Produção
Quase 50% dos canaviais do Paraná estão muito velhos
Aproximadamente metade dos canaviais do Paraná tem mais de cinco anos, idade em que a produtividade da cana cai a um ponto em que a cultura é praticamente inviável. Adriano da Silva Dias, superintendente da Alcopar (a associação dos usineiros do estado) conta que o processo de renovação das lavouras foi interrompido em 2008 e 2009, quando a crise financeira pegou as empresas do setor endividadas e sem recursos para investir.
"Uma planta nova demora 18 meses para produzir. No primeiro corte, ela tem seu melhor rendimento, que depois cai a cada novo corte. O ideal é erradicar as plantas antigas e plantar novas a cada cinco anos, no máximo, renovando 20% da área plantada por ano. Mas em 2008 e 2009 não houve qualquer renovação e, no ano passado, cerca de 12% da área foi renovada. Portanto, quase 50% das lavouras estão velhas", explica Dias. "Paralelamente a isso, nos últimos anos o solo não foi adubado corretamente, também por falta de recursos. Tudo isso contribuiu para a queda da produtividade."
Para complicar, diz o superintendente, as geadas de junho e julho deste ano atrasaram em dois meses o crescimento das plantas recém-cortadas, o que deve atrasar o início da colheita da safra 2012/13.
Queda no ranking
A queda de produtividade ocorreu nos demais estados produtores, mas foi mais grave no Paraná. Desde 2008, o estado perdeu duas posições no ranking nacional de produção, caindo para o quarto lugar. "A alternativa é recuperar o tempo perdido. Neste ano, se tudo der certo, renovaremos 20% da área, talvez um pouco mais. A recuperação da produção, no Paraná e no Brasil, será no ritmo da renovação das lavouras, que deve estar completa até 2014", estima Dias.
Mercado
Desvantagem não ameaça os carros flex, dizem especialistas
Meses atrás, a disparada dos preços do etanol levantou dúvidas sobre o futuro dos automóveis flex, que hoje representam mais de 80% dos carros vendidos no país. Como o rendimento desse motor pode ser menor que o de um propulsor movido exclusivamente a gasolina ou a álcool, consumidores questionaram a viabilidade de continuar comprando carros flex. Mas especialistas não veem ameaça ao modelo.
"O motor flex tem uma taxa de compressão que não é a melhor para o álcool nem a melhor para a gasolina. É um nível intermediário, calibrado pelo fabricante", explica Wilson Parisotto, professor de Engenharia Automotiva da Universidade Positivo e gerente de desenvolvimento de produto da Nissan. "Mas a possibilidade de ter uma opção, de não depender de apenas um combustível, é o que dá viabilidade ao carro flex. É um ganho que compensa uma eventual perda de rendimento."
Para o consultor do setor automotivo David Wong, diretor da Kaiser Associates, a indústria não mudará a tecnologia do motor de uma hora para outra. "Por mais que esteja mais caro agora, o etanol é a melhor alternativa que temos neste momento aos combustíveis fósseis. O carro flex ao menos permite uma escolha."
A gasolina vendida em Curitiba completou em outubro quatro meses consecutivos de vantagem competitiva sobre o etanol. Desde o início de 2011, somente em junho o combustível de cana-de-açúcar foi a opção mais econômica para os carros flex. Nos outros nove meses, a melhor alternativa foi encher o tanque com o derivado do petróleo, segundo cálculo feito pela Gazeta do Povo a partir das cotações médias mensais divulgadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que coleta preços todas as semanas em 95 postos da cidade. Fenômeno semelhante ocorre na maior parte do Paraná e do país.
A situação é inédita. Entre 2003 quando foram lançados os primeiros automóveis bicombustíveis e 2010, a gasolina foi mais vantajosa na capital paranaense por apenas seis meses, de janeiro a abril de 2006 e no primeiro bimestre do ano passado. Mas nunca em plena safra de cana, como agora. A explicação está na forte queda da produção de etanol, que tem sustentado os preços apesar da retração no consumo do combustível.
De 1.º a 28 de outubro, o álcool foi vendido a uma média de R$ 1,99 por litro na cidade, o equivalente a 75% do custo da gasolina (R$ 2,66). Bem acima, portanto, da proporção de até 70% em que o combustível vegetal é considerado a opção mais vantajosa.
