Estados Unidos e Europa cobram do brasileiro Roberto Azevêdo que não seja um diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC) e apenas sirva aos interesses dos países emergentes, mas atenda também às preocupações dos ricos, se quiser terminar os quatro anos de "governo" com algum êxito. Nesta terça-feira, entre aplausos, elogios e até um clima de celebração que há muito não se via na OMC, Azevêdo foi confirmado como diretor eleito da entidade e se apressou em prometer atuar "pelo interesse" de todos os países. Mas também advertiu que a crise na entidade exige não se perder um só minuto de trabalho. Ele mandou o recado aos países: terão de negociar em "boa-fé", se quiserem tirar a OMC da crise.
O clima de festa entre os delegados se confundia com um sentimento de alívio de que o processo não acabou em novo impasse. O atual diretor, Pascal Lamy, apressou-se em classificar o momento como exemplo da "unidade da família da OMC". "Podemos deixar de lado nossas preocupações diárias e olhar o cenário mais amplo que a organização representa e seus valores: abertura de comércio para o benefício de todos, não discriminação, justiça e transparência", disse Lamy, que não economizou elogios a Azevedo. Representantes de 52 países tomaram a palavra e, em três horas, também declararam a confiança no novo diretor-geral. Até o Irã, que não faz parte da OMC, pediu a palavra para elogiar o brasileiro.
Recado
Se o clima era de festa, os recados não deixaram de ser dados. Azevedo foi eleito graças ao voto dos países emergentes e, apesar de EUA e Europa não terem criado oposição ao nome dele, não votaram no brasileiro. Nesta terça-feira, esses governos insistiam que caberia a Azevedo assegurar que não governará apenas para os seus eleitores.
"Ele vai precisar de consenso para levar o trabalho adiante", adiantou o embaixador dos EUA na OMC, Michael Punk, ao ser questionado sobre a imagem de Azevêdo como diretor eleito pelos emergentes. "Ele sabe isso melhor que ninguém. Espero que seja sábio", afirmou.
Em Bruxelas, a cúpula da UE também insiste que Azevêdo terá de adotar uma posição de consenso se quiser manter a credibilidade no cargo - não poderá atender apenas a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics). A Europa votou no mexicano Hermínio Blanco, mas indicou que estaria disposta a trabalhar com o brasileiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.