As dúvidas sobre o futuro da economia estão impedindo um avanço mais forte da indústria. Depois do tombo de 2,4% em julho, a produção nacional ficou estagnada em agosto, reforçando a percepção de que o setor perdeu fôlego e não deve crescer muito mais que 2% neste ano.
Além de não conseguir reverter o mau resultado de julho, a indústria também reduziu sua atividade em 1,2% na comparação com agosto de 2012, informou ontem o IBGE. Com isso, o crescimento acumulado desde o início do ano, que estava em 2%, baixou para 1,6%.
Pelo visto, a economia brasileira pode não contar, neste segundo semestre, com o mesmo impulso oferecido pela indústria na primeira metade do ano. Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o número de agosto foi "muito adverso" e "comprometerá o desempenho do setor em 2013".
"Mantido esse caminhar trôpego que vem sendo observado mês a mês, a produção industrial está mais para um crescimento de 2%", informou o Iedi, ao lembrar que no início do ano esperava-se uma expansão em torno de 2,5%. Parte das dificuldades da indústria, segundo o instituto, vem da forte concorrência de importados, que persiste apesar da desvalorização do real.
Se confirmado, o crescimento previsto pelo Iedi não compensará a retração de 2012, quando a indústria encolheu 2,6%. "A expectativa é de um terceiro trimestre mais fraco para o setor industrial, que tem sido marcado pelo acúmulo de estoques e pela deterioração da confiança dos empresários", disse, em nota, o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências, que também prevê uma alta de 2% para a produção em 2013.
Algumas sondagens evidenciam o desconforto do setor com o andar da economia brasileira. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os estoques continuam acima do planejado, o que não estimula grandes aumentos de produção. E o nível de confiança dos industriais está em queda há quatro meses, conforme a Fundação Getulio Vargas (FGV).
A mesma pesquisa do IBGE que indicou uma estagnação na indústria trouxe alguns dados um pouco mais animadores. Rafael Bacciotti, da Tendências, destaca que a maioria dos segmentos elevou sua produção em agosto: dos 27 ramos industriais monitorados, 15 produziram mais que no mês anterior, algo que apenas 12 haviam conseguido em julho.
Outro ponto positivo é o desempenho dos bens de capital, que servem como termômetro dos investimentos no país. Após uma queda de 11,8% no ano passado, a produção desses bens tem crescido desde o início de 2013 no acumulado de janeiro a agosto, aumentou 13,5%.