Anfitrião Shaun Johnson conversa com sua hóspede Taylor Valencia, em São Francisco.| Foto: Jonathan Newton/The Washington Post

O Airbnb frequentemente prega o seu impacto econômico em bairros diversos, alegando que os hóspedes gastam seu dinheiro localmente e impulsionam os negócios em áreas onde o turismo ainda não é uma atividade prevalente. Um novo estudo da Purdue University, dos Estados Unidos, porém, descobriu que bairros brancos – e não os negros ou latinos – são aqueles mais suscetíveis a tal tipo de benefício advindo do fluxo de hóspedes da plataforma.

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O estudo mostra que usuários da plataforma geralmente comem nos restaurantes do bairro, nas proximidades de onde estão instalados. No entanto, o efeito na economia local não se confirma quando 50% ou mais dos residentes do bairro são negros ou de origem latina.

“O Airbnb fez repetidas alegações de que ajuda a economia local em bairros negros, especialmente na cidade de Nova York”, diz Mohammad Rahman, professor da Krannert School of Management da Purdue University, especializado em economia digital e big data. “Não encontramos nenhuma evidência desse efeito de transbordamento econômico no emprego em restaurantes.”

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Rahman e sua equipe concentraram sua pesquisa inicial no impacto do Airbnb sobre o crescimento do emprego no ramo de restaurantes de Nova York, a cidade mais visitada e mais ativa na plataforma nos Estados Unidos.

A equipe analisou os bairros da cidade a partir do Bureau de Estatísticas de Trabalho, do Censo e também do próprio Airbnb, além de 3,5 milhões de resenhas do site Yelp feitas entre 2005 e 2015 sobre mais de 34 mil restaurantes da cidade. O objetivo era medir o impacto econômico que a plataforma tem sobre a empregabilidade dos restaurantes locais. Detalhe: os pesquisadores removeram do estudo aqueles bairros que já tinham atividade turística significativa anterior ao lançamento do Airbnb em 2008, e também levaram em conta aspectos como a popularidade dos restaurantes e as características da vizinhança.

Os pesquisadores descobriram que os bairros que experimentaram o rápido crescimento do Airbnb viram também um crescimento no emprego nos restaurantes. Essas áreas também experimentaram um aumento em sua parcela de comentários no Yelp por visitantes de Nova York, uma medida que os pesquisadores afirmaram reforçar suas descobertas sobre emprego. Aepsar disso, os restaurantes em bairros predominantemente negros ou latinos com altas taxas de reservas da Airbnb não viram um aumento correspondente no emprego e nos comentários do Yelp.

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Pesquisadores concluíram que os visitantes do Airbnb podem ser atraídos por acomodações mais acessíveis em bairros negros e latinos, mas não o suficiente para comer lá.

“Os visitantes podem não se sentir confortáveis ​​vagando e verificando restaurantes nessas áreas minoritárias”, disse Rahman. “É a realidade desconfortável da nossa sociedade. Eles podem ser mais cuidadosos e dormir no Airbnb, indo e vindo no conforto de um Uber ou Lyft. ”

Também poderia haver uma razão mais benigna para a disparidade, disse ele: “Os tipos de restaurantes que esses visitantes estão procurando podem não estar presentes nesses bairros”.

Na sequência, os pesquisadores expandiram o estudo para outras cinco cidades e encontraram padrões semelhantes em Austin, Texas; Chicago, Los Angeles, Portland, Oregon e São Francisco.

Houve apenas uma exceção: o impacto do compartilhamento de casas no emprego em restaurantes se estende à maioria dos bairros hispânicos em Los Angeles, onde quase metade dos moradores são hispânicos.

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Rahman disse que se baseou predominantemente em dados de emprego do governo – não em revisões do Yelp – para lidar com questões sobre a natureza voluntária das revisões online de restaurantes.

O pesquisador também disse que ele e seus colegas planejam se aprofundar nos dados e analisar as resenhas no Yelp e Airbnb sobre “palavras de código racial”, bem como as etnias de convidados da Airbnb, que podem oferecer mais informações sobre a disparidade.

Ele disse que é imperativo compreender os efeitos totais da economia compartilhada à medida que os reguladores enfrentam o desafio de estruturar discussões legislativas em torno de seu impacto.

“Ouvimos muitas declarações sobre como a transformação digital é cega para as desigualdades na sociedade, mas não vivemos em um vácuo”, disse Rahman. “Não podemos regular e ditar como os visitantes vão se comportar”, disse ele, “mas se pudermos identificar como a raça desempenha um papel, há certas coisas que podem ser corrigidas quando os visitantes entram nesses bairros minoritários”.

Airbnb contesta estudo e diz que colabora, sim, para bairros negros e latinos

Nick Papas, um porta-voz do Airbnb, contestou os resultados do estudo, um trabalho que ele chamou de “profundamente falho”.

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“O Airbnb sem dúvida impulsiona as empresas locais”, disse Papas em um comunicado. “Usar uma contribuição subjetiva e voluntária, como as revisões do Yelp, para tirar conclusões sobre algo que se propõe a ser uma análise rigorosa, está errado”.

Segundo a empresa, os hóspedes da Airbnb gastam 32% de seu dinheiro nos bairros onde moram, e 95% dos anfitriões de Nova York recomendam pequenos negócios locais a seus hóspedes. A empresa disse que está trabalhando para destacar as empresas locais, numa parceria fechada no mês passado com a Câmara de Comércio do Queens para patrocinar uma união em que os anfitriões do Airbnb atuarão em conjunto com representantes de restaurantes e lojas vizinhas. E em Nova York, Papas disse que os convidados do Airbnb estão crescendo em um ritmo mais rápido em bairros predominantemente negros do que em toda a cidade.

“Estamos agora criando oportunidades econômicas significativas em comunidades de cor que têm sido historicamente ignoradas pelos hotéis”, disse Papas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]