É inevitável que os mercados financeiros globais iniciem a próxima semana reagindo negativamente ao rebaixamento do rating (nota) soberano dos EUA, de AAA para AA+, anunciado na noite desta sexta-feira (5) pela Standard & Poor's, agência de classificação de risco. Essa é a opinião do economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, em comentário enviado com exclusividade por e-mail para a Agência Estado neste sábado (6).
"Os EUA estão bebendo do próprio veneno", afirma o economista, lembrando que foi o país quem criou, originalmente, essas agências classificadoras de risco, de olho na segurança de seus investimentos no exterior. E, agora, "tornam-se vítimas delas" e viram protagonistas de um evento que "ficará marcado na história do capitalismo". "Daqui a 50 ou 100 anos, os historiadores terão o registro desse fato inaugural", avalia, acrescentando que esse episódio traz um holofote definitivo para a responsabilidade dos governos em relação ao endividamento público.
Mas, segundo Barros, as consequências desse fato talvez não sejam tão significativas no curto prazo. Para ele, é muito difícil imaginar o impacto da decisão da S&P, mas "os mercados devem abrir mal na segunda-feira e, depois, podem se recuperar um pouco". "Esse evento, em tese, já estaria precificado em larga medida", justifica sua avaliação, ressaltando, contudo, que essa aposta é "meio um chute".
Barros lembra que um fator atenuante para o rebaixamento da nota de risco de crédito norte-americana é o fato de que as outras duas mais importantes agências - Moody's e Fitch - reafirmaram o rating triplo A dos títulos dos EUA. Nesse sentido, ele chama a atenção para o fato de que os fundos que são obrigados a ter papéis triplo A não precisam, necessariamente, se desfazerem dos Treasuries. "As dúvidas que pairam estão sobre os colaterais e garantias de contratos que requerem os papéis triplo A", ressalta.
Brasil
Quanto ao impacto sobre o Brasil, Barros acredita que, além de alguma turbulência nos mercados financeiros, como de praxe, deve haver um reforço na tendência de valorização do real. Ele destaca que o Brasil tem uma situação de dívida como proporção do PIB bem mais favorável, o que dá credibilidade para um projeto robusto de desenvolvimento sustentado de longo prazo. "O País seguirá experimentando esse que é o maior ciclo de investimentos desde os anos 70", conclui.