Sob a sombra de uma nova reunião do Fed, o banco central norte-americano, as economias dos países emergentes estão sendo colocadas à prova.
A desconfiança dos investidores detonada pelas crises cambiais na Argentina e na Turquia, por problemas na Tailândia e na Ucrânia e por sinais de desaceleração na economia chinesa não poupa o Brasil. Ontem a Bovespa voltou a cair, atingindo o menor patamar desde agosto, e o dólar ficou mais caro. Com alta de 1,17%, a cotação comercial da moeda norte-americana fechou o dia em R$ 2,426, o maior nível em cinco meses.
O Fed se reúne hoje e amanhã, e especula-se que ele vá cortar mais US$ 10 bilhões mensais em estímulos à economia americana, baixando o montante para US$ 65 bilhões ao mês até dezembro, o total chegava a US$ 85 bilhões.
Boa parte desse dinheiro vinha sendo aplicado em economias emergentes, que agora, exibindo sinais variados de desequilíbrio econômico, sofrem com a fuga desses recursos. A retirada dos estímulos também reforça a percepção de recuperação nos Estados Unidos, o que incentiva investidores a colocar dinheiro na maior economia do mundo.
O impacto no Brasil divide opiniões. Há quem espere poucos contratempos, mas também há quem veja tempestades no horizonte.
"É um momento ruim para todos emergentes. A recuperação das economias europeia e americana naturalmente afugenta os investimentos em outros países. A grande questão é que cada um sente de um modo diferente esse movimento", afirma o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, para quem as reservas brasileiras de US$ 376 bilhões serão suficientes para minimizar qualquer alastramento da crise na Argentina, a poupança estatal é de apenas US$ 30 bilhões.
Tatiane Cruz, analista da corretora Coinvalores, crê que o mercado sabe distinguir os países, o que tende a minimizar os impactos sobre o Brasil. "Os investidores sabem separar o joio do trigo. O Brasil tem um sistema bancário muito sólido, empresas sólidas, e está barato", diz.
Por outro lado, alguns economistas creem que os efeitos no Brasil não se limitam à alta do câmbio. Para Sérgio Antunes Valle, professor de Macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF), mais que uma crise dos emergentes, a desaceleração da indústria chinesa e a fragilidade da economia argentina é que vão ter mais impacto no Brasil. "São dois dos nossos principais parceiros comerciais. Não devemos ter crise, mas este cenário, aliado ao nosso câmbio e inflação, pode gerar muita instabilidade no mercado nos próximos meses", afirma.
O economista Luciano DAgostini acredita que algumas decisões tomadas pelo governo brasileiro nos últimos anos têm bastante em comum com a derrocada econômica argentina o que seria um sinal de que o futuro da economia brasileira é tão preocupante quanto o do país vizinho.
"Déficit em conta corrente maior do que o crescimento do PIB, inflação de demanda acelerada, alta nos juros para contenção. São fenômenos que aconteceram na Argentina e estão se repetindo por aqui", diz DAgostini.