Belluzo: “não se discute estratégia no Brasil”| Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press

Conselheiro informal da presidente Dilma, o economista Luiz Gonzaga Beluzzo critica as estimativas sobre a queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2014. Mas alerta: governo precisa criar horizontes para o investimento voltar.

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Como o senhor viu a alta de 0,2% do PIB no primeiro trimestre?

Imaginava algo assim, o resultado viria ruim até pela queda da indústria automobilística. O problema é a expectativa daqui para frente. A taxa de crescimento do próximo trimestre virá fraca se não houver impulso nos investimentos. Se isso não ocorrer, não diria que haveria uma leve recessão, embora isso não possa ser afastado, mas a economia poderia andar devagar.

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O país está sem motor do crescimento?

O investimento depende de decisão empresarial e financiamento e demora até produzir efeitos. Muitos empresários estão analisando mal a conjuntura. E os investimentos públicos, as concessões e a Petrobras, que têm muito peso, não estão avançando com velocidade. Já era esperada a redução do consumo das famílias. De 2010 para cá, o declínio é progressivo, pois aumentou o endividamento das famílias, o que compromete a renda. Isso limita a venda de bens duráveis. Você compra uma TV, não três.

A solução para o Brasil é melhorar sua produtividade?

Defender o aumento da produtividade é como dizer: é preciso curar as doenças para as pessoas terem saúde (risos). Temos que pensar na situação industrial, na articulação das cadeias produtivas. O Brasil está atrasado em vários pontos, mas tem perspectivas no pré-sal, em energia, etanol, infraestrutura. Tudo isso terá um forte impacto. O Brasil tem oportunidades, mas estamos fazendo agora a passagem de mudança do eixo do crescimento, do consumo para os investimentos. Não é trivial.

Por que o investimento não cresce?

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O problema é como articular tudo isso. Precisamos de uma estratégia de integração de cadeias produtivas. Não é só fazer acordos comerciais. O que não podemos é ser atropelados por uma onda de importações de itens que poderíamos fazer aqui, com alguma insistência, com ganhos de produtividade. Olhando a longo prazo, vemos oportunidades, mas isto não cai do céu. O importante é debater se o Estado está usando os instrumentos corretos para induzir o setor privado. Na China, há articulação entre os setores: indústria, infraestrutura, saneamento, transporte. Eles estão virando o jogo para depender menos da exportação. É um país que tem estratégia. O que vejo no Brasil é que não se discute estratégia. A discussão fica sobre o tripé econômico.

Mas o Brasil não está preso ao modelo de incentivo ao consumo?

As pessoas opõem, erroneamente, o consumo ao investimento. É claro que se você ampliar o investimento vai fazer crescer o consumo. O problema é que o consumo, sobretudo de duráveis, tem limites. Hoje vemos o consumo crescer, e a indústria não cresce, pois temos um desequilíbrio de preços relativos que fazem com que as pessoas consumam e isso faz com que as importações aumentem. Você só tem um setor de serviços sofisticados se houver uma boa base industrial. A divisão de setores é cada vez menor.

O PIB potencial está caindo?

É muito difícil fazer a estimativa do PIB potencial. Não sei como estão calculando isso. Muitas vezes isso é chute. Acho que deveríamos fazer uma seleção de economistas. Se essa seleção atual não der certo, vou indicar pro Felipão, chama fulano, ele chuta bem, chama sicrano, ele não para de chutar, poderia ter uma seleção só de economistas de tanto que chutam (risos). Temos que aumentar nossa capacidade produtiva com investimento. Você só pode resolver isso com uma construção institucional. Começar pouco a pouco, com ação clara, mais orientada para o setor privado para que ele reaja, com crédito correto, com incentivos corretos, com horizonte. Precisamos desonerar o setor de capital de vez, desonerar o investimento de vez. É preciso também desonerar de fato a exportação de manufaturados.

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