A crise econômica na Europa tem provocado uma mudança no fluxo migratório. Se no fim da década de 1990 era comum ver brasileiros partindo para trabalhar em países como Portugal e Espanha, agora cada vez mais europeus têm desembarcado no Brasil em busca de empregos, salários melhores e oportunidades de negócios.
Segundo o Ministério da Justiça, a quantidade de estrangeiros regularizados no Brasil cresceu 57% em 2011, alcançando 1,5 milhão de pessoas. No Paraná, esse número passou de 44,3 mil em 2010 para 77 mil em abril deste ano o estado é o terceiro em número de "forasteiros", atrás de São Paulo (771,8 mil) e Rio de Janeiro (314,2 mil).
"Basicamente duas forças contribuem para o aumento na procura de oportunidades de trabalho no Brasil: a crise nos países do hemisfério Norte e o cenário de estabilidade econômica e de prosperidade vivido por nosso país, que ainda teve sua visibilidade aumentada por eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada", explica Freud Oliveira, diretor do Cesumar Empresarial, programa de extensão do Centro Universitário de Maringá.
Entre as três maiores comunidades de europeus no Brasil, os espanhóis foram os que tiveram o maior índice de crescimento dos últimos anos, passando de 58,5 mil registrados em 2009 para 82,5 mil em abril deste ano, um crescimento de 41,1%. A imigração de italianos subiu 39%, passando de 70,2 mil para 97,9 mil. Os portugueses formam o maior grupo de estrangeiros são 331,4 mil, ante 276,7 mil em 2009.
Um dos lusitanos que cruzaram o Atlântico foi o arquiteto Luís Arrátel, de 26 anos, que trocou Bragança por Maringá. Segundo ele, a construção civil e o ramo imobiliário foram os primeiros setores a sentir o efeito da crise econômica em Portugal. "As ofertas de trabalho desapareceram e as poucas vagas são relativas a estágios profissionais, com cargas horárias pesadas, índices de exigência bastante altos e remuneração ridícula. Uma situação péssima para quem pensa começar a construir a sua própria vida", conta o jovem.
Namorando uma brasileira e com casamento marcado, Arrátel não pretende voltar tão cedo ao Velho Continente. "O Brasil é um dos grandes mercados na área da construção", diz. Por sinal, o número de engenheiros portugueses autorizados a trabalhar no país saltou de 21 em 2010 para 75 em 2011; só no primeiro semestre deste ano foram 63 autorizações.
Permissões
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de janeiro a junho deste ano foram concedidas 32,9 mil permissões de trabalho para estrangeiros 29 mil delas para empregos temporários , 24% mais que no mesmo período de 2011. Em todo o ano passado houve 70,5 mil liberações, cerca de 14,5 mil a mais que em 2010.
No Paraná, foram 713 concessões para estrangeiros no primeiro semestre, apenas 271 a menos quem em todo o ano de 2011. A maior parte das autorizações beneficiou alemães (114), norte-americanos (90), suecos (45), espanhóis (39) e finlandeses (35).
O coordenador-geral de Imigração do MTE, Paulo Sérgio de Almeida, atribui o avanço nas autorizações ao aumento de investimentos no país. Setores como a indústria e energia (especialmente petróleo e gás) passaram a demandar uma mão de obra cada vez mais especializada, que muitas vezes não é encontrada no Brasil.
Colaboraram Tatiane Salvatico, da Gazeta Maringá, e Fabiula Wurmeister, da sucursal de Foz do Iguaçu
Recessão faz brasileiros voltarem ao país
A turbulência nos países ricos também estimulou o retorno de brasileiros que estavam morando no exterior. A família de Raquel Pacheco faz parte deste grupo. Depois de dez anos morando em Portugal, o marido e os filhos, de 11 e 7 anos, tomaram o caminho de volta.
"Aos poucos, fomos sentindo que os salários começaram a recuar, os empregos, a escassear e os preços, a subir. Os contratos temporários de trabalhadores estrangeiros, renovados anualmente, passaram a ser renovados mês a mês. Percebemos a crise", disse Raquel.
A onda de retornos ao Brasil começou após o estouro da crise em 2008. Pelo Censo 2010, o número de brasileiros que viviam no exterior e voltaram ao país era de 174,5 mil, o dobro (98,6%) dos 87,8 mil registrados pelo Censo 2000.
Entre os que retornaram da Europa está o engenheiro Rafael Sperotto, de 32 anos, que enfrentou duas crises durante os quase nove anos que esteve trabalhando na área de energia. "Com a crise americana de 2009, o escritório onde eu trabalhava [em Berlim] foi fechado e resolvi aproveitar um programa de demissão incentivada e saí da empresa", conta Sperotto, que então se mudou para a Itália. Tudo andava bem até que, em agosto de 2011, a empresa em que trabalha precisou apostar em novos mercados para fugir da atual crise que atinge a Europa e o crescente mercado de petróleo no Brasil pareceu a alternativa mais segura.
Hoje Sperotto é gerente de contas de uma empresa especializada em mão de obra para a indústria do petróleo, no Rio de Janeiro. Satisfeito com a mudança e seguro da experiência que adquiriu na Europa, garante ser um privilegiado por ter sobrevivido a duas crises e ainda ter retornado ao país com um bom emprego. "Não existe um lugar como o nosso país, a nossa cultura, a família e os amigos", diz.
Casos como o de Sperotto costumam ser uma exceção. Segundo a pesquisadora Sueli Siqueira, os "retornados" costumam encontrar dificuldades para voltar ao mercado de trabalho. "Muitas vezes eles têm experiência, mas não conseguem comprová-la. Antes, voltavam com algum dinheiro e tentavam abrir um negócio. Hoje, a maioria volta sem nada."