Operador de uma corretora de câmbio em Tóquio: ontem, os mercados emergentes foram castigados pelo terceiro dia consecutivo.| Foto: Toru Hanai/Reuters

Apreensão

Medo de crise derruba bolsas mundo afora

Se ainda restam algumas dúvidas se a crise dos emergentes afeta a economia real desses países, o mercado financeiro já manifesta claramente as apreensões quanto à possibilidade de crise. No Brasil, o Ibovespa amargou a sétima queda em oito pregões e caiu 0,18% no fechamento.

O mercado já abriu o dia pessimista, com quedas nas principais bolsas asiáticas. O mercado no Japão desabou 2,51%, registrando seu menor nível em dois meses, por exemplo. Hong Kong fechou em queda de 2,11% e Xangai caiu 1,03%. Seul, Sidney e Cingapura também fecharam em baixa.

Na Europa o movimento seguiu o mesmo sentido. "A turbulência nos mercados emergentes está seriamente afetando o humor na Europa. Essa mistura de problemas econômicos e políticos em diferentes partes do mundo está contagiando", afirmou a trader Anita Paluch, do Varengold Bank.

Nem mesmo o agendamento de uma reunião de emergência na Turquia para adotar medidas contra o desequilíbrio cambial acalmaram o mercado. Em Londres, o índice FTSE perdeu 1,70% e encerrou a sessão no menor nível em mais de cinco semanas. Em Paris, a baixa foi de 0,41% e em Frankfurt a queda ficou em 0,46%. Milão, Lisboa e Madrid também registraram recuo.

Nos Estados Unidos, os principais índices também encerraram o dia em queda: o Dow Jones baixou 0,26%, o S&P 500, 0,49% e o Nasdaq, 1,08%.

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Argentina

A compra de dólares para investimento na Argentina – que estava proibida desde 2012 e voltou a ser permitida na semana passada – será limitada a US$ 2 mil mensais por pessoa. A divulgação das regras não impediu nova alta da moeda americana nas casas de câmbio clandestinas. No Twitter, a presidente Cristina Kirchner acusou os bancos de estarem fazendo manobras especulativas. "Parece que alguns querem nos fazer tomar sopa outra vez, mas agora com garfo. Quem? Os mesmos de sempre", escreveu.

Recado

Tombini busca acalmar investidores e avisa que BC pode ser mais incisivo

Agência O Globo

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, desembarcou em Londres com uma missão delicada: acalmar os mercados, mostrando que o Brasil está "fazendo seu dever de casa", e provar que o país tem uma situação muito diferente de outros emergentes. Ele afirmou que o país está usando com sucesso "respostas clássicas" para enfrentar a turbulência, mas não descarta ser mais incisivo se necessário. "Se necessário, podemos apertar uma outra resposta", disse.

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Sob a sombra de uma nova reunião do Fed, o banco central norte-americano, as economias dos países emergentes estão sendo colocadas à prova.

A desconfiança dos investidores – detonada pelas crises cambiais na Argentina e na Turquia, por problemas na Tailândia e na Ucrânia e por sinais de desaceleração na economia chinesa – não poupa o Brasil. Ontem a Bovespa voltou a cair, atingindo o menor patamar desde agosto, e o dólar ficou mais caro. Com alta de 1,17%, a cotação comercial da moeda norte-americana fechou o dia em R$ 2,426, o maior nível em cinco meses.

O Fed se reúne hoje e amanhã, e especula-se que ele vá cortar mais US$ 10 bilhões mensais em estímulos à economia americana, baixando o montante para US$ 65 bilhões ao mês – até dezembro, o total chegava a US$ 85 bilhões.

Boa parte desse dinheiro vinha sendo aplicado em economias emergentes, que agora, exibindo sinais variados de desequilíbrio econômico, sofrem com a fuga desses recursos. A retirada dos estímulos também reforça a percepção de recuperação nos Estados Unidos, o que incentiva investidores a colocar dinheiro na maior economia do mundo.

O impacto no Brasil divide opiniões. Há quem espere poucos contratempos, mas também há quem veja tempestades no horizonte.

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"É um momento ruim para todos emergentes. A recuperação das economias europeia e americana naturalmente afugenta os investimentos em outros países. A grande questão é que cada um sente de um modo diferente esse movimento", afirma o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, para quem as reservas brasileiras de US$ 376 bilhões serão suficientes para minimizar qualquer alastramento da crise – na Argentina, a poupança estatal é de apenas US$ 30 bilhões.

Tatiane Cruz, analista da corretora Coinvalores, crê que o mercado sabe distinguir os países, o que tende a minimizar os impactos sobre o Brasil. "Os investidores sabem separar o joio do trigo. O Brasil tem um sistema bancário muito sólido, empresas sólidas, e está barato", diz.

Por outro lado, alguns economistas creem que os efeitos no Brasil não se limitam à alta do câmbio. Para Sérgio Antunes Valle, professor de Macroeconomia da Universidade Federal Fluminense (UFF), mais que uma crise dos emergentes, a desaceleração da indústria chinesa e a fragilidade da economia argentina é que vão ter mais impacto no Brasil. "São dois dos nossos principais parceiros comerciais. Não devemos ter crise, mas este cenário, aliado ao nosso câmbio e inflação, pode gerar muita instabilidade no mercado nos próximos meses", afirma.

O economista Luciano D’Agostini acredita que algumas decisões tomadas pelo governo brasileiro nos últimos anos têm bastante em comum com a derrocada econômica argentina – o que seria um sinal de que o futuro da economia brasileira é tão preocupante quanto o do país vizinho.

"Déficit em conta corrente maior do que o crescimento do PIB, inflação de demanda acelerada, alta nos juros para contenção. São fenômenos que aconteceram na Argentina e estão se repetindo por aqui", diz D’Agostini.

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