Aprenda a negociar
"Esta é a hora do comprador que precisa adquirir imóvel. Se é o seu caso, vá negociar." O recado do consultor Ricardo Reis é complementado por outras orientações. Confira:
Junte o máximo de dinheiro possível para quitar ou dar uma grande entrada, pois esse será seu poder de barganha;
Aproveite a disponibilidade de crédito com taxas civilizadas e amortização realista;
Financie apenas o necessário dentro da sua realidade e no menor número de anos possível;
Não comprometa mais de 20% da sua renda, no máximo 25%, com as parcelas do financiamento;
Pesquise e negocie com dinheiro na mão;
Prefira imóveis prontos. Vá visitá-los de dia, de noite, durante a semana e no final de semana;
Consulte clientes antigos, moradores, vizinhos, fornecedores e funcionários do prédio;
Analise a motivação de quem está falando com você sobre o imóvel;
Procure informações de fontes diversas. Converse com a família e amigos, pois quanto mais pontos de vista você tiver, melhor será sua decisão;
A máxima "localização, localização e localização" é importante. Imóveis bem localizados mantém seu valor na alta e na baixa do mercado. Mesmo em um mercado instável, são os últimos a desvalorizar e os primeiros a voltar a valorizar.
Feirões trazem boas oportunidades. São feitos porque as empresas precisam vender e estão dispostas a dar descontos e negociar;
Compare o preço da unidade que pretende adquirir com imóveis de qualidade, tamanho e localização parecidos.
"Liquidações"
Negociações de estoque e descontos são tratados como casos especiais
A prática de descontos é vista com cautela pela incorporadora Cyrela Paraná, segundo o gerente comercial Ricardo Batista. "Cada desconto tem sua história, mas de um modo geral acho esta prática nociva ao mercado", diz. O executivo explica que reavaliar preço em um estoque baixo entre 10 e 15% do total no momento da entrega do empreendimento, para evitar custos com manutenção, condomínio, impostos e despesas com marketing, é ação estratégica. "Mas sinalizar para o mercado que um lançamento inteiro não deu certo e liquidar no meio do caminho não ajuda a estabelecer o preço correto para a cidade".
A Invespark informa que tem 260 unidades em estoque, entre unidades residenciais e conjuntos comerciais, e que apenas três imóveis retornaram por incapacidade de pagamento. Focada em empreendimentos bem posicionados no segmento de compactos, a empresa não promove feirões nem descontos. "Acreditamos que o importante são os fundamentos do produto. O preço é apenas um deles", explica o diretor de incorporações da Invespark, Eduardo Quiza. "Em nosso ponto de vista, itens como localização, planta, fachada, áreas comuns, materiais de acabamento e equipamentos são mais relevantes que o preço. Procuramos respeitar esses fundamentos e oferecer o produto a um valor justo."
Bolha?
Mercado mantém otimismo sobre equilíbrio entre oferta e demanda
Diante de grande oferta de imóveis na capital, muita gente se pergunta se os preços vão cair. Gustavo Selig, presidente da Ademi-PR, diz que não. "Basta olhar a conjuntura. Temos oferta de crédito e reajustes salariais junto a índices saudáveis de emprego e de renda na capital". Fernando Galvão Puhl, presidente da Rede Imóveis, concorda. "A taxa de desemprego é baixa e as condições de crédito continuam atraentes", afirma. Ele lembra que o crescimento populacional e a formação de novas famílias colaboram para a demanda por imóveis.
Em algumas capitais já se fala na possibilidade de bolha imobiliária, mas Selig defende que em Curitiba ela não vai acontecer. "As incorporadoras daqui são mais conservadoras. Assim que se percebeu o ajuste do mercado, elas reavaliaram lançamentos, passando a planejar produtos mais assertivos, para determinados públicos", explica. Ele lembra também que o ciclo da construção é longo. "Um empreendimento leva de dois a três anos para ficar pronto. O construtor não pode simplesmente baixar os preços, porque tem muitos meses à frente para finalizar o produto, e precisa honrar os custos até o final", argumenta.
O professor Robert Shiller, da Universidade de Yale, que acaba de receber o prêmio Nobel de Economia, previu a bolha imobiliária americana de 2008. Recentemente, Shiller disse que poderia ocorrer o mesmo no Brasil. "Mas ele fez uma ressalva. Disse que não conhece o mercado brasileiro, apenas não entende como os imóveis podem dobrar de valor em cinco anos, e estava falando especificamente do Rio de Janeiro", salienta Ricardo Reis.
A capital fluminense tem particularidades como pouca oferta de terrenos, explica o consultor, e é palco de futuros grandes eventos que demandaram forte afluxo de pessoas e de capital, com a valorização decorrente. "Vale lembrar que a dinâmica da bolha está ligada à psicologia de massa, capital e crédito. Falar sobre isso já é um bom sinal, pois as pessoas ficam mais cautelosas".
A consultoria internacional de negócios Bain & Company acaba de divulgar um estudo sobre o assunto, concluindo que existem pontos que devem ser acompanhados com atenção no Brasil, como o endividamento das famílias e o consequente comprometimento da renda, mas não há formação de bolha.
