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Euro tenta resistir à deflação

Ciclista fotografa instalação onde passava o Muro de Berlim: Alemanha é pressionada para apoiar recuperação econômica | Frabrizio  Bensch/ Reuters
Ciclista fotografa instalação onde passava o Muro de Berlim: Alemanha é pressionada para apoiar recuperação econômica (Foto: Frabrizio Bensch/ Reuters)

Pressionada pelo risco crescente de deflação e de uma nova recessão, a Zona do Euro voltou a ser a peça mais frágil da economia global. Congregação de 18 países com visões diferentes sobre como gerir a economia, o bloco está dividido entre os que pedem uma maior expansão dos gastos públicos e os defensores da responsabilidade fiscal. Divisão que pode levar a uma ação fraca ou tardia, com efeitos que chegariam até o Brasil.

INFOGRÁFICO: A Zona do Euro engloba 18 países que fazem parte da UE e usam o euro como moeda

Segundo o último relatório do Banco Central Europeu, a expectativa de crescimento média dos países integrantes da Zona do Euro caiu de 1,2% para 0,8% neste ano e a inflação deve ficar perto de zero tanto em 2014 quanto em 2015. Porém, países como a Grécia e Espanha, onde o desemprego e o temor de uma possível perda de renda são mais fortes, exibem deflação de, respectivamente, 0,8% e 0,4% acumulada no ano.

O quadro é delicado porque uma deflação pode detonar uma espiral de estagnação econômica como a ocorrida no Japão dos anos 90 e 2000, com grandes chances de contaminar outras economias que ainda estão se recuperando da crise de 2008, como Estados Unidos e Reino Unido. Para o Brasil, uma recessão forte na Europa significaria a perda de um mercado importante e a possível fuga de investidores.

"Embora o Brasil tenha relações comerciais diversificadas, incluindo um intercâmbio forte com os Estados Unidos e Ásia, não há dúvida de que o cenário prolongado de baixo crescimento na Europa afeta o humor dos mercados e emperra ainda mais um país que já está debilitado", diz o diretor da LCA Consultores Fernando Sampaio.

"Do ponto de vista da economia brasileira, que deve ter um crescimento de 0,2% neste ano, interessa que a Europa, se não ajudar, ao menos não atrapalhe o desempenho de nossos outros importantes parceiros comerciais [EUA, China e Mercosul]", afirma Welber Barral, sócio da consultoria Barral M Jorge, especializada em comércio exterior.

Divisão

A economia da Zona do Euro passou por duas recessões desde 2008 e continua dividida entre o sul em crise aguda e o norte, em especial a Alemanha, em velocidade de cruzeiro. O poder da economia alemã, aliás, foi o que levou países como Portugal e Grécia a fazerem ajustes profundos. Passados seis anos do início da crise, porém, a estratégia do ajuste parece estar se esgotando e mesmo a Alemanha exibe um crescimento menor. Para muitos analistas, a Zona do Euro precisa de estímulo e não de mais cortes de gastos.

Cobrada pela Alemanha desde o auge da crise financeira em 2008, a austeridade provoca efeitos recessivos. Em razão disso, aos cortes de gastos público deveriam somar-se uma redução da carga tributária e uma desregulamentação do trabalho, defende o cientista político Christian Lohbauer, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. "A Europa precisa desengessar os custos do trabalho, de modo a aumentar a competividade com os rivais. Hoje, o setor privado é pesadamente taxado e seria um bom momento para corrigir os custos tributários elevados."

Já na visão defendida por alguns líderes políticos de países como França e Espanha, deveria haver um maior expansionismo fiscal, ou seja, aumento dos gastos públicos. "A corrente expansionista prega que as medidas de austeridade já não surtem mais efeito e o estado deveria investir em obras de infraestrutura, como portos e estradas. Mas, como a relação dívida-PIB de muitos países do bloco é enorme, a disputa não parece ter fim cedo", afirma Lohbauer.

Banco Central

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, tem feito esforços para evitar a saída de países-membros e hoje a possibilidade de algum deles deixar o bloco e retomar sua antiga moeda já parece distante. No entanto, segundo Marcos Vinícius de Freitas, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), ele ainda não conseguiu conciliar o lado que pede mais austeridade, encabeçado pela Alemanha, com a porção liderada pela França, que reivindica que as conquistas sociais não sejam abandonadas.

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