Eletrobras foi a única empresa que dependia de aval do Congresso para ser vendida a ter o processo de desestatização concluído no governo Bolsonaro| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Uma das principais promessas de campanha de Jair Bolsonaro (PL) no período eleitoral de 2018, a agenda de privatizações avançou pouco sobre as grandes estatais. Passados quatro anos, o mandato se encerrou com a cessão de apenas duas empresas que eram controladas diretamente pela União: a Eletrobras e a Companhia de Docas do Espírito Santo (Codesa).

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Por outro lado, dezenas de desestatizações de subsidiárias, de controle indireto, ou empresas com participação minoritária da União ajudaram a reduzir a participação do Estado brasileiro na economia de mercado.

Segundo dados da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), do Ministério da Economia, em dezembro de 2018 a União controlava 213 companhias, das quais 46 diretamente e 160, indiretamente. Em dezembro de 2021, conforme dados da última atualização do Boletim das Participações Societárias da União, o número caiu 26,3%, para 157.

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Dados do painel Panorama das Estatais apontam que ao fim 2022, o total de empresas estatais federais deve somar 130, com 45 delas com controle direto da União e 85, indireto.

Com a posse do novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vários dos processos de privatização iniciados no governo Bolsonaro devem ser cancelados. No domingo (1º), em um dos primeiros atos após tomar posse, Lula assinou um despacho em que determina aos ministros que encaminhem propostas para retirar do processo de desestatização empresas públicas como a Petrobras e os Correios, entre outros.

Além disso, o futuro ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), afirmou que o projeto de desestatização da autoridade portuária de Santos, ainda em análise pelo Tribunal de Contas da União, deve ser descartado. “A autoridade portuária vai continuar estatal. O que a gente faz é concessão de áreas dentro do porto, de terminais privados”, disse.

Quais estatais o governo Bolsonaro tentou privatizar

No início da gestão Bolsonaro, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, falava em arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de estatais federais. Ele chegou a defender que fossem privatizadas todas as estatais, no que teria apoio do presidente.

Oficialmente, 20 empresas entraram em algum momento nos planos de privatização do governo federal e foram incluídas no Plano de Nacional de Desestatização (PND) ou no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), algumas com estudos iniciados já no mandato de Michel Temer (MDB):

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  • Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF);
  • Casa da Moeda;
  • Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasaminas);
  • Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec);
  • Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU);
  • Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp);
  • Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa);
  • Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp);
  • Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras);
  • Empresa Brasil de Comunicação (EBC);
  • Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT);
  • Empresa Gestora de Ativos (Emgea);
  • Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev);
  • Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. (Trensurb);
  • Loteria Instantânea Exclusiva (Lotex);
  • Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. (Nuclep);
  • Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras);
  • Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA);
  • Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro);
  • Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras).

Nos três primeiros anos de governo, embora tenha avançado a fase de estudos de diversos processos de desestatização, nenhuma das empresas da lista chegou a ser privatizada.

Codesa e Eletrobras foram privatizadas em 2022; outras três estatais foram criadas

A primeira empresa da lista a ser vendida pela União à iniciativa privada, em março deste ano, foi a Codesa, anteriormente vinculada à Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do Ministério da Infraestrutura.

O vencedor do leilão, o Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Shelf 119 – Multiestratégia, desembolsou R$ 106 milhões pela outorga e outros R$ 326 milhões pelas ações da companhia. Além da transferência do controle da companhia, a vencedora do leilão também obteve a concessão dos portos de Vitória e Barra do Riacho, ambos no litoral capixaba, por um prazo de 35 anos, prorrogáveis por mais cinco anos.

Já o processo de capitalização da Eletrobras, por meio do qual a União se desfez do controle acionário da companhia, foi encerrado em junho deste ano, porém sob controvérsias. A lei que permitiu a operação, aprovada pelo Congresso Nacional, incluiu exigências que devem elevar os custos de distribuição de energia, que, por sua vez, devem ser repassados ao consumidor final.

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Além disso, parte do valor arrecadado com a venda do controle da empresa (R$ 26,6 bilhões), em vez de ser destinado ao pagamento da dívida pública, foi utilizado para conceder o aumento temporário de R$ 200 na parcela do Auxílio Brasil e para criar auxílios para caminhoneiros e taxistas até o fim do ano, por meio da PEC dos Benefícios.