O estudo da Bain também avaliou cenários positivos. A consultoria acredita ser possível triplicar a penetração do crédito imobiliário, em função do PIB brasileiro, dos atuais 6% para 18% até 2017, considerando a manutenção do crescimento da economia do país. Nessas condições, o crédito imobiliário impulsionaria o crescimento da construção civil e de setores ligados a ela, como aço, cimento, materiais de construção e móveis.
Basta olhar para cima. Uma observação mais atenta revela que muitos imóveis estão à venda, tanto no centro quanto em bairros e regiões periféricas de Curitiba. O momento, portanto, é bom para quem quer comprar para morar.
Há cerca de R$ 3 bilhões em apartamentos residenciais novos esperando comprador na cidade. De acordo com a Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-PR), a capital tem 10.934 unidades novas em estoque em Curitiba. Elas se somam aos 16.725 imóveis usados em oferta, incluindo casas, sobrados e apartamentos, que são contabilizados pelo Secovi-PR, o sindicato das imobiliárias.
São quase 28 mil imóveis com placa de vende-se pendurada na janela. Se há excesso ou não, a análise dos dados ajuda a entender o cenário. De acordo com o levantamento de agosto da Ademi-PR, o estoque de apartamentos novos, hoje, equivale a 30,7% de tudo o que foi lançado desde janeiro de 2007 esse índice tem se mantido estável ao longo de 2013.
Significa que pouco menos de um terço de todos os empreendimentos lançados desde janeiro de 2007 quando a pesquisa começou a ser feita não foram comercializados. O estoque contabiliza unidades prontas e em construção, em proporção aos lançamentos.
Especialistas e empresários do setor afirmam que 30% de estoque é um índice saudável. "Os números mostram que o mercado está absorvendo a oferta. Não há risco de desvalorização ou movimento de bolha", indica Gustavo Selig, presidente da Ademi-PR.
Mercado comprador
A série histórica da pesquisa mostra que o estoque foi maior: entre 2010 e 2011, chegou a quase 14 mil imóveis, que representavam 32,3% do total. O mercado imobiliário local considera que, enquanto fica abaixo de 36%, o indicativo não apresenta risco. "Tem ocorrido a diminuição do estoque. Isso mostra que o mercado está comprador, mesmo que de forma lenta", aponta Selig. O valor do estoque de apartamentos novos já chegou a R$ 3,9 bilhões em Curitiba.
O presidente da Ademi-PR diz que situações de queda de preço são pontuais e ocorrem em determinados empreendimentos. É onde entram os feirões e liquidações de imóveis. O consultor imobiliário Ricardo Reis observa que algumas incorporadoras em especial as que abriram capital lançaram unidades "demais", resultando em superoferta.
"É típico do mercado imobiliário, cíclico por natureza. A demanda reprimida por décadas já foi atendida, portanto a oferta pronta e em construção vai ter absorção mais lenta", diz. Por isso, a saída para essas empresas é fazer ofertas e flexibilizar a venda. "O pêndulo do mercado está para o lado do comprador", salienta. "Eles têm as melhores oportunidades".
Risco
Reis observa que, apesar da valorização dos imóveis nos últimos anos, muitas empresas tiveram prejuízos altos porque venderam na planta a preço fechado. "Depois, durante a obra, orçamentos e prazos estouraram", complementa. Na análise do consultor, quem hoje enfrenta mares turbulentos são "incorporadores amadores e de alto risco". "Empresas tradicionais e mais conservadoras enfrentam essa nova realidade com mais gordura e não precisam queimar suas margens".
Desistência se efetiva na hora do financiamento
As incorporadoras não revelam o índice de unidades do estoque que corresponde aos distratos imóveis que são devolvidos à empresa por incapacidade de pagamento pelo comprador. Analistas dizem que o volume atual de retornos decorre do boom imobiliário de 2008 a 2011, quando muitos empreendimentos foram lançados e vendidos rapidamente na planta. Na onda da comercialização, contratos foram fechados sem avaliação minuciosa de crédito. Houve também a aquisição especulativa e a entrada do que o mercado chama de "aventureiros" pessoas sem experiência em investimento imobiliário.
"Vendas em lançamentos muitas vezes são forçadas, sem grande análise do real capacidade do comprador em assumir o financiamento", observa o consultor Ricardo Reis. As parcelas a pagar durante a obra costumam ser mais tranqüilas. "Com o empreendimento pronto entra em cena o financiamento imobiliário, com comprometimento maior da renda e prazos de 10, 20 anos, ou mais. Nessa hora muita gente repensa a necessidade e a possibilidade real de compra", explica.
Caio Napoli, diretor da incorporadora Hafil Inc, tem a mesma visão. "A entrega da chave é o momento crucial para o comprador", diz. Os retornos estão ocorrendo, na opinião do executivo, porque houve excessos na análise de crédito. "Houve um período em que a premissa de muitas incorporadoras era liberar para vender", avalia. "O resultado foi um índice muito alto de retornos em alguns empreendimentos, especialmente na faixa de preço de até R$ 500 mil".
Napoli observa que muitos dos descontos e promoções estão sendo feitos por empresas nacionais que aportaram em Curitiba a partir de 2008, "apostaram alto" e agora, ao se retirar do mercado local, precisam "zerar" o estoque.
Colaborou Taiana Bubniak
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