O estresse do mercado financeiro vem provocando estragos generalizados nas principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos dias. Empresas como Petrobras, Vale, Usiminas e Lojas Americanas acumulam perdas de até 22% na semana e, ao que tudo indica, a volatilidade deve se manter nos próximos dias.
Os rumores sobre a quebra de mais instituições financeiras nos Estados Unidos devem alimentar o pessimismo dos mercados, segundo analistas. Ontem os boatos se concentraram na seguradora American International Group Inc (AIG), que deverá precisar de um pacote de recursos maior do que os US$ 85 bilhões oferecidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
"O mercado atingiu um nível emocional máximo", diz Ricardo Binelli, diretor da Petra Corretora. Segundo ele, os investidores estão avessos ao risco e não têm poupado praticamente nenhum setor. "As empresas brasileiras vão bem, estão bem estruturadas e com bons resultados, mas a crise internacional está afetando o valor dos seus papéis. Muitas estão com papéis muito abaixo do seu real valor de mercado", diz Ricardo Binelli, diretor da Petra Corretora.
A fuga dos mercados acionários tem se concentrado nos aplicadores estrangeiros, mas alguns investidores brasileiros têm sido contaminados pela expectativa negativa e acompanhado a onda.
O setor bancário é um dos mais afetados, embora os bancos daqui não tenham grande vínculo com os problemas das instituições financeiras nos Estados Unidos. O Bradesco acumula, somente nessa semana, perdas de 11,70%. Estão em baixa também as ações do Itaú (-10,42%) e Banco do Brasil (-11,36%). Já o Unibanco que tem participação na AIG no país registra um recuo de 12,45% nos valores dos seus papéis.
O mercado avalia que, para esse setor, o custo e captação deve ficar mais caro, o que vai comprometer as margens das instituições. Com a redução das linhas externas, os bancos vão se voltar para o mercado interno, pressionando os custos de captação no Brasil.
Empresas vinculadas à produção de commodities como Petrobras, Vale e Usiminas também têm registrado uma forte oscilação nos papéis. A Petrobras, por exemplo, fechou o pregão de ontem com sua ação PN negociada a R$ 29,80, com perdas de 31% no mês. Em maio, a ação da empresa chegou a valer R$ 53. Para o sócio-diretor da XP Investimentos, Rossano Oltramari, o mercado está em "fluxo de venda", mas aos poucos deve recuperar os fundamentos, ou seja, os investidores vão olhar para o desempenho das empresas e seus mercados.
Sangue frio
Com preços em baixa, o momento é bom para quem quer comprar ações, mas os analistas afirmam que é preciso ter "sangue frio", porque ninguém sabe ainda se os efeitos da crise na queda das ações estão perto do limite. "É comprar bem e não olhar o preço da ação no dia seguinte no jornal. Não adianta querer obter um retorno rápido", diz Binelli, da Petra.
Segundo ele, a saída de investidores do mercado embora generalizada até agora deve se concentrar em empresas novatas na Bovespa ou que têm pouca liquidez. "O impacto para essas companhias será maior", afirma. Para quem for investir, ele recomenda papéis de empresas com histórico de valorização e de bons resultados e compras "picadas" entre várias companhias para reduzir riscos.