Em 2021 e 2022, no sentido inverso, três novas estatais foram criadas: a NAV Brasil, que presta serviços de controle de tráfego aéreo; a Veículo de Desestatização MG Investimentos S.A. (VDMG), criada para atender aos propósitos de desestatização da CBTU; e a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), que ficou responsável pelo controle da Eletronuclear e da Itaipu Binacional após a privatização da Eletrobras.

Já em 2022, o número de estatais sob controle direto diminuiu, com a fusão da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e da Vale Engenharia, Construções e Ferrovias, que deu origem à Infra S.A.

De promessa a frustração

Em agosto de 2022, em um evento com investidores em São Paulo, Guedes se disse frustrado pelo fato de não ter conseguido realizar as privatizações almejadas. Ele afirmou ter havido dificuldades por parte dos responsáveis e atribuiu ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), parte da responsabilidade por não pautar os projetos necessários para o andamento dos processos.

Em agosto de 2021, a Câmara chegou a aprovar o projeto de lei (PL) 591/2021, que autoriza a privatização dos Correios. O texto prevê o fim do monopólio do serviço postal no país, abrindo espaço para outras empresas participarem do mercado por meio de concessão. O PL, no entanto, estacionou no Senado, onde está parado desde então.

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No caso da Casa da Moeda, Bolsonaro chegou a editar, em novembro de 2019, uma medida provisória (MP 902/2019) que acabava com o monopólio da empresa na fabricação de papel-moeda, moedas metálicas, passaportes e impressão de selos postais e selos fiscais federais, utilizados em produtos como cigarros e bebidas.

O texto estabelecia que os serviços passariam a ser licitados e que a estatal poderia participar dos certames em igualdade de condições com os demais concorrentes. A MP acabou perdendo a eficácia em abril de 2020 por não ter sido convertida em lei pelo Congresso Nacional.

Subsidiárias vendidas

Enquanto não avançou nas privatizações que dependiam do Congresso, o governo, por meio das estatais que controla diretamente, se desfez de dezenas de subsidiárias, principalmente da Petrobras e da Eletrobras

Entre os principais ativos, destacam-se a BR Distribuidora (com a controlada Stratura Asfaltos), que levantou cerca de R$ 9,6 bilhões com uma oferta pública de ações; a Transportadora Associada de Gás S.A. (TAG), vendida ao grupo Engie e ao fundo canadense CDPQ por R$ 33,5 bilhões; a Refinaria de Pasadena, repassada por cerca de R$ 1,8 bilhão para a norte-americana Chevron; e a Liquigás, cujo controle foi negociado por aproximadamente R$ 4 bilhões para a Copagaz e a Nacional Gás.

Em 2019, duas estatais de controle indireto entraram em processo de liquidação: a BB Turismo e a CorreiosPar. Outras duas já se encontravam em liquidação foram extintas no ano seguinte: a Companhia de Docas do Maranhão (Codomar) e a Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais (Casemg).

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Além disso, por intermédio do PND, a União ainda se desfez de participações minoritárias em empresas como Engie, Itaú, Engergisa, Enel, CPFL, CTEEP, EMAE, Santander, EDP e TIM.

Procurado, o ministério de Guedes não informou o total arrecadado com privatizações ao longo dos quatro anos de mandato de Bolsonaro. Um levantamento realizado pelo portal Poder360 em julho mostrou que, até aquela data, o governo havia levantado R$ 304,2 bilhões com as vendas.

Confira a lista de estatais vendidas, incorporadas ou liquidadas entre 2019 e 2022

