Juncker, do Eurogrupo, elogiou esforço de austeridade grego| Foto: Kacper Pempel/Reuters

Instituto sugere meio para Brics ajudarem Grécia

Washington - O Instituto para as Finanças Internacionais (IIF, em inglês), que está representando os bancos nas negociações sobre a dívida da Grécia, pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e às principais economias emergentes para apoiarem um plano que permitiria ao governo grego recomprar 20 bilhões de euros (US$ 27,6 bilhões) de sua dívida.

A ideia é que países como Brasil, Rússia, Índia e China, os chamados Brics, enviem recursos a uma nova conta no FMI. O dinheiro dessa conta seria emprestado à Grécia para permitir que o governo recompre os bônus da dívida soberana grega que estão nas mãos de credores privados. Somada aos programas de troca e rolagem de dívida, a proposta do IIF poderia reduzir a relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) da Grécia para 91% até 2020, ou para 82% caso o crescimento econômico seja mais forte que o esperado.

Preocupação

Participantes do mercado e até mesmo alguns representantes do FMI acreditam que a dívida da Grécia não é sustentável e veem cada vez mais chances de um default do país. Se os gregos conseguirem diminuir o nível de endividamento, no entanto, também reduziriam as preocupações com a possibilidade de uma moratória, o que por sua vez ajudaria a baixar o custo dos empréstimos tanto para a Grécia quanto para outros países europeus com grande volume de dívidas, como Itália, Espanha e Portugal.

O IIF já apresentou o plano à diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e a alguns representantes dos principais países emergentes. Hung Tran, diretor do departamento de mercados de capital do IIF, disse que a proposta foi bem recebida pelos Brics, que "demonstraram um pensamento aberto e pediram mais informações".

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Londres - Cresce a percepção de que os bancos da Europa precisarão de socorro da mesma forma que as instituições financeiras dos Estados Unidos no pós-Lehman Brothers. Analistas veem chances de criação de um mecanismo europeu equivalente ao Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês), que permitiu suporte governamental de US$ 700 bilhões ao JPMorgan, Bank of America e Citigroup, entre outros. Há inclusive receio de que seja necessária nacionalização na França, também como ocorreu no Reino Unido no auge da crise.

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A turbulência de 2008 trouxe à tona o lixo tóxico das hipotecas escondido nos balanços dos bancos. Agora, a preocupação é com as perdas referentes à exposição aos títulos dos países problemáticos da periferia da zona do euro. Diante desse receio, as instituições da Europa enfrentam dificuldades para tomar recursos em dólares, o que levou cinco grandes bancos centrais a anunciarem anteontem uma ação coordenada para oferecer liquidez.

A medida é vista como alívio de curto prazo, já que não resolve a raiz do problema dos fundamentos dos bancos. "O medo é que a crise soberana cause perdas que ameacem a solvência", disse Henrik Arnt, analista de crédito do Danske Bank. "O esforço dos bancos centrais trata os sintomas e não as causas da crise", afirmou Jane Foley, estrategista-chefe de câmbio do Rabobank.

No longo prazo, outras medidas devem ser necessárias, acredita Ivo Pezzuto, professor do Swiss Management Center University, de Zurique. Para ele, será preciso isolar a indústria bancária para evitar o contágio de um potencial calote da Grécia e criar um mecanismo europeu de resgate como o americano Tarf, além de outras ações coordenadas. "Isso mostra que os testes de estresse realizados pelos bancos não são muito confiáveis", disse Pezzuto, referindo-se aos resultados favoráveis obtidos nas provadas feitas neste ano.

"Há cada vez mais comentários sobre um Tarf para os bancos europeus", afirmou Chris Turner, estrategista-chefe de câmbio do ING. Nesse caso, as instituições poderiam ser obrigadas a realizar injeções de capital, de forma a reduzir os receios no caso de um default mais profundo da Grécia. Ele acredita que os bancos estão em processo de desalavancagem neste momento, o que traz efeitos negativos para a atividade econômica. Turner também nota que instituições norte-americanas estão reticentes em emprestar recursos às europeias. Esse foi um mercado que secou após o colapso do Lehman Brothers.

Nova parcela de pacote grego fica para outubro

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Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, que reúne os ministros de Finanças da zona do euro, elogiou ontem o "renovado e firme comprometimento da Grécia" com seu programa de austeridade, mas afirmou que a decisão sobre a liberação da próxima parcela do pacote de resgate para os gregos será tomada apenas em outubro.

Segundo o plano de resgate, a Grécia deveria receber em setembro uma parcela de 5,8 bilhões de euros da zona do euro e 2,2 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas os problemas orçamentários do país atrasaram o pagamento, e os líderes europeus já disseram que os gregos não receberão a quantia se as metas não forem atingidas. "A concretização de todas as metas que foram determinadas é essencial", disse ontem o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet.

Além disso, a implementação de um segundo pacote de auxílio para a Grécia, aprovado pela cúpula da zona do euro em 21 de julho, ainda é nebulosa. A Finlândia insiste em exigir dos gregos um colateral pela sua participação no plano, o que é criticado por outros membros do bloco. Juncker comentou ontem que os governos da zona do euro concordam que aqueles que estão exigindo garantias devem pagar "um preço apropriado" por isso, mas disse que as negociações ainda estão em andamento.