O Banco Central Europeu começa neste mês a comprar dívidas privadas para estimular o crédito e frear os sinais de estagnação da economia. A operação na zona do euro deve durar dois anos, anunciou ontem o presidente do BCE, Mario Draghi. O foco são compras de "bônus cobertos" (títulos lastreados em hipotecas) e ABS (atrelados a ativos).
Draghi disse que há uma estimativa de injetar até 1 trilhão de euros nessas transações, mas recebeu críticas por não especificar quais os alvos prioritários (os títulos e os países) desses recursos. A transferência dessas dívidas para o balanço do BCE aumentará a margem dos bancos para oferecer mais crédito a empresas e pessoas físicas.
Draghi informou ainda que o órgão decidiu manter sua principal taxa de refinanciamento em 0,05%, assim como em -0,20% a de depósitos ambas foram reduzidas em setembro em outro movimento do banco central diante do cenário de lenta recuperação.
Ao interferir agora na compra de títulos, o BCE tenta também, além de baratear o crédito, manter o ritmo de recuperação da economia do bloco para afastar no curto prazo a possibilidade de deflação a inflação desacelerou a 0,3% no mês de setembro, sendo que a meta é próximo de 2% ao ano.
Detalhes
Diante da expectativa do mercado, o BCE detalhou como deve ser a operação de compra de bônus cobertos e de ABS. O primeiro atinge sobretudo dívidas hipotecárias, com uma garantia: mesmo que a instituição bancária vá à falência, os títulos continuam à disposição dos investidores. É considerado, em tese, mais seguro do que o ABS, este atrelado a ativos de empréstimos a pessoas físicas e jurídicas, incluindo, por exemplo, cartão de crédito e venda de veículos.
Para serem comprados pelo BCE, os títulos devem ser, entre outras coisas, operados apenas no bloco, em euro e com país emissor na zona da mesma moeda. Já os bônus cobertos devem ser emitidos por instituição de crédito da área do euro e ser liquidada dentro dela.
A economista Azad Zangana, da gestora de fundos britânica Schroders, ressaltou que medidas excepcionais como as anunciadas ontem refletem a apreensão com o futuro da zona do euro.
"A mensagem clara é que a política monetária na Europa vai continuar frouxa por muito tempo, em contraste com a dos Estados e do Reino Unidos, mercados que esperam crescimento na taxa de juros no próximo ano", afirmou.