Fonte: Sest/Ministério da Economia

Conclusão do ProcessoEmpresaControladora
10/06/2019BB TURBanco do Brasil
13/06/2019TAGPetrobras
25/06/2019UIRAPURUEletrobras
29/07/2019BRPetrobras
28/08/2019LOGIGASPetrobras
30/09/2019CONECTA S.A.Petrobras
30/09/2019DISTRIBUIDORA DE GÁS DE MONTEVIDEOPetrobras
01/11/2019ETNEletrobras
03/12/2019CORREIOSPARCorreios
02/01/2020ELETROSULEletrobras
28/01/2020BNDES LIMITEDBNDES
04/03/2020e-PETROPetrobras
12/06/2020TMCPetrobras
10/07/2020CODOMAR 
18/08/2020STRATURA ASFALTOSPetrobras
10/09/2020BEARPetrobras
29/10/2020CASEMG 
30/11/2020Eólica Hermenegildo I S/AEletrobras
30/11/2020Eólica Hermenegildo II S/AEletrobras
30/11/2020Eólica Hermenegildo III S/AEletrobras
30/11/2020Santa Vitória do PalmarEletrobras
09/12/2020BESCVALBanco do Brasil
23/12/2020LIQUIGÁSPetrobras
30/12/2020XS1Caixa
30/12/2020XS2Caixa
06/01/2021ARARA AZULEletrobras
06/01/2021BENTEVIEletrobras
06/01/2021OURO VERDE IEletrobras
06/01/2021OURO VERDE IIEletrobras
06/01/2021OURO VERDE IIIEletrobras
06/01/2021VENTOS DE SANTA ROSAEletrobras
06/01/2021VENTOS DE UIRAPURUEletrobras
12/03/2021CDMPIPetrobras
24/03/2021MATARIPEPetrobras
31/03/2021Acauã EnergiaEletrobras
31/03/2021Angical 2 EnergiaEletrobras
31/03/2021Arapapá EnergiaEletrobras
31/03/2021Caititú 2 EnergiaEletrobras
31/03/2021Caititú 3 EnergiaEletrobras
31/03/2021Carcará EnergiaEletrobras
31/03/2021Complexo Eólico Pindaí IEletrobras
31/03/2021Complexo Eólico Pindaí IIEletrobras
31/03/2021Complexo Eólico Pindaí IIIEletrobras
31/03/2021Coqueirinho 2 EnergiaEletrobras
31/03/2021Corrupião 3 EnergiaEletrobras
31/03/2021Papagaio EnergiaEletrobras
31/03/2021Tamanduá Mirim EnergiaEletrobras
31/03/2021Teiú 2 EnergiaEletrobras
30/04/2021Chuí Holding S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí I S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí II S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí IV S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí IX S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí V S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí VI S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Chuí VII S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu I S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu II S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu III S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu IV S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu IX S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu V S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu VI S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu VII S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu VIII S/AEletrobras
30/04/2021Eólica Geribatu X S/AEletrobras
30/04/2021NTSPetrobras
31/05/2021MANGUE SECO 2Petrobras
29/06/2021AmGTEletrobras
31/08/2021FOTEEletrobras
10/11/2021BREITENERPetrobras
10/11/2021BREITENER JARAQUIPetrobras
10/11/2021BREITENER TAMBAQUIPetrobras
29/12/2021CAIXAPARCaixa
14/06/2022Amapari EnergiaEletrobras
14/06/2022BRASIL VENTOSEletrobras
14/06/2022CGT ELETROSULEletrobras
14/06/2022CHESFEletrobras
14/06/2022ELETROBRAS 
14/06/2022ELETRONORTEEletrobras
14/06/2022ELETROPAREletrobras
14/06/2022Energia dos Ventos IX S/AEletrobras
14/06/2022Energia dos Ventos V S/AEletrobras
14/06/2022Energia dos Ventos VI S/AEletrobras
14/06/2022Energia dos Ventos VII S/AEletrobras
14/06/2022Energia dos Ventos VIII S/AEletrobras
14/06/2022Eólica Cerro Chato IV S/AEletrobras
14/06/2022Eólica Cerro Chato V S/AEletrobras
14/06/2022Eólica Cerro Chato VI S/AEletrobras
14/06/2022Eólica Cerro dos Trindade S/AEletrobras
14/06/2022Eólica Ibirapuitã S.A.Eletrobras
14/06/2022FURNASEletrobras
14/06/2022IBEREletrobras
14/06/2022Livramento Holding S/AEletrobras
14/06/2022Paraíso TransmissoraEletrobras
14/06/2022TGOEletrobras
14/06/2022TSLEEletrobras
14/06/2022VENTOS DE ANGELIMEletrobras
11/07/2022GASBRASILIANOPetrobras
11/07/2022GASPETROPetrobras
06/09/2022CODESA 
30/09/2022EPL 
04/11/2022PARANÁ XISTO S.APetrobras
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