Competição cara
Não é improvável que o etanol volte a ser a escolha mais interessante. Mas a tendência é de que, ao menos até 2014, a competição entre os dois combustíveis seja bem mais acirrada do que foi até o ano passado. Com um detalhe: essa disputa se dará em um nível de preços bem superior ao que o consumidor estava acostumado como a gasolina brasileira leva álcool em sua composição, e tem consumo em alta, também ficou mais cara.
Nos últimos 12 meses, o preço do etanol subiu 26% e o da gasolina, 8%, atingindo patamares recordes para esta época do ano. Ambos tendem a ficar mais baratos durante a safra de cana, mas, a julgar pelas perspectivas de oferta e demanda, dificilmente voltarão aos níveis observados até 2010. "Antes de 2014 ou 2015, é muito improvável que haja uma mudança expressiva no quadro", avisa Márcio Perin, analista de mercado da consultoria Informa Economics FNP, mencionando um prazo repetido por outros especialistas e representantes do setor.
Prejudicada desde 2008 pela baixa renovação dos canaviais e, mais recentemente, por problemas climáticos, a produtividade da cana tem caído. A quantidade de açúcar total recuperável (ATR) deve cair 14% na safra atual (2011/12) e a moagem de cana, 12%, segundo estimativas da Unica, representante da indústria sucroalcooleira.
Estimulados pelos bons preços do açúcar, os usineiros estão destinando 55% da matéria-prima para fabricar alimento e 45% para combustível, contra índices de 52% e 48% na safra 2010/11. Por isso, a produção do etanol cairá mais (-20%) que a de açúcar (-8%).
Como os 20,4 bilhões de litros de álcool estimados para o ciclo atual estão longe de atender à demanda são 5 bilhões de litros a menos que na safra passada , os preços nas usinas dispararam 26% em um ano, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). O avanço só não foi maior porque o consumo, inibido pela disparada das cotações, recuou pelo segundo ano seguido e já está 32% abaixo do recorde estabelecido em 2009.
Intervenção do governo estabilizou os preços
Se não provocou uma queda de preços, a intervenção do governo federal no mercado de combustíveis com queda na mistura de etanol à gasolina e redução da Cide serviu ao menos para impedir novas altas. Nas últimas cinco semanas, o preço médio semanal do álcool em Curitiba oscilou entre R$ 1,97 e R$ 1,99 e o da gasolina, de R$ 2,65 a R$ 2,67 por litro, de acordo com a ANP. Na média paranaense, o etanol variou de R$ 1,99 a R$ 2 e o derivado de petróleo, de R$ 2,70 a R$ 2,71.
Em 1.º de outubro, caiu de 25% para 20% a mistura de etanol anidro à gasolina, o que limitou a demanda pelo combustível de cana. Para evitar que a gasolina ficasse mais cara com essa mudança, o governo reduziu de R$ 0,23 para R$ 0,19 por litro o valor da Cide, um dos tributos que incide sobre o combustível. Na semana passada, a Cide voltou a ser reduzida, desta vez para R$ 0,09 por litro, de forma a "neutralizar" o reajuste da gasolina nas refinarias da Petrobras anteontem, a estatal passou a cobrar 10% a mais pelo combustível.
Medidas
O problema é que, apesar de várias promessas do governo, ainda não houve medidas estruturais de estímulo à produção do etanol, como novas linhas de crédito para a renovação dos canaviais e para a formação de estoques reguladores. "A ANP já foi autorizada a regulamentar o setor, o que antes cabia ao Ministério da Agricultura. Mas ainda não está atuando. Não houve qualquer medida efetiva", diz Márcio Perin, analista de mercado da consultoria Informa Economics FNP.
"Sugerimos como solução o setor se apresentar diante do governo como cadeia produtiva, com as diferentes entidades representativas formulando uma proposta comum, única e de longo prazo para a retomada dos investimentos", diz Adézio José Marques, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise-Br), que representa os fornecedores de equipamentos e manutenção do setor.
Tributos
Na semana passada, quando o governo voltou a reduzir a Cide da gasolina, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) cobrou redução de tributos também para o etanol hidratado, "sobre o qual ainda incide uma carga tributária média de 30% para o consumidor na maioria dos estados". "A desoneração do etanol ajudaria a recompor as margens dos produtores e retomar o crescimento da produção, garantindo o pleno abastecimento da frota crescente de veículos flex sem impactar o preço pago pelos consumidores", afirmou a entidade, em nota.
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Serviço
Os levantamentos de preço da ANP estão disponíveis em www.anp.gov.br/preco.
Interatividade
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