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Europa corre para convencer banqueiros a aceitar calote

Angela Merkel prometeu conversar com cada banco na tentativa de costurar um acordo | Georges Gobet/AFP
Angela Merkel prometeu conversar com cada banco na tentativa de costurar um acordo (Foto: Georges Gobet/AFP)

Em reuniões cercadas pela tensão, os líderes europeus entraram numa dura negociação com os maiores bancos do mundo para convencê-los a aceitar um calote de 100 bilhões de euros da dívida grega, mas chegaram à conclusão de que terão de apelar para China, Brasil e outros emergentes para ajudar no plano de blindagem da Europa, já que os bancos resistiam ao calote.

A cúpula da União Europeia de ontem foi a 14.ª em apenas 21 me­­ses. Dessa vez, a promessa era de que seria decisiva. Mas o único acordo atingido entre os 27 países até o fim da noite de ontem determinava que os bancos vão ter de elevar o capital próprio (indicador que mede a saúde financeira, co­­mo a capacidade de realizar em­­préstimos e resistir a choques) para 9% dos ativos até junho de 2012. Nos mais recentes testes de estresse dos bancos, a exigência era de 5%.

As posições antagônicas ainda prevaleciam no início da madrugada da quinta-feira (horário europeu – noite de ontem no Brasil), sem decisões até o fechamento desta edição. O ponto mais crítico era a situação grega. Enquanto os líderes negociavam uma posição comum, os executivos dos maiores bancos debatiam como justificar o calote de mais de 50% de sua exposição sobre a dívida grega, proposto por França e Alemanha para salvar o euro.

Parte central dessa estratégia seria convencer os bancos a aceitar a moratória no pagamento dos gregos por quase uma década. Ontem, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmavam que estavam dispostos a buscar cada um dos banqueiros para fechar o acordo. O objetivo era de que, até 2020, a Grécia sofresse uma redução da dívida em um terço, dos atuais 180% do PIB para 120%.

O desafio não se limitava a dar uma solução para a Grécia. Os europeus concordaram que o fundo de resgate – que hoje tem 440 bilhões de euros – teria de ser multiplicado por até quatro, e para isso terão de contar com a ajuda dos emergentes. A dificuldade era chegar a um acordo sobre a fonte desse fundo, que ultrapassaria 1 trilhão de euros. Merkel é contrária ao uso de recursos públicos ou do Banco Central Europeu para a captação, como queria a França.

A opção seria recorrer aos países emergentes e árabes para que contribuíssem com a estabilidade da Europa e, em consequência, do mundo. Hoje, Sarkozy deverá telefonar para o presidente chinês, Hu Jintao, para negociar a participação de Pequim no resgate. Mas Paris sabe que essa ajuda não sairá barata. Segundo o jornal China Daily, todos os países dos Brics já teriam dado sinal verde para participar do resgate, sempre que ocorra no âmbito de uma intervenção do FMI. O Brasil chegou a citar a compra de papéis da dívida europeia, mas abandonou o projeto ante a recusa dos demais emergentes. A tese mais aceita agora é a de reforçar o fundo em Washington.

Na sexta-feira, Klaus Regling, diretor da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF), viajará a Pequim para se reunir com potenciais investidores. "Blindar a Europa é a tarefa mais importante hoje", disse o primeiro-ministro belga, Yves Leterme. O premiê grego, George Papandreou, também vê o fundo como prioridade: "Sem isso, não há como pensar numa solução para a Europa", disse.

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