Os altos níveis de estoques podem atrapalhar as empresas de varejo de moda nos últimos e mais importantes meses do ano para vendas. Algumas das principais redes do Brasil reportaram retração nas vendas no terceiro trimestre deste ano e acumularam estoques de coleções antigas. As empresas agora tendem a aumentar descontos e liquidações para esvaziar as prateleiras ocupadas com peças velhas, o que deve afetar negativamente a margem bruta.
A temporada de divulgação de resultados do terceiro trimestre mostrou que, entre as grandes redes de vestuário de capital aberto, apenas a Renner teve desempenho positivo de vendas. Cia Hering, Marisa e Riachuelo tiveram resultado negativo no indicador vendas mesmas lojas, que abrange unidades abertas há mais de um ano. Com isso, as companhias entraram na temporada de alto verão, a mais importante do ano, com estoques em patamares mais elevados do que o ideal. No caso de Cia Hering, os estoques de lojas multimarcas, que compram os produtos da empresa, são a preocupação.
"Ainda teremos de conviver com algum excesso de estoque de coleções", disse Márcio Goldfarb, presidente da Marisa, ao comentar o desempenho da empresa no terceiro trimestre. As vendas mesmas lojas da companhia caíram 1,5% ante igual período do ano anterior. Goldfarb reconheceu falhas na concepção da coleção e na alocação de produtos pela companhia.
Embora a empresa tenha dito que novas coleções tiveram melhor desempenho, a evolução nas vendas e na rentabilidade deve ser "gradual", segundo o diretor de Vendas Arquimedes Salles, porque será preciso limpar os estoques antigos.
A necessidade de se desfazer de peças mais antigas e que não venderam também deve afetar a margem bruta da Guararapes, controladora da Riachuelo, no quarto trimestre. O diretor Financeiro Tulio Queiroz afirmou que a empresa trabalha com a perspectiva de margem bruta estável no quarto trimestre de 2014, na comparação com igual período do ano anterior, embora acredite que o desempenho de vendas vai ser melhor. A Guararapes disse esperar que as vendas mesmas lojas voltem a território positivo neste final de ano, depois de retração de 2,7% entre julho e setembro, na comparação com os mesmos meses de 2013.
Preocupada com o acúmulo de peças antigas na rede, a Cia Hering havia promovido uma "limpeza" dos estoques de suas lojas e franquias no segundo trimestre, intensificando promoções. Apesar disso, uma parte relevante das vendas da companhia é feita para lojistas multimarcas, os quais ainda têm problemas. "O canal multimarcas ainda está tentando digerir os problemas que enfrentamos no segundo trimestre, em razão da queda de vendas na Copa do Mundo", explicou Frederico Oldani, diretor Financeiro e de Relações com investidores.
O Bank of America Merrill Lynch considerou ainda em relatório que, mesmo após a limpeza de estoques, os franqueados da Cia Hering podem investir menos. "Um cenário de consumo difícil e altas taxas de juros deve limitar o desejo dos franqueados de tomarem risco com estoques", escreveram em relatório os analistas Melissa Byun, Robert E. Ford Aguilar, Nicole Inui e Vinicius Saraiva.
As expectativas de que o cenário macroeconômico continue desfavorável, com pressão inflacionária e baixa confiança do consumidor, pesam sobre as perspectivas de analistas para o setor.
Ao comentar os resultados da Guararapes, a Brasil Plural considerou que a queda de vendas e de margem bruta no varejo é um sinal de cautela sobre o momento da companhia. Para os analistas Guilherme Assis e Victor Falzoni, é possível que iniciativas promocionais não estejam surtindo efeito ou mesmo que os consumidores estejam mais sensíveis a preço e com isso haja dificuldade para converter visitas às lojas em vendas.
Já no caso da Marisa, além dos indicadores macroeconômicos, pesa a percepção de que a companhia tem cometido erros de gestão. "O resultado da Marisa no terceiro trimestre é um testamento da recente execução pobre da companhia e reafirmamos nossa visão negativa sobre a empresa", disseram em relatório Fabio Monteiro e Thiago Andrade, do BTG Pactual.