mais altas, a maioria rumo ao que ele classificou de “baixa classe média”, e cerca de 1 milhão teriam sido rebaixadas desta última camada. “É possível que o mau desempenho tenha se mantido em 2014 e 2015”, avalia Quadros.

Em outra simulação, o economista concluiu que um retorno do quadro social às condições de 2010 provocaria um encolhimento em todas as faixas da classe média, principalmente na mais baixa – justamente a que mais cresceu com a ascensão social. Conforme a estimativa, quase 8 milhões de pessoas desta camada seriam rebaixadas para os grupos de “massa trabalhadora” e “miseráveis”.

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