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Desenvolvimento

Estrangeiro gosta de Curitiba, mas prefere Rio e SP

Dependências do HSBC GLT, em Curitiba. Braço de TI do banco ajuda a boa fama da cidade | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Dependências do HSBC GLT, em Curitiba. Braço de TI do banco ajuda a boa fama da cidade (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)

Curitiba está bem cotada lá fora. Terceiro destino do investimento estrangeiro direto (IED) feito no Brasil, a cidade acaba de ser eleita a quarta "mais atraente" do país por 250 executivos internacionais consultados pela empresa de auditoria Ernst & Young. Os mesmos profissionais indicaram a cidade como a "mais promissora" do país fora do eixo Rio-São Paulo. Mas, embora tenha reputação melhor que a de "concorrentes" como Porto Alegre e Belo Horizonte, a capital paranaense ainda está longe de despertar o mesmo fascínio exercido pelos dois maiores centros urbanos do país.

Na lista das mais atraentes preparada pela Ernst & Young, Curitiba ficou atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O problema está no abismo em relação às três primeiras. A capital paulista é a preferida de 56,8% dos entrevistados, o Rio foi mencionado por 24,6% deles e Brasília, por 4,2%, ao passo que apenas 1,2% citaram a capital paranaense.

Os números de IED de 2010 e 2011 traçam cenário semelhante: embora muito bem colocada no ranking nacional, Curitiba não chega a ameaçar a supremacia do "eixo". Dados da fDi Intelligence – uma divisão do jornal Financial Times – citados pela Ernst & Young mostram que a capital paranaense foi o terceiro destino brasileiro de IED nos últimos dois anos, com cinco projetos em 2010 e 11 no ano passado. Com esse aumento, sua participação no total nacional passou de 1,4% para 2,2%. Ainda muito abaixo, no entanto, dos números de São Paulo e Rio – que em 2011 receberam respectivamente 26,4% e 8,5% dos projetos.

Na hora de eleger as cidades mais promissoras, os entrevistados não puderam citar Rio nem São Paulo. E aí sim Curitiba sobressaiu. Um em cada quatro executivos colocou a cidade no topo da lista, à frente de Belo Horizonte (citada por 20,2%), Recife (15,6%) e Porto Alegre (14,6%).

Um fato preocupante, segundo a Ernst & Young, foi que quase 40% dos executivos não foram capazes de citar nenhuma cidade que não o Rio e São Paulo. "O governo precisa realizar uma campanha salientando os atributos das diferentes cidades, encorajando investidores a escolher de um conjunto mais amplo de locais."

Para Nelson Oliveira, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-PR), a concentração de investimentos em São Paulo e Rio pode ser explicada pela infraestrutura. "Os apagões de infraestrutura – de estradas, portos, telecomunicações – e de mão de obra qualificada favorecem as cidades do eixo. Além de serem mais bem estruturadas, elas concentram o público consumidor", diz.

Uma avaliação feita pela fDi Intelligence corrobora essa interpretação. Das dez cidades que mais receberam IED no ano passado, cinco têm infraestrutura "bem desenvolvida" – quatro paulistas mais o Rio de Janeiro. Curitiba aparece entre as que têm gargalos a resolver, junto com Porto Alegre, Manaus, Recife e Salvador. Segundo a Ernst & Young, "quando perguntados sobre projetos para aumentar a atratividade de cidades brasileiras, o desenvolvimento da infraestrutura foi a primeira resposta de 55,8% dos pesquisados".

Mão de obra é o ponto fraco do país

Os investidores consultados pela Ernst & Young elegeram o Brasil como o mercado mais atraente da América Latina, veem o país como um futuro líder na área de energia e têm forte confiança no futuro – 83% acreditam que investir aqui ficará ainda mais interessante ao longo dos próximos três anos. Mas eles deixaram claro que o país ainda tem uma série de desafios pela frente, entre eles melhorar a qualidade de sua mão de obra, desenvolver sua capacidade de inovar e reduzir sua dependência de commodities.

"O Brasil enfrenta alguns desafios relacionados à escassez de mão de obra especializada e à qualidade de sua infraestrutura, que representam empecilhos ao investimento de companhias globais", comentou a Ernst & Young. Na opinião da empresa, "a falta de pessoal qualificado é a principal fraqueza da economia brasileira", problema que é ainda mais agudo para "companhias que procuram recrutar talentos gerenciais e técnicos de ponta".

América Latina

De acordo com a pesquisa, feita em maio, 78% dos entrevistados listaram o Brasil entre os três mercados mais atraentes da América Latina. Embora nos últimos meses o país tenha deixado de ser tratado como o "queridinho" dos investidores internacionais, os outros países latino-americanos ainda parecem longe de alcançá-lo: a Argentina, segunda colocada da lista, foi mencionada por pouco menos de 45% dos executivos.

Investimento em queda

O relatório da Ernst & Young dá grande destaque ao forte crescimento do investimento estrangeiro direto no Brasil nos últimos anos, lembrando que o volume aplicado no país alcançou a marca recorde de US$ 63 bilhões em 2011, segundo a fDi Intelligence – a contabilidade do Banco Central aponta um valor diferente, de quase US$ 67 bilhões.

Mas os efeitos da desaceleração da economia em 2012 não foram citados pela pesquisa. De acordo com o BC, o IED está em baixa neste ano: somou US$ 29,7 bilhões no primeiro semestre, quase 10% menos que em igual período do ano passado.

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